Insatisfeitos com regras, pais procuram escolas com mais aulas presenciais
Famílias com filhos em colégios particulares têm priorizado instituições com ensino presencial em São Paulo. A estrutura física e a quantidade de aulas que o aluno pode frequentar por semana são alguns dos motivos levados em conta na hora de escolher uma nova escola.
Liz não se concentrava de forma alguma no ensino remoto. Não conseguia ficar na frente do iPad e sempre perguntava se estava acabando a aula.
Ariella Pio, mãe de Liz, 4
Ela, que é diretora de uma creche pública, disse que tirou a filha da escola particular em maio do ano passado.
Com a liberação das aulas presenciais e percebendo que a filha não iria se acostumar ao modelo online, ela rematriculou a menina no Colégio Santa Maria. "Não tem comparação o aprendizado presencial, ter contato com outras crianças. Ela é outra criança", diz Ariella.
Segundo o colégio, a procura por vagas na educação infantil aumentou em decorrência da oferta de aulas presenciais, que acontecem todos os dias para as crianças de três a cinco anos. Em relação a dezembro de 2020, o colégio aumentou em 67% o número de crianças nessa faixa etária.
Uma empresária conta que tem buscado uma escola que ofereça mais dias no ensino presencial. Isso porque ela e seu marido, administrador de empresas, não conseguem ficar com a filha de quatro anos por muitos dias. "Temos muitas reuniões externas e temos feito um planejamento para dar conta, mas, se tem escolas aceitando os alunos todos os dias, nós vamos matricular ela lá", explicou, pedindo para não ser identificada.
O UOL confirmou que houve aumento de matrículas em ao menos sete escolas: Anglo SP, Bandeirantes, Brasil Canadá, Franciscano Pio XII, Humboldt, Mary Ward e Santa Maria.
Para garantir os protocolos sanitários estipulados pelo Plano São Paulo e o limite de 35% dos alunos, o Santa Maria recebe, em média, sete alunos por grupo e usa as áreas externas para fazer atividades.
Menos rodízio e mais dias presenciais
O Bandeirantes informou que o aumento na procura se deve aos fatos da "escola ter optado pela continuidade do ensino presencial, mas também pelo sólido modelo de aulas remotas".
Na maioria dos colégios ouvidos pela reportagem, o aumento em buscas por matrículas aconteceu na educação infantil e nos anos iniciais, para as turmas de alfabetização. "Entendemos que esse aumento veio da notícia de que estávamos dando aulas diariamente para estas séries [educação infantil e 1º ano]", disse o colégio Franciscano Pio XII.
Já a escola Brasil Canadá disse ter percebido uma procura por pais que têm filhos em "escolas muito grandes" e com isso têm "pouca possibilidade de ensino presencial por conta do rodízio entre turmas". É o caso de uma administradora de empresas, que pediu anonimato.
Sua filha está no 1º ano do ensino médio de uma unidade do Colégio Visconde de Porto Seguro, em São Paulo, e faz rodízio com outros dois grupos de alunos para garantir o limite de 35% dos alunos. "Me juntei com outros pais e vimos que as bolhas de alunos estavam vazias, estavam com um, dois, às vezes nenhum estudante, então pedimos para que a escola reduzisse para dois grupos em vez de três", explicou a mãe.
No entanto, segundo ela, a direção não acatou o pedido de fazer uma pesquisa para entender quem gostaria de participar das atividades presenciais. "Estou descontente, então estou procurando outras escolas que possam oferecer um ensino presencial melhor para minha filha", disse.
Nas turmas de alfabetização e no 3º ano do ensino médio, o rodízio contempla dois grupos de alunos.
Em nota, o Colégio Visconde de Porto Seguro disse que está cumprindo as regras do governo estadual de atender presencialmente 35% dos alunos matriculados. "Todos os pais foram informados da norma governamental", concluiu.
As aulas presenciais estão liberadas desde o dia 12 de abril, quando o estado de São Paulo saiu da fase emergencial. A abertura das escolas municipais e particulares depende de decisões das prefeituras, no caso da paulista também foi autorizada.
Na rede pública, as escolas devem priorizar alunos com necessidades de aprendizagem ou filhos de pais que trabalham em serviços essenciais. Já nos colégios particulares deve-se respeitar o limite de 35% dos alunos matriculados e os protocolos sanitários como uso de máscara, álcool gel e distanciamento de carteiras.
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