'Família está sem acreditar', diz tia de aluno que perdeu vaga na USP

Ele está bastante abalado. Toda a família está sem acreditar que isso está acontecendo. Mas estamos esperançosos que vamos conseguir a vaga novamente. Laise Mendes dos Santos

Com essas palavras, a tia do estudante Alison Santos Rodrigues, de 18 anos, resume o sentimento após o sobrinho ter tido sua matrícula cancelada em medicina na USP.

O que aconteceu

A universidade não aceitou a autodeclaração racial em que ele se identificou como pardo. Alison, de Cerqueira César, interior de São Paulo, foi aprovado em medicina na USP dentro das vagas PPI (para pretos, pardos e indígenas) após fazer o Provão Paulista, vestibular unificado das instituições públicas de ensino superior de São Paulo.

Após a convocação na primeira chamada, ele encaminhou os documentos pedidos pela universidade para comprovar que se enquadrava na política de cotas. Esses documentos devem ser entregues pelos candidatos que se autodeclaram negros, de cor preta ou parda, ou indígenas. O jovem se autodeclara pardo. Sua mãe se identifica como negra e o pai, branco.

Alguns dias depois, o estudante recebeu um e-mail informando que a comissão não confirmou sua autodeclaração e convocou o estudante para participar de uma reunião virtual para uma nova avaliação. A videochamada foi agendada para o dia 8 de fevereiro.

A reunião estava marcada para as 17 horas, mas só ligaram para ele às 19 horas. O avaliador falou que a imagem não estava muito boa e pediu para que meu sobrinho abrisse a janela. Mas já estava noite, então a luminosidade continuou a mesma.
Laise Mendes dos Santos, de 35 anos, tia de Alison

No fim da tarde do dia seguinte, Alison recebeu um e-mail informando que não havia sido aprovado para ocupar as vagas destinadas aos candidatos PPI, mas tinha 48 horas para entrar com recurso, o que foi feito pelo jovem.

Uma semana depois, Alison afirma que recebeu e-mails da secretaria de graduação da USP o parabenizando pela aprovação. O e-mail também tinha orientações para o primeiro de aula, que aconteceu na segunda-feira (26).

O estudante participou das atividades de recepção aos calouros. No entanto, no horário do almoço, ele foi informado pela universidade que havia sido reprovado nos critérios da política do PPI.

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Ele foi ao evento de recepção aos calouros e o nome dele estava na lista dos novos alunos.
Laise Mendes dos Santos

A família teria buscado respostas na própria universidade, mas foi informada apenas que o rapaz não havia sido aprovado e que não havia mais recurso para o caso. Na terça-feira (27), a família buscou auxílio da Defensoria Pública para tentar garantir que Alison consiga cursar a graduação na USP. O caso está na Justiça. Abalado com tudo o que está acontecendo, o rapaz pediu para que a tia falasse sobre o caso à reportagem.

O que diz a USP

A USP explicou que a deliberação final sobre o recurso do Alison foi na sexta-feira e foi enviada no dia subsequente.

Importante frisar que todos os candidatos que estavam com recursos sendo analisados sabiam que a matrícula estava condicionada ao resultado das bancas de heteroidentificação. O que o estudante tinha era uma pré-matrícula condicionada ao resultado do processo de heteroidentificação.
USP, em nota

Como funciona a avaliação de heteroidentificação

Os alunos que se autodeclaram negros, de cor preta ou parda, ou indígenas passam por um processo de análise que tem como objetivo prevenir fraudes na política de cotas étnico-raciais, segundo a USP.

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O candidato envia fotos que são analisadas por duas bancas de cinco pessoas. Caso a foto não seja aprovada por uma das bancas, ela é direcionada automaticamente para a outra banca. Nenhuma banca sabe se a foto está sendo analisada pela primeira ou segunda vez, o que garante uma dupla análise das fotografias.

Ao final do processo, se as duas bancas não aprovarem a foto, o candidato é automaticamente chamado para uma oitiva presencial, no caso de aluno que ingressou pela Fuvest, e virtual, se for aluno aprovado pelo Provão Paulista ou do Enem.

Como a análise é estritamente fenotípica, a banca não faz nenhum tipo de pergunta sobre a vida dos candidatos. O que conta mesmo é a cor da pele, os cabelos e a forma da boca e do nariz.
USP, em nota

Se, mesmo assim, após a segunda análise, o pedido for indeferido, o estudante pode apresentar um recurso analisado por uma terceira banca recursal, também formada por cinco professores da universidade.

Essa banca prepara um parecer sobre o recurso, deferindo ou indeferindo o pedido, que é analisado por um conselho da Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento, formado por representantes de toda a universidade. Ou seja, para a negativa definitiva, o caso do candidato é analisado por quatro grupos distintos. E este Conselho é a última instância sobre todos os casos.
USP, em nota

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