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Em ato contra cortes na educação em SP, esquerda retoma verde e amarelo

Rodrigo Lucas e Mariara Cruz na manifestação na avenida Paulista, em São Paulo, cercados por bandeiras do Brasil - Bernardo Barbosa/UOL
Rodrigo Lucas e Mariara Cruz na manifestação na avenida Paulista, em São Paulo, cercados por bandeiras do Brasil Imagem: Bernardo Barbosa/UOL

Bernardo Barbosa

Do UOL, em São Paulo

13/08/2019 18h52Atualizada em 13/08/2019 19h35

Depois de manifestações anti-PT e pró-governo de Jair Bolsonaro (PSL) dominadas pelo verde e amarelo, estudantes de esquerda decidiram carregar hoje em São Paulo bandeiras do Brasil nas mãos e as cores dela no rosto.

A linha de frente do ato na capital paulista contra os cortes do governo federal na educação estava repleta de jovens caras-pintadas, em imagem que lembrava as manifestações pelo impeachment do então presidente Fernando Collor em 1992.

Um dos integrantes desta linha de frente era o estudante de psicologia Rodrigo Lucas, para quem chegou a hora de os estudantes retomarem estes símbolos. Com o rosto pintado, ele foi um dos que balançou, na concentração do protesto, uma bandeira do Brasil com um trecho do Hino Nacional: "Verás que um filho teu não foge à luta".

"Tem muitas medidas que o Bolsonaro está fazendo que vão afetar a vida do povo para pior, como a reforma da Previdência. Talvez seja o momento de retomar o que os caras-pintadas fizeram na década de 90, retomar essa bandeira para aqueles que defendem o povo, demonstrando que os verdadeiros patriotas estão desse lado da luta, e não do lado dos cortes na educação, na saúde", afirmou.

Para o estudante, uma iniciativa do governo que vai contra o povo é o Future-se, projeto voltado para a captação de recursos privados para as universidades federais e que prevê a contratação de OSs (organizações sociais) para geri-las. Junto com os cortes, o projeto foi um dos principais alvos dos manifestantes em várias partes do Brasil hoje.

"O Future-se é um projeto de privatização da universidade, na nossa opinião, e que vai dificultar ainda mais o acesso do povo à universidade pública", disse.

Segundo Mariara Cruz, da Juventude Pátria Livre, a ideia de usar o verde e amarelo foi debatida pelos integrantes de movimentos estudantis como a UNE (União Nacional dos Estudantes) e a Umes (União Municipal dos Estudantes Secundaristas).

"A gente colocou em pauta, disse que era o momento para retomar o verde e amarelo, também lembrando os caras-pintadas, e retomar algo que o Bolsonaro usa de forma oportunista", disse.

Símbolos a serviço de "reacionários"

O presidente da UNE, Iago Montalvão, também trouxe para o ato sua bandeira do Brasil. Ele confirmou que a volta dos caras-pintadas tem a ver com uma busca por retomar o uso dos símbolos nacionais.

Presidente da UNE, Iago Montalvão participa da manifestação em São Paulo - Yuri Salvador/UNE - Yuri Salvador/UNE
Presidente da UNE, Iago Montalvão participa da manifestação em São Paulo
Imagem: Yuri Salvador/UNE

"Hoje, há uma tentativa de colocar esses símbolos a serviço de determinado grupo reacionário. Nós não concordamos com isso. A UNE sempre defendeu a soberania brasileira. A educação precisa servir ao povo brasileiro, e não a interesses estrangeiros", afirmou.

Para Montalvão, o governo Bolsonaro "entrega nossas riquezas para os estrangeiros".

"A universidade, inclusive, com o projeto do Future-se. O que se propõe é que empresas estrangeiras financiem as universidades para obter o conhecimento produzido ali. Então, é uma disputa do que a gente considera como Brasil. O nosso Brasil é o Brasil que valoriza as riquezas para seu próprio povo."

Além de carregar uma bandeira nacional, Montalvão vestia com uma camisa com o rosto do estudante Fernando Santa Cruz, desaparecido durante a ditadura militar e pai do presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Felipe Santa Cruz. Bolsonaro recentemente atacou Felipe ao dizer que poderia contar a ele como o pai desapareceu na ditadura.

"A gente vê hoje muitas ameaças à democracia, às organizações estudantis, e nós não podemos deixar que nosso país volte a ser um regime militar. Não vamos deixar a UNE ser clandestina de novo. Vamos lutar até o fim pelo direito de ir para a rua, e o Fernando Santa Cruz era um estudante que lutava por esse direito. Nós não vamos aceitar que o presidente da República ofenda a memória de, esse sim, um herói brasileiro", disse Montalvão.

O verde e o amarelo não foram as únicas cores do protesto em São Paulo. Entre centenas de cartazes e adesivos contra os cortes na educação e o Future-se, os manifestantes também carregavam bandeiras de movimentos estudantis e de partidos de esquerda como PDT, PSOL e PCO. Completavam o cenário placas e cartazes pedindo a liberdade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT); balões com símbolos de sindicatos, como o dos bancários e dos professores, e de centrais sindicais, como a CUT (Central Única dos Trabalhadores) e CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil).

Apesar da presença maciça de entidades contrárias às políticas do atual governo, havia aparentemente menos gente nas ruas hoje em São Paulo do que nas manifestações contra os cortes na educação realizadas em maio. Policiais militares que acompanhavam o protesto informaram não ter estimativa do número de manifestantes.

"A primeira manifestação foi a mais impactante porque foi quando os cortes aconteceram. Hoje, a gente tem visto uma sustentação massiva da mobilização de rua, e isso é muito difícil de acontecer. Nem 2013 conseguiu sustentar por tanto tempo uma mobilização tão grande. Isso demonstra a disposição do povo em se organizar de forma orgânica. Nós não vamos parar enquanto não formos atendidos", afirmou Montalvão, anunciando que a UNE deve convocar novo protesto contra os cortes para o dia 7.