Professor da USP é afastado após 'premiar' pior aluna: 'Fui constrangida'
Um professor do Instituto de Geociências da USP foi afastado de suas atividades em sala de aula depois de constranger publicamente uma aluna ao entregar a ela o "prêmio" de pior da turma.
O que aconteceu
Caso aconteceu em sala de aula. A aluna de 22 anos, que não vai ser identificada, cursa geologia e teve aulas com Joel Barbujiani Sigolo no ano passado. Ela contou ao UOL que o docente havia dito que entregaria um prêmio ao pior aluno de sua disciplina, mas a turma não acreditou. Na segunda-feira (11), no entanto, ele interrompeu a aula de outro professor para fazer o anúncio. "Quando ele entrou na sala, a gente sabia o que ia acontecer", relembrou.
Professor foi afastado das atividades em sala de aula até que a situação seja averiguada, disse o Instituto de Geociências ao UOL. "Se confirmados os fatos, serão adotadas as sanções cabíveis ao caso à luz do que preconiza a jurisprudência universitária."
Sigolo informou ter pedido desculpas aos alunos, professores e direção do instituto. "Compreendo que minha atitude causou constrangimento generalizado inclusive a aluna em questão e a seus colegas de modo geral", disse ele em nota enviada à reportagem.
Estudante teve desempenho acadêmico prejudicado por problemas de saúde. "No final do primeiro semestre, eu precisei fazer duas cirurgias. Essa matéria [que o professor lecionava] tem quatro provas e só consegui fazer duas. Eu mandava mensagens toda semana para os professores, deixei claro sempre o que estava acontecendo comigo", disse. Ela relata que enviava cópias de atestados e recomendações médicas aos docentes para comprovar a situação.
"Eu já imaginava que seria eu por tudo o que aconteceu". Sigolo fez a aluna se levantar para receber o "prêmio": um livro de poesias escrito por ele. Os dois melhores alunos foram presenteados com uma coleção de livros de sua autoria sobre geologia. O professor também pediu para que ela lesse uma das poesias, mas a jovem se recusou.
O professor diz que não sabia que o desempenho dela estava relacionado a questões de saúde. Segundo ele, o objetivo de premiar o aluno de menor desempenho era "estimular maior dedicação aos estudos". "É fundamental destacar que não se trata de prêmio para o 'pior' aluno como se coloca nos diversos textos. Essa palavra apareceu posteriormente nos comunicados. O pior ou piores alunos ficaram para trás. Foram os que desistiram ou foram reprovados nesse curso", acrescentou.
Alunos dizem que não é a primeira vez que o professor tem comportamento inadequado. Ouvidos em reservado pela reportagem, estudantes contaram que já presenciaram comentários racistas e machistas por parte dele. "Ele disse uma vez que mulher não sabe ensinar direito, se referindo a uma professora do curso", relatou uma estudante que já se formou. O Instituto de Geociências informou que "denúncias pretéritas envolvendo o acusado, se existem, não foram levadas a público, de modo que a atual gestão as desconhece".
Centros acadêmicos da USP manifestaram repúdio pelo 'prêmio' e pela situação na qual a aluna passou, classificada como "sórdida e execrável violência à dignidade humana."
Ele falou meu nome e pediu para que eu fosse para a frente da sala. Eu respondi que não ia, ele insistiu e todo mundo ficou olhando. Como ele tem autoridade, parei de dizer não e fui, mas não tive coragem de olhar pra ninguém, fiquei olhando para o chão. Foi constrangedor, falei para os meus amigos que estava envergonhada. Ele fez isso tudo rindo enquanto a sala estava em silêncio. Aluna do curso de geologia da USP
Assumo a integral responsabilidade e solicito minhas desculpas públicas pelo constrangimento geral e em específico para a estudante envolvida. Confesso que o constrangimento gerado não foi intencional, muito menos com ponderações depreciativas referente a diversos aspectos mencionados em textos que circulam interna e externamente a instituição. Pretendo integrar esse aprendizado relacionado a esse episódio à minha prática docente bem como para relações pessoais e profissionais. Joel Barbujiani Sigolo
Foi com consternação e pesar que recebemos uma nota de repúdio redigida por alunos do IGc (Instituto de Geociências) e de outros institutos do baixo Matão. A nota dá ciência de grave ocorrido em sala durante uma das aulas do primeiro ano do Bacharelado em Geologia. Os fatos narrados são tristes, desrespeitosos e aviltantes e não coadunam, de maneira alguma, com a filosofia da gestão recém-iniciada. Trecho da nota do Instituto de Geociências da USP
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