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Faculdades privadas têm 74 mil matrículas a menos em São Paulo

Em São Paulo

16/03/2016 09h15

O número de novos alunos nas faculdades particulares do Estado de São Paulo caiu 15,2% neste ano, em comparação com o início do ano letivo de 2015. De acordo com o Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior de São Paulo (Semesp), a queda representa 74 mil alunos a menos no ensino superior e é um reflexo das mudanças no Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), que passou a ter vagas limitadas e juros mais altos, e da crise econômica.

Também houve queda de 6,8% nas rematrículas, o que, segundo o Semesp, representa cerca de 80 mil alunos que pararam ou desistiram do curso superior nas faculdades privadas do Estado. O levantamento foi feito entre os dias 3 e 10 de março com 70 instituições de ensino superior de São Paulo.

"O Fies era a grande locomotiva do ensino superior, mas depois das mudanças limitou muito o acesso dos estudantes. Além disso, com a economia instável, e o aumento do desemprego, muitas pessoas tiveram de deixar os cursos ou então decidiram nem entrar na faculdade neste ano com medo de assumir uma dívida. É um contexto muito perverso para o aluno", disse Rodrigo Capelato, diretor do sindicato.

No ano passado, quando foram adotadas as restrições ao Fies, o sindicato já havia registrado uma queda de 8,8% no número de novas matrículas em instituições privadas. "O aluno já havia ficado sem opção no ano passado, mas, agora, com a crise financeira a faculdade ficou inviável", disse.

Sonho adiado

O estoquista Guilherme de Santana Mendes, de 20 anos, até conseguiu realizar o sonho de começar o curso de Direito, mas precisou trancar a vaga após ficar desempregado, no fim do ano passado. "Não consegui o Fies e fiz dois semestres pagando mensalidade de R$ 546. Ficou ainda mais difícil quando eu perdi o emprego, em novembro, aí tive de trancar para não ficar sem dinheiro."

Mendes diz que um reajuste de R$ 100 na mensalidade já tinha sido anunciado e, de qualquer forma, não seria fácil bancar o curso com o salário de R$ 1.200 que recebia em um shopping. Ele conta que outros colegas não tiveram condições de permanecer na faculdade. "Está mais complicado. No segundo semestre, parte da sala já havia abandonado o curso."

Mesmo assim, ele não desistiu de, um dia, ter o diploma. "Estou entregando currículos e vou tentar voltar. Vou fazer o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e tentar o Fies de novo. Nunca pensei em fazer outra faculdade que não fosse Direito. Quero ser delegado."

Debora Santos de Jesus, de 18 anos, também não conseguiu começar o curso de Logística para o qual foi aprovada em uma faculdade particular da capital. "Não consegui o Fies e estou desempregada desde o começo do ano. Era impossível pagar a mensalidade de R$ 420, então tive de adiar o meu sonho."

Ela está estudando para prestar o Enem neste ano e tentar uma nota melhor para conseguir o financiamento. "É tudo muito difícil, mas não vou desanimar e desistir do meu futuro", disse Débora.

Demissões

Segundo o Semesp, a queda do número de alunos também fez com que aumentassem as demissões no setor. Em relação ao ano passado, teriam avançado em 38%. Além disso, 69% das instituições ouvidas disseram que tiveram de reduzir a carga horária dos professores. "Em uma instituição de ensino, a folha de pagamentos representa de 70% a 80% dos gastos. Por isso, elas não têm onde cortar e, infelizmente, precisam recorrer às demissões", disse Capelato.

O sindicato disse que as instituições estão preocupadas com os próximos meses, já que está em discussão o aumento da alíquota do PIS/Cofins para os serviços de educação de 3,65% para 9,25%. Para Capelato, se aprovado, o reajuste deve provocar um aumento de 6,17% nas mensalidades e uma nova queda de 13% em novas matriculas para 2017. "O setor já está com muita dificuldade e o cenário futuro é ainda mais sombrio."