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Tema da redação do Enem 'adiado' foi tão difícil quanto o do primeiro, diz professor

Ana Carla Bermúdez

Do UOL, em São Paulo

04/12/2016 19h33

Os candidatos que fizeram as provas da segunda edição do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) 2016 neste domingo (4) tiveram de fazer uma redação sobre o tema “Caminhos para combater o racismo no Brasil”.

Segundo o Inep, a proposta de redação trazia quatro textos motivadores: um que tratava da condição do homem negro; um artigo de lei tipificando o preconceito de raça ou de cor como crime; uma peça publicitária que distingue o racismo de injúria racial; e uma definição acerca do que são ações afirmativas. 

Apesar da impressão de muitos candidatos, o tema de hoje não foi mais fácil do que o tema do Enem aplicado em novembro –“Caminhos para combater a intolerância religiosa no país”. É o que defende o professor Thiago Braga, do Sistema de Ensino pH.

“Considerar esse tema mais fácil está ligado ao fato de ser um tema que aparece mais no cotidiano, mas muitas coisas imprecisas sobre ele acabam ainda sendo ditas por ser um tema que está no senso comum. Discordo que seja um tema mais fácil”, explica.

O professor afirma que, para fazer uma boa redação, o candidato deveria abordar o respeito às necessidades étnicas, a necessidade da percepção de igualdade e ainda sugerir ações afirmativas que possam trazer o equilíbrio entre brancos e negros na sociedade.

“É bastante importante falar da necessidade de ações afirmativas, principalmente em relação ao legado negativo da escravidão no Brasil –legado esse que existe ainda na nossa sociedade. Em termos históricos, a escravidão no Brasil ainda é recente”, ressalta o professor.

Para ele, o Enem acertou ao escolher o tema. “Trata-se de um assunto absolutamente relevante para a sociedade brasileira. É uma discussão que tem de ser feita, e ela precisa ser feita com os jovens”.

Braga também acredita que a banca do Enem teve a preocupação em manter uma simetria entre os temas aplicados hoje e em novembro, pois “os dois tocam em pontos semelhantes”.

Foi mais fácil, afirma professora

Já Maria Aparecida Custódio, professora do Curso e Colégio Objetivo, discorda da impressão do professor. Para ela, o tema sobre racismo foi mais fácil do que o de intolerância religiosa.

“A intolerância religiosa é algo novo no Brasil. Isso começou a ser debatido há mais ou menos três anos no país. A questão do racismo vem sendo debatida há séculos –temos, inclusive, datas como o dia da Consciência Negra, por exemplo. O preparo dos alunos em relação ao racismo é muito maior”, diz a professora.

Para ela, o candidato deveria tomar cuidado para não fazer apenas denúncias, deixando de apresentar uma proposta para a resolução do problema.

Para levantar possíveis intervenções, a professora conta que o candidato deveria refletir: “Qual o papel do Estado? Qual o papel da escola? Será que a escola não acaba, muitas vezes, estimulando o racismo? A mídia também tem um papel importante e continua reforçando estereótipos: a negra é sempre a empregada, e o negro, subalterno”.

Uma boa proposta de intervenção, para ela, seria o enrijecimento da legislação contra crimes raciais.

Maria Aparecida também destaca a importância de se considerar os direitos humanos nos argumentos e na proposta elaborada. “O candidato precisaria tomar cuidado com a questão das cotas, por exemplo. Posicionar-se contra as cotas vai contra os direitos humanos, além de ser fruto de um desconhecimento da história, da dívida que a sociedade tem com os negros”, diz a professora. A violação dos direitos humanos na redação do Enem zera a nota do candidato nessa prova.