Topo

Alta nas notas do Enem deve acirrar disputa para cursos de exatas no Sisu, dizem professores

Ricardo Matsukawa/UOL
Imagem: Ricardo Matsukawa/UOL

Mirthyani Bezerra

Do UOL, em São Paulo

18/01/2018 17h13Atualizada em 18/01/2018 19h59

Cresceu a nota média dos participantes do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) de 2017 nas áreas de Matemática e Ciências da Natureza, e caiu o desempenho médio de Linguagens e Códigos e Ciências Humanas em relação a 2016. O resultado deve influenciar as notas de corte dos cursos oferecidos pelas universidades por meio do Sisu (Sistema de Seleção Unificado), na opinião de coordenadores pedagógicos de cursinhos ouvidos pelo UOL, já que as instituições costumam dar peso maior às áreas de acordo com o curso em questão.

O Inep divulgou nesta quinta-feira (18) as notas máximas e mínimas, assim como os desempenhos médios dos participantes da edição do ano passado do Enem. As inscrições para o Sisu foram adiantadas, e estarão abertas entre 23 e 26 de janeiro. 

Para Vinícius de Carvalho Haidar, coordenador pedagógico do Poliedro, o impacto do crescimento ou queda da média das notas pode ser positivo ou negativo para os candidatos. “Se o curso tem um peso maior para Ciências da Natureza e Matemática, vão ser mais altas as notas necessárias para entrar. Já notas para as carreiras de ciências humanas tendem a cair e pode ficar mais fácil passar”, afirma.

O coordenador pedagógico do Anglo, Madson Molina, concorda com essa avaliação. “Se de fato a média aumentou para alguma área de conhecimento, isso vai fazer grande diferença na hora de concorrer às vagas no Sisu”, disse.

Para ele, agora é hora de o aluno, já de posse das notas, começar a avaliar em quais cursos ele entraria com elas.

Marcelo Dias, coordenador do Curso Etapa, aconselha o estudante a entrar no site da universidade que deseja estudar e verificar o sistema de pontuação dela para o curso que ele quer cursar.

“Vamos supor ele que quer tentar na [Universidade] Federal de Santa Catarina, ele tem que olhar lá e, digamos, no site da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) e comparar as duas. Levando em consideração que o Sisu é um sistema de leilão e que o capital é a nota dele, ele precisa ver em qual das duas teria mais condições de passar”, explica.

Madson Molina lembra que há ferramentas online que permitem simulações desse “mercado de vagas” em relação ao que foi ofertado nos anos anteriores. “Ele pode entrar, colocar as suas notas e ver cenários, probabilidades. Claro que esses modelos são de anos anteriores e podem mudar completamente, mas é bom para ter uma base.”

Mudanças estruturais podem ter influenciado notas

Tanto Haidar como Molina acreditam que a reestruturação das provas nos dois dias de exame e a realização do Enem em dois domingos pode ter influenciado nos desempenhos médios dos participantes.

As provas de Linguagem e Códigos, Ciências Humanas e Redação foram realizadas no dia 5 de novembro, já as de Matemática e Ciências da Natureza foram no domingo seguinte, dia 12 de novembro. “Na minha avaliação, é que a mudança da prova para dois domingos, o primeiro com matérias de humanas e a redação e o segundo com as exatas, muito provavelmente pode ter influenciado”, afirma Molina.

Haidar lembrou que “as que caíram um pouco” foram feitas junto com a redação. “Pode ser um fator que influenciou”, disse, mas fez a ressalva: “Olhar só as médias é complicado. Tem que ver se aumentou a diferença, se mais pessoas acertaram mais, se mais acertaram menos, se a grande maioria acertou igual. Essa distribuição é importante para entender o perfil da prova”, disse.

Familiaridade com tema da redação foi problema

Sobre o desempenho médio dos participantes na redação, Haidar e Molina afirmaram que o tema teve forte influência na diminuição do desempenho médio, no aumento da quantidade de redações zeradas e na diminuição das redações nota mil.

O tema da redação do Enem 2017, "Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil", foi alvo de críticas -- os estudantes afirmavam pelas redes sociais que o assunto "não tinha nada a ver" e que "era impossível falar sobre isso" – e considerado um tema difícil por professores.

“Quando o tema não é muito direto, quando ele não faz parte do cotidiano do aluno, é mais fácil ele fugir ao tema”, disse Molina.

Para ele, diferentemente do que acontece com outras partes da prova, cuja avaliação do desempenho está fundamentada na TRI (Teoria de Resposta do Item), “a redação é elemento que compõe o arcabouço de testes mais sensível ao próprio tema”.

“Se [o participante] não consegue se situar, acaba indo para um lado distante do que foi pedido. O número de redações nota mil também caiu e isso pode ter a ver com o aumento de alunos fugindo do tema”, diz Haidar.

Dias não concorda. Para ele, como o participante tinha à sua disposição textos para dar suporte à sua redação, ele não tiraria zero, mesmo se o tema fosse mais difícil. “Poderia ter tirado uma nota mínima, mas zero é discrepante.”

Marcelo Dias acredita que uma das causas pode estar no perfil do aluno. “Pode ser uma diferença de amostragem. O aluno de 2016 é diferente do de 2017. Pode ser que tenha tido um problema de formação. Seria necessária uma pesquisa detalhada para afirmar o motivo”, disse.