Exclusão de microdados do Censo Escolar é inadmissível, criticam entidades
Entidades ligadas à educação e pesquisa nacionais criticaram hoje a exclusão dos microdados do Censo Escolar pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira). A nota assinada por 33 grupos diz que a atitude da autarquia é inadmissível dificultará a avaliação e elaboração de políticas públicas na área.
No último sábado (18), o Instituto vinculado ao Ministério da Educação tirou do ar toda a série histórica com dados do Censo e do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) antes de 2020. O órgão alegou adequação à Lei Geral de Proteção de Dados.
Na manifestação, as associações dizem que a justificativa é "genérica" e não tem fundamento legal. "A própria LGPD deixa claro que a administração pública pode realizar o tratamento de dados pessoais necessários ao cumprimento de obrigação legal e execução de políticas públicas, sem que para isso seja necessário o prévio consentimento do titular destes dados", escreveram.
Os microdados do Censo costumavam trazer informações detalhadas sobre os alunos e professores da educação básica, enquanto os do Enem esmiuçavam a situação dos participantes da prova. A riqueza de detalhes auxiliava na formação de políticas públicas educacionais.
Para as entidades, a medida traz prejuízo à transparência. "Sem tais dados, não somente retrocedemos imensamente em termos de transparência da administração pública, como também teremos um impacto incomensurável em termos de avaliação educacional, que impede a elaboração de políticas públicas que respondam às necessidades da população".
Eles citam também que, sem essas informações, será impossível medir o impacto da pandemia sobre a educação nacional.
"O apagamento de dados significa, por fim, o apagamento dos direitos à educação e a tantos outros de nossas crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos do país. Nos últimos anos, o Inep tem sofrido com sucessivos desmontes de sua estrutura, que afetam a capacidade da autarquia ligada ao MEC de cumprir suas funções, isso quando não é alvo de intervenções político-ideológicas", concluem, citando o processo do Enem de 2021.
Os signatários da nota são:
- Abalf - Associação Brasileira de Alfabetização
- ABEH - Associação Brasileira de Pesquisa em Ensino de História
- ABPEE - Associação Brasileira de Pesquisadores em Educação Especial
- Ação Educativa
- Anaí - Associação Nacional de Ação Indigenista
- ANFOPE - Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação
- Anpae - Associação Nacional de Política e Administração da Educação
- ANPEd - Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação
- Anpof - Associação Nacional de Pós-Graduação em Filosofia
- Campanha Nacional pelo Direito à Educação
- Cedeca-Ceará - Centro de Defesa da Criança e do Adolescente do Ceará
- Cedes - Centro de Estudos Educação e Sociedade
- CENDHEC - Centro Dom Helder Camara de Estudos e Ação Social
- Conaq - Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos
- CNTE - Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação
- FEPETI-AP - Fórum Estadual de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil do Amapá
- Fineduca - Associação Nacional de Pesquisa em Financiamento da Educação
- FORPARFOR - Fórum Nacional de Formação de Professores da Educação Básica
- Forpibid-rp Fórum Nacional de Coordenadores do Pibid e do Residência Pedagógica
- Inesc - Instituto de Estudos Socioeconômicos
- LDE - Laboratório de Dados Educacionais
- MST - Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
- Nzinga - Coletivo de Mulheres Negras de Minas Gerais
- Observatório do Ensino Médio
- OKBR - Open Knowledge Brasil
- Projeto Mandacaru-Malala
- Rede EMPesquisa - Pesquisas sobre Ensino Médio
- Repu - Rede Escola Pública e Universidade
- SBEM - Sociedade Brasileira de Educação Matemática
- SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia
- SBEnQ - Sociedade Brasileira de Ensino de Química
- Sefras - Serviço Franciscano de Solidariedade
- SimCAQ - Simulador de Custo Aluno-Qualidade
Inep diz que apagão é para impedir identificação
Em nota, o Inep disse que o formato de apresentação dos arquivos "foram reestruturados para suprimir a possibilidade de identificação de pessoas, em atendimento às normas previstas na Lei n.º 13.709, de 14 de agosto de 2018 (Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais - LGPD)." A autarquia falou ainda que tirou do ar a série histórica do Censo e do Enem para que os arquivos sejam adequados ao novo formato, "tendo em vista o atendimento às normas da LGPD".
Leia abaixo a nota do Inep na íntegra:
"Os microdados do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2020 e do Censo Escolar da Educação Básica 2021 estão disponíveis, desde a última sexta-feira, 18 de fevereiro, no portal do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). O formato de apresentação do conteúdo dos arquivos, que reúnem um conjunto de informações detalhadas relacionadas à pesquisa estatística e ao exame, foram reestruturados para suprimir a possibilidade de identificação de pessoas, em atendimento às normas previstas na Lei n.º 13.709, de 14 de agosto de 2018 (Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais - LGPD).
A reformulação promovida pelo Inep alterou a estrutura que era utilizada na consolidação dos microdados, de forma a agregar ou retirar variáveis que favoreciam a reidentificação de indivíduos no contexto atual, com uso de recursos tecnológicos disponíveis. As mudanças anunciadas fazem parte de um trabalho desenvolvido para adequar os processos e produtos do Instituto às normas da legislação. Nesse sentido, a Autarquia continuará a promover pesquisas e estudos para avaliar alternativas que permitam a ampliação progressiva da utilidade desse produto de disseminação de dados e assegurem, ainda, a privacidade dos titulares dos dados da pesquisa, além de garantir a transparência nas divulgações, como o desenvolvimento de painéis dinâmicos de informação.
Tendo em vista o atendimento às normas da LGPD, os arquivos dos microdados das edições anteriores do Enem e do Censo Escolar disponibilizados anteriormente no portal do Inep, bem como dos demais exames e avaliações, foram retirados para que sejam adequados ao novo formato.
As pesquisas com a utilização dos dados tratados pelo Inep, eventualmente restringidos nos microdados, entretanto, não estão inviabilizadas. Entre os diversos meios de acessar as informações produzidas pelo Instituto está o Serviço de Acesso a Dados Protegidos (Sedap), que possibilita o uso de bases restritas por pesquisadores. Para tanto, as pesquisas devem observar o protocolo do serviço, que pode ser consultado no portal do Inep."
*Com Estadão Conteúdo
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.