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Na Unesp, alunos usam 'amigos virtuais' para treinarem idiomas

Cláudia Emi Izumi

Do UOL, em São Paulo

21/08/2013 06h00

Em encontros virtuais, universitários praticam idioma com estrangeiros e melhoram sua fluência oral. Desde 2006, a Unesp (Universidade Estadual Paulista) adotou o projeto Teletandem Brasil, em que alunos encontram parceiros de universidades do exterior para trocarem conhecimentos do idioma.

Utilizando aplicativos de voz, imagem e vídeo, como Windows Live Messenger ou Skype, dois participantes se encontram online em horários pré-combinados. Durante uma hora ou menos, o brasileiro conversa em outro idioma. Depois, é a vez de o parceiro falar em português.

A troca melhora a fluência e aumenta a confiança do estudante em se comunicar oralmente em outro idioma, afirma a professora de inglês Suzi Marques Cavalari, da Unesp de São José do Rio Preto.

Antes de entrar no curso de Letras da Unesp em Assis, Jaqueline Tomazinho Carvalho, 23, havia estudando espanhol durante três anos, mas “só tinha a bagagem teórica”. “Na graduação, me indicaram o Teletandem, e foi aí que comecei a realmente a falar espanhol, perdendo o medo de cometer erros.”

No teletandem, Jaqueline conversou com uma sueca e com americanos que estudavam espanhol, com cubanos que vivem nos Estados Unidos, uruguaios, mexicanos e argentinos. Alguns deles, inclusive, viraram seus amigos e ainda mantêm contato com ela.

“Há vezes em que o outro lado não está entendendo muito bem, mas dá para enviar link, foto ou vídeo para ilustrar e explicar o que você está falando. Isso é o legal.”

Já os alunos mais tímidos se saem tão bem assim? A professora Cavalari diz que sim. “A experiência mostra que os mais retraídos se beneficiam enormemente porque se sentem mais à vontade ao conversar com uma única pessoa. É uma conversa privada que funciona muito bem para eles.”

Aprendizado autônomo

O projeto, idealizado pelo professor João Telles, tem mais de 350 alunos distribuídos pelos campi de Assis, Araraquara e São José do Rio Preto da Unesp. Vale destacar que o conceito do aprendizado recíproco não é um chat e nem um intercâmbio online.

“O que a gente propõe é uma aprendizagem colaborativa. No intercâmbio presencial, os alunos vão a escolas, estudam por métodos tradicionais com professores e livros e interagem no resto do dia em um aprendizado informal. O Teletandem não é isso. É a preparação do aluno para aprender de maneira autônoma e a usar a ferramenta em beneficio próprio, aproveitando seu conhecimento linguístico durante as interações, ouvindo o que o parceiro está precisando e oferecer isso a ele.”

Do participante que deseja melhorar seus conhecimentos em um idioma, exige-se muito comprometimento e autonomia para honrar o pacote fechado em comum acordo. Isso significa definir o tempo de cada conversa, marcar encontros online com antecedência, fazer correções, estabelecer tarefas extras, definir temas para discussões (música, festas, comida, cultura etc.) e, principalmente, metas de aprendizado de cada um.

“O mais importante é ser capaz de traçar seus próprios objetivos. Não tem muito significado chegar às interações sem nada planejado”, opina Lucas Constantine Gagliardi, 22, aluno da Unesp de São José do Rio Preto.

“A vantagem do Skype são os recursos de áudio, escrita, foto e vídeo. Você é quem escolhe usar o método ao qual se adequa melhor”, conta ele, que selecionava muitas notícias dos EUA e do Brasil para incentivar a conversa.

Lucas já estudou inglês por meio de duas parcerias do Teletandem, mas a primeira não foi tão bem sucedida por causa dos horários incompatíveis dos participantes.

Agendas conflitantes

Casos de agendas que não batem, parceiros que não dão retorno, faltam ao encontro online, não propõem assuntos para conversar ou problemas técnicos com o computador (áudio ruim, por exemplo) são alguns dos aborrecimentos encontrados.

Para driblar esses percalços, os pares devem trabalhar juntos desde o início do relacionamento, que começa com trocas de mensagens por e-mail para saber “como é” o outro e se a parceria pode dar certo.

O estudante brasileiro precisa também aprender a ser aluno de uma língua estrangeira, aceitando as correções e as intervenções, e assumir o papel de orientador de português ao mesmo tempo, sem ser do tipo ditador. “É difícil ensinar português para estrangeiros. Eles traduzem ao pé da letra, desconhecem o contexto e você tem que buscar meios para explicar tudo isso”, diz Leticia Montezelo, 21, estudante da Unesp de São José do Rio Preto.