Em dia de boatos, escola de SP com melhor nota no Enem tem 90% de falta
A movimentação de alunos na manhã de hoje na escola municipal Derville Allegretti, na zona norte de São Paulo, contrastava com o dia anterior. Os boatos na internet de ataques orquestrados marcados para 20 de abril esvaziaram as salas de aula da unidade de ensino com melhor nota no Enem, excluindo as Etecs. Lá, o medo fez com que 90% dos alunos faltassem nesta quinta-feira, véspera de feriado.
Nem mesmo a barraca de balas e salgados que fica a apenas 100 metros da escola estava hoje na calçada da rua Paineira do Campo, no bairro Santana. Pouco antes das 7h, havia apenas uma pequena rodinha de cinco alunos do 3º ano do ensino médio em frente ao portão. O pátio da escola também estava vazio.
"Ontem, quase 400 alunos vieram. Hoje, foram só uns 40. Mas a gente imaginava que seria assim, porque o pessoal estava comentando que não viria por causa das ameaças", disse a auxiliar de educação Angela Fátima Monteiro, que conversava com os alunos em frente ao portão.
As pessoas estão com medo. Mesmo que não aconteça nada hoje e que as mensagens na internet sejam fake news para causar terror, a chance de que voltem a ocorrer ataques a escolas é grande
Angela Fátima Monteiro
Julia Oliveira de Faria, 18, que estava em meio ao grupo de alunos, não queria ir para a escola. Mas a estudante do 3º ano do ensino médio tinha um motivo para enfrentar o medo de possíveis ataques. "Tenho uma atividade para entregar".
A vigia Tatiane Miranda, que costuma ficar na porta da escola até as 7h, decidiu ficar alguns minutos a mais em frente ao portão, após a entrada dos alunos. "Como a polícia não está aqui, decidi ficar um pouco até fechar o portão".
No mesmo quarteirão, também havia mudança na rotina da escola municipal Vereador Antonio Sampaio. Havia apenas uma pequena abertura em um portão, ainda com cadeado à mostra. Ao contrário do dia anterior, não havia peruas escolares com alunos estacionando junto ao meio-fio. O começo da manhã era de reunião com pais e responsáveis.
O meu filho tem deficiência auditiva. Por isso, ele teria mais dificuldade para entender se acontecesse alguma coisa
Demerval Pereira, 68, radialista
As ameaças de ataques a escolas marcadas para hoje na internet fazem alusão ao massacre de Columbine, que deixou 15 pessoas mortas em uma escola dos Estados Unidos no dia 20 de abril de 1999.
Joeliza Lemes, 39, conta como foram os últimos dias com o filho de 13 anos. O medo se manifesta até quando o estudante do 9º ano do ensino fundamental dorme.
Quando está dormindo, ele grita: 'Não me mata'. O meu filho está inseguro e com medo de morrer. Olha o que aconteceu em Blumenau... E são muitas mensagens na internet. A gente não sabe mais o que é verdade ou mentira
Joeliza Lemes, mãe de aluno
Pouco depois das 7h30, uma viatura da GCM (Guarda Civil Metropolitana) estacionou nas imediações das duas escolas em uma rua praticamente vazia, onde a única movimentação era de um funcionário da escola varrendo a sujeira da calçada.
O que dizem as secretarias de Educação
A Secretaria Municipal de Educação diz que tem incentivado as escolas públicas a desenvolverem hoje atividades pela paz. "A medida também ajuda a combater notícias falsas que têm circulado principalmente nas redes sociais e que propagam medo, insegurança e desinformação.
A Secretaria de Estado de Educação promove ações pela paz. As atividades marcam o fim do primeiro bimestre. Também estão previstas ações do conselho de classe.
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