Foi no Dia da Mentira? Data do golpe militar tem disputa ideológica
O presidente João Goulart foi retirado do poder pelos militares há 59 anos — ou quase isso, a depender da fonte. Apoiadores do regime autoritário defendem que o golpe aconteceu em 31 de março de 1964, mas versões atestadas por historiadores afirmam que a derrubada de Jango aconteceu apenas em 1º de abril, mesmo que o plano tenha começado antes.
Os apoiadores do golpe querem desconectá-lo do 1º de abril por um motivo: a coincidência da data com o Dia da Mentira. A data simbólica fortaleceria falas de que os golpistas usaram justificativas falsas para tomar o poder, alegando desejarem salvar a democracia de uma suposta ameaça comunista quando, na verdade, cercearam a liberdade política por 21 anos.
No dia 31 já se espalhavam os boatos de "rebelião militar" e o DOPS tentava prender membros de sindicatos, mas soldados fiéis a Jango ainda resistiam. Em uma coluna do UOL, o jornalista Mário Magalhães demonstrou que, apesar das movimentações que aconteceram no dia, o golpe ainda era apenas uma ameaça no último dia de março.
Até meio-dia de 1º de abril, o presidente permanecia no Palácio das Laranjeiras, de onde fazia despachos presidenciais, sem ser ameaçado diretamente. Pouco depois, ele embarcou para Brasília, que já era capital federal, enquanto tropas de todo o país se encaminhavam para o Rio, onde Goulart centralizava suas atividades, para encurralá-lo.
Ainda no Dia da Mentira, Jango deixou Brasília, mas com destino a Porto Alegre: esse momento é considerado um marco de sua queda. Preocupados com o fato de que o golpe ocorreu no 1º de abril, oficiais teriam mentido sobre a invasão ao Forte de Copacabana, momento chave do golpe, afirmando em relatório que ela aconteceu no dia 31.
Semanas antes de ser derrubado, o presidente fez um discurso também no Rio de Janeiro determinando a reforma agrária. A decisão foi usada pelos militares como uma suposta prova de alinhamento com o comunismo.
Por que o dia da mentira é em 1º de abril?
A versão mais conhecida é de que a data surgiu no século 16, na França. Na época, o país comemorava a chegada do Ano Novo durante uma semana, de 25 de março a 1º de abril. Mas em 1564, o rei Carlos 9º decidiu que o Réveillon seria celebrado no dia 1º de janeiro, adotando o calendário gregoriano, usado até hoje em boa parte do mundo, inclusive no Brasil.
Muitas pessoas não conseguiram se adaptar bem à mudança e se tornaram "bobos de abril", sendo alvo de brincadeiras como convites para festas que não existiam. A tradição teria se perpetuado e espalhado por outros continentes.
No Brasil, a tradição tomou força em 1828, quando o noticiário mineiro "A Mentira" trouxe em sua primeira edição que Dom Pedro I morreu. Um erro do jornal, publicado em 1º de abril, já que o monarca estava vivo, explica a EBC.
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