Para pesquisadora, programa da prefeitura de SP é "contraditório"
Na opinião da pesquisadora Márcia Aparecida Jacomini, as mudanças propostas para a rede municipal de São Paulo são "contraditórias". A docente da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), no campus Guarulhos, estuda a rede municipal paulistana e o sistema de ciclos e progressão continuada há mais de dez anos.
Segundo ela, que tomou conhecimento do "Mais Educação São Paulo" por meio da reportagem do UOL, instituir provas bimestrais, obrigatoriedade de lição de casa e oferecer ao professor um banco de questões para a prova são medidas de controle em "procedimentos secundários".
"Eu tiro a autonomia do professor [sua "autoria" no processo] e acho que ele vai formar um aluno autor?", diz Márcia se referindo ao "Ciclo Autoral" criado pelo programa e que abrange os 7º, 8º e 9º anos.
O recado dado pelas propostas soam assim para a professora do departamento de Educação da federal paulista: "É como se dissesse que o professor será mero aplicador do currículo". A ideia, para ela, é uma "visão equivocada" uma vez que "há limite para o controle do professor". Afinal, se ele é "incapaz de tudo isso, eu não vou resolver o problema que é de ensino e aprendizagem".
A pesquisadora questiona o quanto essas ações podem realmente melhorar a qualidade da educação. "Posso transformar o boletim [que deverá ser enviado aos pais ou responsáveis a cada dois meses] em mera formalidade. Qual é a chance de isso acontecer? 90% [de chance de isso acontecer]", diz Márcia.
Progressão continuada existe há 21 anos na rede municipal de São Paulo
"O ensino na rede municipal de ensino de São Paulo foi organizado em ciclos em 1992, na gestão da prefeita Luiza Erundina de Souza, filiada então ao PT (Partido dos Trabalhadores). Nesse período, o ensino fundamental de oito anos passou a ter três ciclos: ciclo 1, 1º , 2º e 3º anos; ciclo 2, 4º, 5º e 6º anos e ciclo 3, 7º e 8º anos. Em 1998, na gestão de Celso Pitta, o ensino foi reorganizado em dois ciclos: ciclo 1, correspondendo aos quatro primeiros anos do ensino fundamental, e ciclo 2, aos quatro últimos anos."
Reprovação é solução?
Jacomini acredita que a possibilidade de reprovar o aluno em cinco momentos (em vez de dois) deve encontrar adesão de muitos professores -- esse é um dos principais pontos do programa em termos pedagógicos.
Mas ela questiona se reprovar vai ajudar o aluno a aprender melhor. Ainda segundo ela, há estudos que demonstram que a reprovação é recorrente (ou seja, um aluno que reprova uma vez tende a ser retido outras vezes) e que estudantes reprovados têm as notas mais baixas em avaliações externas.
Sua conclusão após mais de uma década de pesquisa é de que a reprovação não faz com que o aluno aprenda mais e melhor. O simples fato de refazer, de rever o conteúdo não garante a aprendizagem.
Em outra pesquisa, Márcia averiguou por que os pais e os alunos são tão favoráveis à ideia de reprovação. Realizada em 2005, o levantamento mostrou que a retenção é vista como um jeito de controlar a qualidade do ensino -- mesmo que muitos dos entrevistados tenham admitido que refazer as séries não os ajudou (ou não ajudou seus filhos) a aprender.
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