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Sem vacina, alunos não querem voltar às aulas presenciais em SP

Adolescentes dos 12 aos 17 anos, do estado de São Paulo, começam a ser vacinados a partir do dia 18 de agosto, próxima quarta-feira - iStock
Adolescentes dos 12 aos 17 anos, do estado de São Paulo, começam a ser vacinados a partir do dia 18 de agosto, próxima quarta-feira Imagem: iStock

Ana Paula Bimbati

Do UOL, em São Paulo

16/08/2021 04h00

Com a primeira dose da vacina contra a covid-19 prevista para as próximas semanas, parte dos alunos de colégios em São Paulo decidiu não retornar para as aulas presenciais enquanto não receber a imunização.

As muitas horas dentro de uma sala de aula com várias pessoas, aumentando assim as chances de exposição ao coronavírus, são o principal motivo apontado pelas famílias que decidiram continuar no ensino remoto.

"Prefiro tomar as duas doses da vacina e esperar talvez até o ano que vem, para dar tempo de todo mundo tomar a vacina e fazer efeito também", diz a aluna Bárbara Beck Belli, de 16 anos, do Colégio Internacional Ítalo Brasileiro, em Moema.

O governo estadual confirmou na semana passada o início da vacinação dos adolescentes para o dia 18 de agosto, próxima quarta-feira. O público representa cerca 3,2 milhões de pessoas. Assim como foi para os adultos, a imunização será feita por etapas, começando pelas pessoas de 16 e 17 anos.

Bárbara conta que a decisão foi tomada em conjunto com seus pais. "Tivemos casos [de contaminação] na nossa família, e a gente vê, na própria mídia, que muitas pessoas chegaram em um nível avassalador da doença. Tenho medo também", acrescenta a estudante.

Seu colégio está recebendo 100% dos alunos todos os dias, conforme autorizou o governo do estado no início do mês. Para isso, as escolas precisam cumprir o distanciamento de um metro entre os estudantes, além do uso de máscaras e álcool em gel.

Para Luis Rogério Duarte, coordenador do Ensino Médio da instituição, um dos pontos positivos da tecnologia é facilitar o contato entre alunos e professores. "Onde quer que estejam, mantendo assim o vínculo educacional", afirma.

No colégio Pentágono, apenas 6% dos alunos decidiram não retornar ao presencial. Dentro dessa estatística estão os filhos da advogada Andrea Salomão.

"Foi uma escolha da família e estamos confortáveis com ela. Hoje o grupo que tem maior probabilidade de contaminação é o dos mais jovens, então na minha opinião é um contrassenso colocar as crianças dentro da escola."

Já no caso do aluno João Ricardo Travaglin, 16, do Colégio Mater Dei, a decisão de continuar no remoto partiu dele mesmo. "Meus pais autorizaram, mas estou desde o início da pandemia em casa e agora aguardo a primeira dose."

Mesmo com todos os protocolos, para Andrea, não é possível, no momento, ter 100% de segurança que os filhos não serão contaminados pelo vírus.

João e os filhos de Andrea dizem que se adaptaram ao ensino remoto. "Claro que tem a parte sociável, que foi prejudicada e nada substitui a escola. Mas hoje é o melhor caminho", diz a advogada.

O Pentágono diz em nota que o aluno que mantém as atividades a distância recebe "todo o suporte pedagógico necessário, além do incentivo para que abra sua câmera e participe das atividades em grupo".

O colégio Mater Dei afirma que "entende e atende as necessidades dos alunos, com um olhar empático, e permite que seus estudos sejam continuados".

Esvaziar as ruas para quem não pode ficar em casa

A arquiteta e ilustradora Cristina de Cássia Paulo diz acreditar que a escolha de seguir com as atividades no ensino remoto deve ser tomada para auxiliar quem não pode ficar em casa e, assim, cumprir o distanciamento social.

"Não temos horizonte da pandemia, de como as coisas vão ficar, e sempre bato na tecla de que o prejuízo é para quem vai trabalhar. Acredito que podemos esvaziar as ruas para quem não pode ficar em casa, para quem não tem condições de estudar em casa", defende a arquiteta, que é mãe da Raquel, de 17 anos, e João, 10, ambos alunos do colégio Equipe.

Segundo ela, os filhos se adaptaram ao remoto e, com todos os equipamentos e internet necessários, conseguem concluir as atividades escolares.

"Permitir que eles participem das aulas presenciais significa uma contradição para mim, que sempre falo de empatia e de entender nossos privilégios", diz Cristina.

Segundo a diretora do colégio, Luciana Fevorini, há outras famílias que decidiram continuar no remoto. Por causa de sua estrutura física, a instituição não consegue receber todos os alunos no mesmo dia e cumprir o distanciamento de 1 metro. Dessa forma, tem feito revezamento entre as turmas.