Salário de professor no Brasil é "horrível", diz ex-presidente do Inep
O salário do professor brasileiro da rede pública é "horrível", define umas das maiores especialistas em educação no país. "É muito importante o salário, e ele é horrível", diz a pesquisadora Maria Inês Fini, em entrevista ao UOL. Ela é ex-presidente do Inep (Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), que organiza o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio).
Maria Inês comentou o atual piso salarial do professor, de R$ 2.557 por mês, e levantamento da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômica) divulgado na terça-feira (19) que mostra os rendimentos do magistério no Brasil nas últimas posições entre os países pesquisados (veja abaixo). A pesquisa Talis da OCDE, da qual Maria Inês participou, analisa as condições de ensino e do magistério no mundo.
"Os países devem fazer o magistério mais atrativo financeira e intelectualmente", destaca comunicado da pesquisa. O objetivo deve ser atender à "crescente demanda mundial por professores de alta qualidade". "Atrair os melhores e mais brilhantes para a profissão será essencial para garantir que os jovens receberão as habilidades que necessitarão para serem bem-sucedidos no mundo do trabalho do amanhã", defende a organização que concluiu o levantamento em 2018 e o divulgou nesta semana.
Salário baixo não é único problema no Brasil
Segundo Maria Inês Fini, além do salário, há outros dois problemas básicos na educação brasileira: as condições de trabalho e a formação dos professores.
São jornadas muito pesadas de trabalho, as condições de trabalho são péssimas.
Maria Inês Fini, ex-presidente do Inep
"O professor em São Paulo tem três empregos para ter um salário digno. Ele não pode se dedicar a uma única escola, ao mesmo grupo de alunos, convive menos com a família. Com isso, o rendimento dele vai caindo."
Maria Inês foi uma das fundadoras da Faculdade de Educação da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). Ela entende que a formação de professores tem que ser mais pragmática e menos teórica. Do contrário, ela diz que se acabam formando "ministros da Educação" em vez de professores.
"A formação inicial dos professores é absurda. A gente vivia formando 60 ministros da Educação por ano, e nenhum professor, porque nunca ensina para o professor o que ele tem que ensinar para ao aluno", critica. "É uma grande discussão teórica, grande teoria revolucionária, mas muito pouco instrumental."
A assessoria da OCDE enviou ao UOL um documento complementar à pesquisa que exibe uma relação de salários com 48 países estudados pela organização. Os valores dos rendimentos são analisados conforme o nível de ensino --da educação infantil ao ensino médio-- e a experiência do profissional.
No ensino infantil, o Brasil está na 30ª posição entre 33 países em que a organização conseguiu coletar informações sobre salários do magistério. Nos ensinos fundamental e médio, os brasileiros ocupam a última posição entre os 40 países em que há dados salariais.
Salário de professor pelo mundo
Valores do ensino médio*, em US$ por ano**
País --- Salário inicial --- Salário no topo da carreira
1º. Luxemburgo --- US$ 79.551 --- US$ 138.279
2º. Suíça --- US$ 71.249 --- US$ 109.240
3º. Alemanha --- US$ 63.866 --- US$ 92.386
Média da OCDE --- US$ 34.943 --- US$ 59.639
Média da Europa --- US$ 33.871 --- US$ 58.736
40º. Brasil --- US$ 13.971*** --- sem informação
*No Brasil, os salários dos ensinos infantil, fundamental e médio são os mesmos.
**A OCDE fez a conversão em dólar considerando o poder de compra de cada país.
***O atual piso nacional do magistério no Brasil é de R$ 2.557 por mês.
Fontes: OCDE e Ministério da Educação. Elaboração: UOL
O levantamento da OCDE aponta que, há dois anos, professores de escolas públicas do país ganhavam, em média, US$ 13,9 mil por ano --a organização considerou o poder de compra de cada país no estudo. De acordo com o Inep, o valor foi obtido pela OCDE a partir do envio pelo instituto do valor do piso nacional da educação em vigor em 2017 (R$ 2.298,80). O Inep pondera, contudo, que o valor apurado pela OCDE em 2017 é maior do que o atual em razão de variações cambiais.
Os números da OCDE indicariam que os rendimentos do magistério no Brasil não crescem ao longo da carreira, como ocorre em outros países. Mas a assessoria do Inep diz que não há informações consolidadas e centralizadas sobre quanto os profissionais recebem nos diversos estados e prefeituras à medida que ganham experiência. O próprio levantamento da OCDE aponta disparidades regionais de remuneração no país.
Ainda assim, os resultados obtidos no Brasil mostram que o Brasil está bem atrás dos países pesquisados. Neles, a média salarial dos professores iniciantes é duas vezes e meia maior. Nos países da OCDE, o rendimento médio inicial dos professores foi de mais de US$ 30 mil por ano para a educação infantil. Para os do ensino médio, quase US$ 35 mil anuais em relação aos profissionais iniciantes.
Luxemburgo, pequeno país da Europa, lidera a lista de melhores salários. Um professor iniciante da educação infantil recebe US$ 70 mil por ano, o equivalente a R$ 20.788 por mês, considerando-se a cotação do dólar de hoje.
Com 15 anos de carreira, um docente dos primeiros anos do ensino fundamental ganha US$ 109 mil anuais, ou R$ 32.498 por mês.
No ensino médio ou nas séries finais do ensino fundamental, um professor iniciante em Luxemburgo recebe mais de US$ 79 mil por ano, o equivalente a R$ 23 mil por mês. Se estiver com alta experiência e qualificação, ou seja, no topo da carreira, receberá US$ 138 mil por ano, ou R$ 40 mil por mês.
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