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Por que D. Pedro proclamou a Independência e depois virou rei em Portugal?

Estátua de D. Pedro 1º no Porto, em Portugal - Lira Neto/UOL
Estátua de D. Pedro 1º no Porto, em Portugal Imagem: Lira Neto/UOL

Matheus Brum

Colaboração para o UOL

08/09/2022 14h11

O Brasil celebrou o bicentenário da Independência do Brasil, e a figura de Pedro de Alcântara foi exaltada. Na condição de príncipe regente, foi ele quem proclamou a independência e, três meses depois, foi coroado como imperador do Brasil, recebendo a alcunha que é conhecido no país: D. Pedro 1º.

Mas o reinado dele foi um período marcado por conflitos no país. Um deles foi a questão sucessória.

Ele virou imperador no final de 1822, mas no dia 10 de março de 1826 o pai, D. João 6º, rei de Portugal, morre aos 59 anos —de causas até hoje pouco claras, sendo que alguns historiadores tratam como morte natural e outros apontam envenenamento por arsênio.

Após o falecimento do rei, um novo deveria ser nomeado. Por ser o filho mais velho vivo, D. Pedro 1º, então imperador do Brasil, deveria ser coroado como rei em Portugal.

Isso causou apreensão nos dois países. Os portugueses temiam que um reinado de Pedro enfraquecesse o país em detrimento do Brasil. Já os brasileiros temiam que o mesmo chefe de Estado, nos dois países, diminuísse o crescimento econômico do país com uma reaproximação com a antiga metrópole.

Mesmo diante deste impasse, Pedro de Alcântara foi coroado rei de Portugal sob o nome de D. Pedro 4º. Ficou apenas dois meses no cargo, entre março e maio de 1826. E comandou o Brasil até 1831.

Diante dos problemas enfrentados nos dois países, D. Pedro, então, resolveu abdicar do trono em nome da filha Maria da Glória, na época com sete anos. Como era menor de idade, Pedro determinou que seu irmão, D. Miguel (tio de Maria), seria seu tutor, até que atingisse a maioridade, e que ambos deveriam se casar. Pedro também outorgou uma Constituição a Portugal, em 1826.

Maria da Glória foi enviada para Viena, capital da Áustria, para estudar e se preparar para assumir o Reino Português. No entanto. D. Miguel, com apoio da mãe Carlota Joaquina, resolveu rasgar o acordo com o irmão. Como era Regente, anulou a constituição e rejeitou a sobrinha como Rainha e noiva.

Abdicação no Brasil

Diante deste fato, D. Pedro ficou dividido entre os problemas do Brasil e de Portugal. Uma sucessão de erros políticos, como a Guerra da Cisplatina (que separou Uruguai do território brasileiro) e uma grave crise econômica no final da década de 1820, D. Pedro se viu pressionado a renunciar.

Em 7 de abril de 1831, D. Pedro 1º entrega a carta de renúncia e retorna para Portugal. No Brasil, deixa o Império nas mãos do filho Pedro, que anos depois seria coroado como D. Pedro 2º.

"Usando do direito que a Constituição me concede, declaro que hei muito voluntariamente abdicado na pessoa de meu muito amado e prezado filho o Senhor D. Pedro de Alcântara. Boa Vista, 7 de abril de mil oitocentos e trinta e um, décimo da Independência e do Império", diz a carta de renúncia do primeiro imperador brasileiro.

Guerra Civil portuguesa

Ao retornar a Portugal, D. Pedro se coloca ao lado dos liberais na Guerra Civil Portuguesa contra o seu irmão D. Miguel. Após quase dois anos de batalhas (1832-1834), o grupo liderado pelo antigo imperador brasileiro saiu vencedor.

Com a vitória na Guerra, D. Miguel é expulso de Portugal e passa a valer a Carta Constitucional, em 27 de maio de 1834. Em agosto do mesmo ano, D. Pedro assume como Regente, até a coroação de sua filha, Maria da Glória, como D. Maria 2ª, em 20 de setembro de 1834.

Quatro dias depois, D. Pedro morre vítima de tuberculose.

Fonte: "Dom Pedro e Dom Miguel — A querela da sucessão Volume 36", de Oliveira Lima