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No Rio, Paes distribui nas escolas "Banco Imobiliário" que exalta suas obras

Prefeitura diz que jogos, que custaram R$ 1 mi, ajudam em aulas de geografia e matemática; MP investigará - Reprodução
Prefeitura diz que jogos, que custaram R$ 1 mi, ajudam em aulas de geografia e matemática; MP investigará Imagem: Reprodução

Felipe Martins

Do UOL, no Rio de Janeiro

22/02/2013 06h00Atualizada em 22/02/2013 13h29

Para o estudante da rede municipal de educação não ir à “falência” e fazer fortuna basta investir em empresas e obras da Prefeitura do Rio.  É assim o jogo Banco Imobiliário – Cidade Olímpica, onde obras da administração do prefeito Eduardo Paes são destacadas. A prefeitura adquiriu da fabricante de brinquedos Estrela cerca de 20 mil jogos, num investimento superior a um milhão de reais.

No tabuleiro são destacadas intervenções de Paes na cidade como a Transcarioca, via ainda em construção que ligará a zona oeste ao Aeroporto Tom Jobim, as Clínicas da Família e os corredores de ônibus, conhecidos como BRTs. O jogo, contudo, não deixa de fazer menção aos monumentos turísticos tradicionais da cidade como Cristo Redentor, Maracanã e Pão de Açúcar.

Segundo a Secretaria Municipal de Educação o jogo será distribuído em todas as escolas da cidade e também serão distribuídos como premiação para alunos que atingirem bom desempenho em avaliações do Município e na Prova Brasil.

O coordenador do Sepe (Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação), Alex Trentino, reagiu com indignação ao novo brinquedo. “Esse jogo é um absurdo. Se gastou mais de um milhão com 20 mil jogos para fazer propaganda política do governo. Vamos entrar no Ministério Público pra saber de onde veio esse dinheiro. Enquanto a prefeitura investiu no jogo, a realidade das escolas do município é completamente caótica. Estamos em fevereiro cidade em 40 graus e em qualquer escola da cidade há problemas de ventilação. Não existe ar condicionado em nenhuma escola da prefeitura”, protestou.

Procurada pela reportagem do UOL, a Estrela, fabricante do brinquedo, informou que foi a empresa que procurou a prefeitura para produzir a versão do Banco Imobiliário. A Estrela diz ainda que não tem conhecimento de quem faz as obras na cidade e viu como oportunidade a produção de um jogo com o Rio como tema em razão da proximidade dos Jogos Olímpicos.

Ainda segundo o fabricante, o jogo deve chegar ao mercado em maio custando entre R$89 e R$99.

Em nota, a Secretaria Municipal de Educação informou ainda que para confeccionar o jogo, a Estrela entrou em contato com a Prefeitura, apresentando o projeto de um banco imobiliário sobre o Rio de Janeiro, uma vez que já havia feito outras edições com temáticas setorizadas. Foram adquiridos cerca de 20 mil jogos, num investimento total de R$ 1.050.748.

Ainda segundo a nota, nas escolas da rede municipal, o jogo está sendo disponibilizado aos alunos nas Salas de Leitura. Os professores, segundo a secretaria, podem utilizar o jogo de forma pedagógica, uma vez que disciplinas, como Geografia, História e Matemática, e temas transversais, como a preservação cultural da cidade, podem ser trabalhados com os alunos. Ainda segundo o órgão, pelo jogo, os professores também mostram aos alunos a cidade a partir de uma visão mais contemporânea.

 MP e vereadores querem explicação

O Ministério Público tomou conhecimento do jogo e, por meio de nota, informou que vai analisar se há propaganda de ações da prefeitura do Rio no jogo Banco Imobiliário, da Estrela. Ainda de acordo com a nota, o assunto será distribuído a uma das oito Promotorias de Justiça de Tutela Coletiva de Cidadania, a quem caberá decidir sobre possível instauração de inquérito para apurar o caso.

Na Câmara Municipal, um grupo de vereadores solicitou, por meio de requerimento, informações à prefeitura sobre o jogo. “Nesse documento nós estamos questionando esse tipo de compra e a ausência de licitação”, disse o vereador e ex-prefeito da cidade César Maia (DEM).