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Prefeitura descumpre promessa e só 4,5% das salas de aula são digitais

Equipamentos comprados não foram instalados e ficam estocados na EMEF Paulo Gongalo dos Santos, zona sul de São Paulo - Arquivo pessoal
Equipamentos comprados não foram instalados e ficam estocados na EMEF Paulo Gongalo dos Santos, zona sul de São Paulo Imagem: Arquivo pessoal

Ana Paula Bimbati

Do UOL, em São Paulo

05/09/2021 04h00

Internet, computador, projetores com tela e caixas de som. Esses foram os equipamentos prometidos pela Prefeitura de São Paulo para as 12 mil salas de aula da rede municipal, que teriam tudo instalado no final do ano passado. Até o momento, porém, só 540 salas estão prontas.

O projeto, nomeado Escola Digital, foi anunciado antes da pandemia do novo coronavírus com o objetivo de tornar as escolas "menos analógicas". Em 2019, o então secretário municipal de Educação, Bruno Caetano, afirmou que esses instrumentos ficariam "à disposição dos professores, em todas as unidades, desde as creches às escolas de Ensino Médio".

A prefeitura desembolsou R$ 90 milhões para comprar esses equipamentos. Ao UOL, a Secretaria Municipal de Educação afirmou que a "instalação das demais [salas] está sendo realizada de acordo com as adequações na infraestrutura elétrica e de rede para receber todos os equipamentos".

Localizada na zona Sul de São Paulo, a Escola Municipal Paulo Gonçalo dos Santos é uma das unidades que não tem nenhuma sala com os equipamentos instalados até agora.

Segundo um professor, os materiais chegaram no começo do ano, mas continuam estocados. A direção não pode contratar o serviço de instalação, segundo ele, porque a prefeitura já pagou para outra empresa executar a tarefa.

Profissionais de educação afirmam não haver previsão para a conclusão do projeto. Com o revezamento das turmas com o retorno das aulas presenciais, os professores contam que os equipamentos instalados poderiam auxiliar na aprendizagem dos alunos, já que quem está em casa poderia assistir à mesma aula que acontece na sala presencial.

As escolas Felício Pagliuso e Maria Lisboa da Silva, ambas na zona Leste da capital, também continuam com os materiais estocados e guardados nas caixas. Na primeira, os equipamentos chegaram em novembro do ano passado, um mês antes do prazo de instalação prometido.

Em nota, a gestão Ricardo Nunes (MDB) creditou o atraso aos "desafios causados pela pandemia" e afirmou que "avançou com a aquisição e a distribuição dos equipamentos, assim como adaptações estruturais quando necessário".

A prefeitura destacou, ainda, que investiu R$ 600 milhões em tablets e chips para alunos da rede municipal. Mas esses equipamentos também chegaram com atraso. Os aparelhos deveriam ter sido distribuídos até 31 de agosto, mas, até a última sexta-feira (3), mais de 50 mil ainda não haviam sido entregues aos alunos.

Além disso, conforme o UOL noticiou, os equipamentos apresentam problemas e a manutenção chega a demorar dois meses. Outros estudantes não conseguem usar o chip oferecido pela prefeitura, porque na região onde moram não há sinal de internet da operadora.

Um dos professores disse que o projeto é "fantástico", mas, assim como com os tablets, houve uma "morosidade" da prefeitura em colocar em prática. Outros funcionários contaram que as salas das escolas poderiam ficar como os espaços de colégios particulares, "bem preparados"

Em nota, a gestão de Ricardo Nunes (MDB) não deu previsão e disse que a "instalação das demais [salas] está sendo realizada de acordo com as adequações na infraestrutura elétrica e de rede para receber todos os equipamentos".

Segurança nas escolas

Não há dúvidas entre a comunidade escolar sobre a importância desses equipamentos e da tecnologia para melhorar a aprendizagem. Mas professores relataram que é importante a prefeitura criar projetos que ampliem a segurança nas escolas públicas também pela possibilidade de furtos.

Com equipamentos como esses, os funcionários acreditam que a escola chama mais a atenção para ser furtada ou roubada. Dados obtidos pelo UOL, via Lei de Acesso à Informação, apontam que até julho deste ano, a prefeitura registrou 31 furtos em escolas e outras nove tentativas malsucedidas.

O número pode ser considerado alto, já que em relação a todos os meses de 2020 foram registrados 40 furtos e 10 tentativas. Vale lembrar que durante o ano passado as escolas ficaram a maior parte do tempo fechadas por conta das medidas de restrição da circulação do novo coronavírus.

Em 2019, com as escolas abertas, foram registrados 34 furtos e seis tentativas. A prefeitura, em nota, afirmou que as escolas citadas não registraram ocorrência de furto ou vandalismo no último ano.

A Secretaria Municipal de Segurança Urbana disse também que todas as escolas recebem "patrulhamento preventivo feito pela GCM (Guarda Civil Metropolitana) com rondas em período integral".

Um novo sistema de segurança, segundo a prefeitura, está sendo construído em parceria com as pastas da Segurança e Educação. A proposta é que as unidades passem a ser monitoradas com "sistemas de vigilância integrados às Inspetorias de Divisão nas regiões e à Central de Telecomunicações da GCM, dinamizando o atendimento de ocorrências e o planejamento preventivo".