Com nome sujo no Serasa, professor temporário reclama de atraso no salário
Alguns professores temporários da rede estadual de ensino de São Paulo já tiveram o nome incluído em cadastros de inadimplentes porque os salários atrasaram. Os docentes ouvidos pelo UOL contaram que todo início de contrato é preciso fazer malabarismo para manter as contas em dia. A reportagem acompanhou a atribuição de aulas (escolha das turmas e escolas) da rede estadual de São Paulo na última quinta (23), quando conversou com esses professores.
“Em 2012 as aulas começaram em fevereiro e eu recebi só em junho. Morava sozinha, tive que pegar empréstimo e fiquei com o nome sujo”, diz a professora de língua portuguesa Thaís Alves, 28. “Este ano eu sei que vai acontecer novamente, então eu fiz umas economias, guardei o 13º e agora tem o salário do meu marido”, conta.
A resposta das DREs (Diretorias Regionais de Ensino) para o atraso, dizem os professores, é sempre parecida: problemas no preenchimento do cadastro pela escola ou a perda de alguma documentação no caminho escola-DRE-secretaria. Boa parte do processo para o pagamentos desses professores temporários ainda é manual, o que facilita os problemas causados por falhas durante o processo, segundo os temporários.
“Este mês eu não tenho certeza se vou receber”, afirma Jacqueline Marinho, 22, professora de sociologia desde o ano passado na rede estadual de SP. Em 2013, as aulas começaram em fevereiro, mas o salário só entrou na conta da docente em julho. “A sorte é que moro com a minha mãe”, conta.
Outro temporário da rede estadual de SP que não quis se identificar diz que o mesmo aconteceu com ele em 2013, quando o primeiro salário do ano foi pago só em maio. “A sorte é que moro com a minha mãe e muito perto da escola, então não precisava pagar a condução, mas mesmo assim meu nome foi para o Serasa”, diz o professor de química.
O problema é que com a quantidade de aulas —um temporário pode trabalhar até 32 horas/aulas semanais— muitos docentes não conseguem outras formas de complementar a renda. O jeito é usar as economias, pedir dinheiro emprestado ou eliminar os carnês de prestação, contam os docentes. Se o professor ficar com toda a carga horária possível, o salário médio é de R$ 2.200.
“Em 2012, tive que pedir dinheiro emprestado para a condução. Minha mãe pagava o aluguel e meu noivo também ajudou. Hoje sei que não dá para pegar prestação por muito tempo”, diz Izabel de Souza, 28, professora de português.
Outro problema relatado é que os salários são depositados de uma só vez e o desconto de imposto de renda, retido na fonte, leva em conta o montante recebido. “Por isso demora muito tempo para reequilibrar as finanças”, afirma uma docente.
Com o início de um novo ano letivo, os temporários da rede já se preparam para possíveis atrasos e para as variações salariais durante o ano. “O salário sobe e desce, não dá pra fazer dívida grande”, diz uma professora de português. Isso acontece porque os temporários muitas vezes ocupam vagas de substituição e só recebem de acordo com a quantidade de aulas que lecionam no mês.
Amor pela profissão
Apesar da montanha-russa salarial, todos os entrevistados pretendem continuar na profissão. “A gente gosta do que faz. É estimulante quando você vê que está contribuindo para a vida de alguém, que pelo menos um dos 40 alunos se interessou e aprendeu de verdade”, afirma Izabel.
“Eu gosto de ensinar, de ser útil. Já trabalhei na rede particular, mas na pública o aluno precisa mais e tem uma carência afetiva também”, diz Ellen Fernandes, 29, professora de ciências e biologia.
Procurada pela reportagem, a Secretaria de Educação de SP disse estar apurando as falhas nos processos de pagamentos dos professores.
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