Estudantes retomam protestos, e ministro diz que professores coagem alunos
Convocados por ao menos três entidades do movimento estudantil, alunos de todo o país retomam hoje as manifestações contra os congelamentos na educação, sob acusação do ministro da Educação, Abraham Weintraub, de que há "coação" por parte de professores pela participação dos estudantes nos atos.
Estamos recebendo aqui no MEC [Ministério da Educação] cartas e mensagens de muitos pais de alunos citando explicitamente que alguns professores, funcionários públicos, estão coagindo os alunos e que serão punidos de alguma forma caso eles não participem das manifestações
Abraham Weintraub, em vídeo ontem nas redes sociais
A fala foi divulgada pelo ministro na noite de ontem, na véspera dos protestos, em suas redes sociais.
"O MEC está fazendo um esforço muito grande para que o ambiente escolar não seja prejudicado por uma guerra ideológica que prejudica o aprendizado dos alunos", disse o ministro, que pediu que alunos enviassem à pasta relatos dessas supostas coações.
Redes sociais e entidades estudantis
Convocados pela UNE (União Nacional dos Estudantes), pela Ubes (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas) e pela ANPG (Associação Nacional de Pós-Graduandos), as manifestações se espalharam, a exemplo das que ocorreram há quatro dias em apoio ao governo de Jair Bolsonaro (PSL), pelas redes sociais.
Até a noite de ontem, no Facebook havia eventos com mais de 10 mil pessoas que se registraram como "confirmadas" em ao menos quatro capitais: São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba e Porto Alegre.
O ato acontece quatro dias após uma manifestação de apoio a Bolsonaro e a pautas de interesse do governo, como a reforma da Previdência. Apesar da proximidade com o evento bolsonarista do último domingo, as associações negam que o objetivo seja "medir força" e dizem que a pauta é a mesma de 15 de maio, quando estudantes foram às ruas de todos os Estados e do Distrito Federal.
"Objetivamente, o que a gente tem são pesquisas sendo paralisadas, é universidade sem condições de encerrar seu ano letivo", diz Flávia Calé, presidente da ANPG.
'Idiotas úteis'
Há duas semanas, ocorreu o primeiro grande protesto enfrentado pela gestão de Jair Bolsonaro, que chamou os manifestantes de "idiotas úteis". "Em vez de servir para que o governo pudesse reverter os cortes, nós fomos altamente desrespeitados pelo presidente da República", diz Marianna Dias, presidente da UNE.
Na semana seguinte aos protestos, o governo federal atuou para evitar um segundo corte na educação, transferindo R$ 1,6 bilhão de uma reserva orçamentária para o MEC.
Marianna afirma que os protestos de hoje são contra a política educacional do governo e não representam uma tentativa de "rivalizar" com o ato promovido por apoiadores do presidente. "Não é pelo impeachment de Bolsonaro", diz. "O nosso protesto já estava convocado".
Para Flávia, os atos representam um esforço em construir uma aliança da sociedade em defesa da educação e da ciência para evitar um "colapso" do sistema educacional no país.
Cerca de R$ 5,8 bilhões do orçamento do MEC estão hoje contingenciados. A medida, segundo o governo federal, é necessária para o cumprimento da meta fiscal.
O impacto acontece nos chamados recursos discricionários (que cobrem gastos com obras, luz e água, mas não com salários) e se estende desde a educação infantil até a pós-graduação. Nas universidades federais, reitores dizem temer que o bloqueio faça com que as instituições fechem as portas no segundo semestre.
Com CUT, sem escolas particulares
Centrais sindicais como CUT (Central Única dos Trabalhadores), CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação) e entidades que representam professores de escolas públicas e particulares também convocaram os servidores a paralisar as atividades hoje. Mas, diferentemente da última manifestação, colégios particulares de São Paulo não vão aderir.
O DCE (Diretório Central dos Estudantes) da UnB (Universidade de Brasília), cuja atual gestão se define como liberal, também não anunciou adesão ao ato.
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