IBGE: Taxa de analfabetismo entre quilombolas é quase três vezes maior
O analfabetismo atinge a população quilombola quase três vezes mais que a população total residente no Brasil. O IBGE publicou nesta sexta-feira (19), dados detalhados sobre educação para o grupo no Brasil.
O que aconteceu
A taxa de analfabetismo entre quilombolas a partir de 15 anos é 2,7 vezes maior que entre a população total residente no Brasil. Em 2022, o Censo registrou 1.015.034 pessoas quilombolas com mais de 15 anos.
De acordo com o IBGE, 19% da população quilombola é analfabeta — são 192.715 pessoas do grupo sem saber ler ou escrever. Para o contexto do Brasil, da população total residente em 2022, 7% da população sofria com a condição.
Dentro de Territórios Quilombolas Oficialmente Delimitados (TQs), a situação do analfabetismo se agrava. Nos territórios, 19,7% das pessoas não sabem ler ou escrever. Por outro lado, 18,8% das pessoas quilombolas que residem fora das delimitações sofrem com o analfabetismo.
Territórios Quilombolas Oficialmente Delimitados (TQs) são aqueles assegurados pela Constituição — dos remanescentes das comunidades dos quilombos tradicionais. De acordo com o IBGE, 12,6% da população quilombola reside em TQs.
Os dados divulgados nesta sexta (19) dizem respeito ao Censo 2022, no recorte Quilombolas: Alfabetização, características dos domicílios e localidades quilombolas.
"Pouco se discute políticas públicas para a educação de quilombolas".Givânia Maria Silva, professora quilombola e integrante da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), narra que não se encontra uma solução para o problema pois ele não é discutido.
A história do Brasil repercute fortemente na educação quilombola. A começar pela educação que a gente recebe e o racismo. Pouco se fala das populações quilombolas. Tem questões estruturais nesse meio que faz com que muitas coisas, muitas políticas pensadas para educação, e para o alcance maior da população, fiquem pelo meio do caminho. Precisamos formar mais docentes quilombolas, para que eles atuem lá. O racismo é algo estruturante na sociedade e faz com que essas comunidades tenham até hoje os piores indicadores.
Givânia Maria Silva, professora quilombola e integrante da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq)
Mais analfabetismo entre idosos quilombolas
Mulheres quilombolas apresentam taxa de alfabetização superior. No recorte de gênero, 17% das mulheres foram registradas na condição, enquanto 21% dos homens foram considerados analfabetos.
Faixa etária influencia na taxa de alfabetização. Mais de 38% da população quilombola entre 60 e 64 anos não sabe ler e escrever. Entre pessoas com mais de 65, mais da metade (54%) é considerada analfabeta. No entanto, entre as faixas etárias mais jovens, notasse evolução nos índices de analfabetismo: quilombolas entre 15 e 17 anos registraram taxa de 3,18%, entre 18 e 19, 2,9%.
Sudeste tem a situação mais desigual. Na região, a população total residente tem 96% das pessoas alfabetizadas, enquanto entre quilombolas, apenas 85,3% sabem ler e escrever.
De acordo com o Censo, 20,26% dos municípios com quilombolas apresentam diferenças acima de 10 pontos percentuais entre a taxa de analfabetismo entre quilombolas e da população total residente.
Dos municípios que contam com população quilombola, 81,5% apresentam taxa de analfabetismo entre quilombolas maior que a população total residente. Há quilombolas em 1.700 dos 5.570 municípios das 27 unidades federativas do Brasil.
Enquanto a gente não reconhecer a especificidade dessas relações, a especificidade desse povo e parar de tratar com inferioridade, não vai mudar. Precisamos de mais escolas, mas também de mais docentes quilombolas para lecionar nesses territórios. Que haja uma conjuntura entre União, Estado e Município para mudar a educação.
Givânia Maria Silva, professora quilombola e integrante da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq)
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