Topo

SP: Com casos de covid, professores reclamam de demora para suspender aulas

EMEF Vargem Grande, na zona sul da capital paulista, teve três casos de covid-19 confirmados na última semana - Reprodução
EMEF Vargem Grande, na zona sul da capital paulista, teve três casos de covid-19 confirmados na última semana Imagem: Reprodução

Ana Paula Bimbati

Do UOL, em São Paulo

03/07/2021 04h00

Professores de duas escolas municipais de São Paulo criticaram a maneira como a Prefeitura está lidando com os casos suspeitos ou confirmados de covid-19 nas escolas. Com a autorização do governo estadual para receber mais alunos em agosto, os educadores temem que o risco de contaminação do coronavírus aumente.

Em nota, a Prefeitura afirmou que as secretarias de Educação e de Saúde fazem "um trabalho conjunto visando o controle da transmissão da covid-19 na comunidade escolar".

Na Escola Municipal Ulysses da Sylveira Guimarães, no Jardim Santa Fé, zona sul da capital, um professor relatou, na condição de anonimato, que, até o fim da semana passada, havia três funcionários afastados com a confirmação da doença e outros quatro com suspeita. Apesar disso, não há qualquer investigação, segundo o educador, para saber quem teve contato com essas pessoas, nem a possibilidade de fechar a escola para quarentena.

Um documento da Prefeitura afirma que ao confirmar ou suspeitar de caso em uma escola, além de afastar o infectado, é preciso investigar quem esteve próximo dele. A capital define como contato próximo quem:

  • Esteve a menos de 1,5 metro de distância, por um período mínimo de 15 minutos
  • Teve um contato físico direto (por exemplo, apertando as mãos)
  • Seja contato domiciliar ou residente na mesma casa/ambiente (dormitórios, creche, alojamento, entre outros)
  • Permaneceu junto por pelo menos o tempo de uma aula (45 minutos), independentemente do uso de máscara ou das condições de ventilação da sala.

Todos os contactantes devem, segundo esse documento, realizar quarentena de 14 dias. No entanto, segundo professores da EMEF Ulysses da Sylveira Guimarães, isso não tem ocorrido. Os casos suspeitos só são afastados a partir da manifestação de dois sintomas.

Para o infectologista Evaldo Stanislau, do Hospital das Clínicas de São Paulo, qualquer sintoma deve ser levado em conta.

Considero a educação presencial uma atividade essencial, mas para isso acontecer precisamos criar condições e garantir que tudo aconteça conforme o protocolo."
Evaldo Stanislau, infectologista

O protocolo da gestão de Ricardo Nunes (MDB) considera "surto de síndrome gripal dois ou mais casos suspeitos ou confirmados com vínculo epidemiológico entre si (entre o mesmo período de incubação)".

Sem informações, os professores temem trabalhar contaminados e aumentar a transmissão do vírus.

Na Escola Municipal Vargem Grande, também na zona sul, o problema apontado pelos professores foi o tempo de quarentena. Até o fim de junho, a unidade havia confirmado três casos de covid em funcionários. Mas demorou a definir a suspensão das atividades presenciais —e o fez com data retroativa.

No comunicado, enviado a professores e pais na segunda-feira (28), a direção informa que a Diretoria Regional "permitiu o fechamento parcial da escola por 14 dias a partir do 2° caso de covid confirmado, porém com data retroativa a 17/6. Sendo assim, os alunos ficarão em atividades remotas e parte dos servidores em teletrabalho em princípio até 30/6".

Segundo a prefeitura, um sistema de acompanhamento da rede municipal é feito pelas UBSs de referência das escolas. "As EMEFs Vargem Grande e Ulysses da Sylveira Guimarães seguiram os mesmos protocolos como determinado pela saúde", justificou o município, sem dar detalhes.

Para os professores, o afastamento não significa muito, já que outros funcionários e até alunos podem manifestar sintomas nos próximos dias. Segundo um educador, que também aceitou falar com a reportagem na condição de anonimato, há funcionários almoçando dentro do carro para evitar ficar sem máscara perto de outras pessoas.

Países como a Coreia do Sul têm recomendado que a alimentação nas escolas seja feita em silêncio e com acrílicos ajudando no distanciamento de alunos. "A alimentação é o momento de maior risco. É preciso protocolos rigorosos, um espaço com troca de circulação do ar e manter o distanciamento", sugere o infectologista Stanislau.

Ele defende que as redes "pequem pelo excesso" nesse momento. "É mais seguro fechar e monitorar os casos do que esperar um aumento nas contaminações".

A gestão municipal afirma que todas as escolas passam por análises e, em caso de suspeita, as UBSs colaboram tirando dúvidas e dando os possíveis encaminhamentos.

Dobra número de mortes entre funcionários da Educação, diz Dieese

Balanço do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) apontou um aumento de 128% no número de contratos encerrados na educação por morte.

Foram 1.479 desligamentos por morte nos primeiros quatro meses deste ano contra 650 no mesmo período de 2020. Não se sabe a causa das mortes, mas o Dieese ressalta que a maioria dos óbitos aconteceu em "três estados com maiores taxas de mortalidade por covid-19: Rondônia, Amazonas e Mato Grosso".

Ficamos no escuro com dados de covid nas escolas, diz especialista

O UOL pediu para a Secretaria Municipal de Educação dados de covid nas escolas da rede, como o número de turmas com atividades suspensas e quais as regiões da cidade mais afetadas. Pela assessoria de imprensa da pasta, o pedido foi negado, alegando que as diretorias regionais são responsáveis por esse balanço. Via Lei de Acesso à Informação, a reportagem recebeu como resposta que o dado era de responsabilidade da Saúde.

A pasta da Saúde, entretanto, disse não haver "disponibilidade da informação solicitada por meio dos sistemas disponíveis".

Segundo Wallace Casaca, coordenador do Info Tracker e professor da Unesp (Universidade Estadual Paulista), os dados de covid nas escolas são os mais difíceis de encontrar.

Não tem dado para política pública. Além de não ter dados para ajudar nas tomadas de decisão, os pais ficam no escuro, porque não sabem a situação pandêmica. Pesquisadores não podem se debruçar e estudar esses dados."
Wallace Casaca, coordenador do Info Tracker

Em nota, a Secretaria Estadual da Educação afirmou que "mantém compromisso com a transparência" e disponibilizou os dados em formato de planilha. "A lista disponibilizada tem o cuidado de preservar a identidade dos indivíduos registrados, conforme a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais" e, por isso, os dados são anonimizados.

Casaca, porém, critica a forma como o estado disponibilizou os dados de covid nas escolas no Boletim Epidemiológico da Educação. Para ele, o ideal seria saber informações como idade, região de cada caso suspeito ou confirmado e datas de contaminação.