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Novo secretário ligado a Doria começou a entregar escola pública a empresas

Renato Feder foi CEO de empresa de tecnologia antes de assumir secretaria do Paraná - Divulgação
Renato Feder foi CEO de empresa de tecnologia antes de assumir secretaria do Paraná Imagem: Divulgação

Do UOL, em São Paulo

26/11/2022 04h00

Ligado ao ex-governador João Doria (sem partido), o futuro secretário de Educação do Estado de São Paulo, Renato Feder, 44, foi responsável por lançar, durante sua gestão no Paraná, um programa que prevê entregar a administração de 27 escolas públicas para a iniciativa privada do setor educacional.

Feder foi o primeiro secretário a ser anunciado pelo governador eleito Tarcísio de Freitas (Republicanos). O programa Parceiros da Escola lançado pelo empresário e professor, selecionou colégios com mais baixos resultados no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica).

A reportagem do UOL ouviu professores, especialistas e pessoas da secretaria do Paraná para saber como foi a gestão de Feder e o que esperar do seu comando em São Paulo —o que despertou opiniões conflitantes.

O que é o programa? A secretaria afirma que o Parceiros da Escola é um projeto-piloto e tem como foco melhorar a aprendizagem dos estudantes. A proposta é entregar à iniciativa privada os processos das áreas administrativa, financeira e estrutural das escolas. Entre as ações, está o fornecimento de merenda, uniforme e limpeza, entre outros.

Os requisitos para a empresa ser selecionada são: ter no mínimo 5 mil alunos por ano em suas instituições e comprovar que a média do Enem é acima de 550 pontos.

A capital paulista tem uma estrutura consolidada na educação infantil, a chamada rede conveniada, que são as creches geridas pela iniciativa privada. Relatórios do TCM (Tribunal de Contas do Município) já apontaram que a qualidade das creches conveniadas em São Paulo está abaixo das escolas vinculadas diretamente à rede municipal.

Parcerias público-privadas. No comando da pasta desde 2019, Feder aposta em parcerias com a iniciativa privada para melhorar a educação no Paraná. Até hoje, conseguiu digitalizar as escolas com computadores, kit de robótica e aplicativos.

Durante a pandemia, o estado foi um dos primeiros a criar um programa com aulas online. "Ele foi um bom secretário, mas os desafios de São Paulo são maiores. É uma rede maior, com uma inclusão digital menor e desafios de desigualdade maiores", afirma Claudia Costin, diretora do Ceipe (Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais) da FGV (Fundação Getúlio Vargas).

A visão da especialista não é a mesma de sindicatos da categoria. O edital que prevê passar a gestão de escolas para empresas, por exemplo, é visto como uma terceirização das escolas públicas.

"Ele traz para educação um modelo de gestão empresarial, onde um grupo muito pequeno tem a definição do que será implementado, e cabe aos demais cumprir o que foi estabelecido", critica a presidente do sindicato dos professores do Paraná, Walkiria Olegário Mazeto.

A reportagem entrou em contato com Feder para solicitar uma entrevista, mas ele informou que no momento não conversará com a imprensa.

Ideb e falta de professor. Um dos gargalos em São Paulo é melhorar o Ideb e foi exatamente o desempenho de Feder no estado que chamou a atenção da equipe de Tarcísio. O secretário conseguiu melhorar o desempenho do estado, que saiu de sétimo lugar em 2017 para primeiro, em 2022.

São Paulo tem grandes desafios no ensino médio e Feder assumirá a rede com um problema de falta de professores. Reportagem da Folha de S. Paulo mostrou que o tema preocupa a equipe de Tarcísio. A situação foi apertada neste ano por causa da ampliação das escolas integrais e da chegada do novo ensino médio —que prevê um aumento na grade de aula e, consequentemente, de docentes.

São Paulo tem um cenário desafiador e será preciso avançar na visão de educação integral, entender que é uma rede grande, mas preocupada com inovações. Será preciso também abrir o diálogo com toda categoria."
Claudia Costin, especialista em educação

Na gestão de Feder, o Paraná implementou o programa de escolas cívico-militares do próprio estado. A demanda foi atendida para agradar a ala conservadora e bolsonarista, mas é criticada por professores paranaenses. Em São Paulo, a possibilidade de ampliação do modelo preocupa professores.

A nossa avaliação é que foi uma gestão dificil, porque a gestão implementada pelo Renato Feder é muito diferente de uma gestão democrática."
Walkiria Olegário Mazeto, presidente do sindicato dos professores do Paraná

Quem é Renato Feder? Antes de assumir o comando da educação no Paraná em 2019, Feder foi CEO da Multilaser, empresa de tecnologia da qual ainda é sócio.

Aliado do ex-governador paulista João Doria (sem partido), ele chegou a ser cotado para chefiar o MEC (Ministério da Educação) após a saída de Abraham Weintraub. A proximidade com o ex-tucano, no entanto, fez o presidente Jair Bolsonaro (PL) voltar atrás.

O futuro secretário de educação de São Paulo já trabalhou na rede de ensino estadual em 2017, como assessor técnico.

Transição com aliados e setor privado. Feder integra a equipe de transição do governo de Tarcísio ao lado de diretores da secretaria do Paraná e também nomes ligados a fundações.

O empresário Jair Ribeiro, criador da organização Parceiros da Educação, é uma das pessoas anunciadas para o grupo. Filomena Siqueira, gerente de avaliação e material didático do Instituto Reúna, que trabalha com ações da BNCC (Base Nacional Comum Curricular), integra a equipe com André Simmonds, hoje na Uber, e com passagem na Fundação Lemann.

Gustavo Garbosa, diretor de tecnologia e informação da secretaria do Paraná durante a gestão de Feder, e Vinicius Neiva, diretor geral da secretaria paranaense, participam da equipe.