PMs agridem alunos e 'apagam' cigarro em jovem em SP, dizem testemunhas

Pais de alunos e funcionários de uma escola municipal no bairro do Jabaquara, zona sul de São Paulo, afirmam que policiais militares agrediram estudantes perto do portão da instituição de ensino. A SSP diz investigar.

O que aconteceu

Os policiais teriam agredido ao menos seis alunos de 14 a 16 anos e agido de forma truculenta, segundo boletim de ocorrência registrado pela escola. O UOL também teve acesso a um documento enviado à diretoria regional pedindo "providência" com urgência sobre o caso, que ocorreu no dia 7 de novembro.

Um dos policiais teria apagado o cigarro no ombro de um dos alunos, conforme relatos de testemunhas ouvidas pela reportagem. Eles pedem investigação e cobram ações diretas da SME (Secretaria Municipal de Educação), e não apenas da diretoria regional.

A Secretaria de Educação disse que acompanha o caso e presta todo atendimento — o que é negado pela comunidade escolar. A SME declara repudiar qualquer ato de violência "dentro ou fora do ambiente escolar", em nota enviada ao UOL.

Durante as agressões, segundo alunos, um dos policiais teria retirado a câmera acoplada no uniforme. A SSP (Secretaria de Segurança Pública de SP) afirmou que a câmera de outro PM mostra que o "dispositivo desprendeu da jaqueta" de um dos agentes. A pasta disse que a filmagem produzida por outro policial foi preservada na íntegra, "capturando toda a ação".

Os pais dos alunos da escola cobram respostas sobre a situação. Os jovens retornaram para a escola nesta semana, mas afirmam que estão com medo. Os estudantes que foram agredidos passaram por exame de corpo de delito.

O caso também foi encaminhado à Vara da Infância e Juventude. "Todas as circunstâncias relacionadas aos fatos estão sendo investigadas pelo 97º Distrito Policial (Americanópolis) e pela Polícia Militar", informa a SSP.

O início da abordagem

Os policiais foram acionados por uma mulher que passava em frente à escola e viu uma discussão entre alunos, diz o boletim de ocorrência. Ela teria começado a gravar, o que gerou questionamento de um dos adolescentes. Ele pediu também para a filmagem ser encerrada.

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Na sequência, a mulher — ainda não identificada — ligou para a PM e disse que os estudantes haviam roubado outros alunos. A escola nega que tenham ocorrido esses roubos. Os PMs teriam chegado, segundo testemunha ouvidas pelo UOL, de forma "truculenta".

O pai de um dos alunos disse que seu filho chegou chorando em casa, sem conseguir explicar o que ocorreu. O garoto machucou a coluna.

Outros familiares também viram o ocorrido. "A gente espera que esses policiais sejam punidos", afirmou um dos responsáveis.

Um aluno de 16 anos foi o mais agredido. Ele foi jogado contra um muro, e os agentes bateram em seu rosto. Após a violência, o adolescente teria feito xingamentos contra os PMs e chorado compulsivamente.

No relatório da rede de ensino, os funcionários afirmam que o aluno tem um "comportamento instável e opositor", com dificuldade de controle das emoções. "A assistente conseguiu acalmar o aluno e pediu aos policiais que a deixassem levá-lo para dentro da escola, pois a situação estava perdendo o controle", relata o documento.

Um grupo de aproximadamente 15 policiais, ao comando do Tenente que se identificou como E., invadiu a escola, dizendo que levariam o aluno por desacato à autoridade policial.
Trecho de relatório enviado à diretoria regional de ensino

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Jovem foi levado à delegacia

Funcionários afirmam que tentaram conversar com os policiais para que não levassem o adolescente para delegacia sem um responsável. Um dos PMs disse que, se a assistente de direção não liberasse o aluno, ela seria "autuada por proteger foragido".

Sem sucesso, a servidora decidiu acompanhar o jovem até a delegacia. Reportagem do UOL mostrou que a situação é corriqueira em escolas cívico-militares em que alunos são levados para a DCA (Delegacia da Criança e do Adolescente) — mas esse não é o caso da escola municipal.

Segundo testemunhas, a funcionária e o aluno foram recebidos de "forma hostil" pelo delegado, que não liberou a presença da funcionária na sala. Nenhum boletim de ocorrência foi registrado contra o aluno — os policiais teriam justificado a ida do adolescente até a delegacia por ele ter cometido desacato. Nenhum termo também foi emitido no dia.

Quando o aluno foi levado para uma sala com os policiais, o delegado disse que 'não falaria' com a assistente de direção e que ela 'deveria chamá-lo de doutor', acusou-a de "preconceituosa", disse que o aluno podia ficar na sala sem a presença do responsável com os policiais e que 'não existia mais tortura em delegacias'.
Trecho de relatório enviado à diretoria regional de ensino

Fora da delegacia, o aluno relatou que os policiais o agrediram novamente e apagaram um cigarro em seu ombro. Aos funcionários da escola, o adolescente disse que os agentes tiraram sua roupa e também cantaram parabéns pelo seu aniversário "de forma irônica".

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Adolescente teria sido maltratado. "O aluno estava sem os cadarços do tênis, levantando a calça, sem a blusa de frio e com os cabelos desgrenhados", diz boletim de ocorrência.

A SSP afirmou que a postura do delegado está sob investigação pela Corregedoria da Polícia Civil.

O que diz a Secretaria de Educação

Um boletim de ocorrência foi registrado, assim como registro na ouvidoria da Polícia Militar. A SME está à disposição das autoridades competentes para auxiliar na investigação.
Secretaria de Educação da Prefeitura de São Paulo

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