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USP planeja investir R$ 2 bi, retomar obras e contratar 876 docentes

Campus da USP, em São Paulo - Marcos Santos/USP Imagens
Campus da USP, em São Paulo Imagem: Marcos Santos/USP Imagens

Leon Ferrari

11/07/2022 18h42

Oito anos após mergulhar em grave crise financeira, a Universidade de São Paulo (USP) vê alívio nas contas e planeja investir R$ 2 bilhões nos próximos anos em projetos como a retomada de obras paralisadas do Parque dos Museus, a construção de um distrito tecnológico no campus do Butantã e a adoção de tecnologias sustentáveis. Além desse pacote, a instituição prevê, com outra fonte de recursos, contratar 876 professores e 400 servidores técnico-administrativos até 2025.

Segundo a reitoria, as novas despesas não comprometem o equilíbrio das contas para o futuro. A principal fonte de receita da instituição é uma cota fixa (5,02%) da arrecadação estadual do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Após quase uma década, a USP teve superávit de R$ 1,78 bilhão em 2021, resultado impulsionado pela inflação.

No período de reestruturação, a instituição recorreu a programa de demissão voluntária de técnicos, paralisação de obras e congelamento de contratações e salários. Depois, veio a pandemia. "Após oito anos sem investimento, assim que tiver a oportunidade, tem de fazer", diz o reitor Carlos Gilberto Carlotti Junior. A intenção é entregar boa parte das obras até o fim de 2024. "Cicatrizes (da crise), vamos ter. Algumas áreas já tiveram diminuição de professores, alguns prédios nossos ficaram comprometidos", afirma, sem citar as faculdades mais afetadas.

O cronograma ainda está sendo definido, mas prevê as contratações dos 400 técnicos até o final do ano que vem e a dos 876 docentes até 2025. Um dos motivos para a crise financeira da USP, iniciada em 2014, foi o inchaço acelerado do quadro de servidores sem haver recursos disponíveis.

A maior parte dos investimentos será para erguer novas estruturas ou reformar prédios em condições ruins, como os da moradia estudantil. É previsto, por exemplo, gastar R$ 100 milhões na modernização de instalações de pesquisa e outros R$ 300 milhões para a construção de novas.

A conclusão da Praça dos Museus, paralisada desde 2014, custará R$ 250 milhões. A obra foi iniciada em 2011 e deveria ter sido finalizada em 2013. Atualmente, existe apenas as estruturas dos prédios no câmpus. A praça vai abrigar o Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) e o Museu de Zoologia (MZ). Para acelerar a entrega, o projeto vai ser simplificado - a ideia é não construir mais um prédio de exposições que estava previsto anteriormente, afirma o reitor. Há ainda R$ 50 milhões disponíveis para a estrutura de assistência estudantil, como as moradias universitárias.

A USP também prevê erguer o Distrito Tecnológico do Jaguaré, em terreno de 40 mil metros quadrados, onde fica a Agência USP de Inovação (Auspin), na Avenida Escola Politécnica. O projeto, ainda em fase de elaboração, é inspirado em modelos já adotados em Barcelona e Nova York.

A ideia é atrair para o distrito grandes e pequenas empresas, como startups, restaurantes, espaços culturais e de convivência. "Um espaço novo, que faça com que as pessoas tenham o prazer de viver na região, e põe a inovação como carro-chefe dessas iniciativas", diz Carlotti. Para sair do papel, destaca, além de R$ 100 milhões desembolsados pela USP, será preciso firmar parcerias com a iniciativa privada e com o governo estadual.

A reitoria também prevê aporte de verba ao Hospital das Clínicas de São Paulo (R$ 150 milhões) e no de Ribeirão Preto (R$ 67 milhões), unidades de referência onde há formação de alunos e pesquisas. Os planos incluem um centro de estudos clínicos, um serviço de diagnóstico rápido e um ambulatório integrado de oncologia nessas unidades. "O acordo que fizemos com o Estado é de que a USP faz esse investimento na obra e a Secretaria da Saúde, o próprio governador, se compromete a fazer o custeio dessas iniciativas", conta Carlotti.

Críticas

A Associação de Docentes da USP (Adusp) vê falta de debate amplo com a comunidade acadêmica nas novas iniciativas. "A proposta foi divulgada só cinco dias antes da reunião do Conselho Universitário", destaca Michele Schultz, presidente da Adusp. O Conselho é o órgão máximo da USP, que aprovou o plano no fim de junho. A entidade também critica o investimento em um distrito tecnológico em detrimento, segundo Michele, de outras demandas mais importantes. "Qualquer investimento em infraestrutura será injusto enquanto os salários estiverem defasados."

O Sindicato dos Trabalhadores (Sintusp) também reclama da falta de debate e diz não concordar com todos os investimentos propostos. "Há necessidade de reposição salarial das perdas que tivemos nos últimos dez anos. Embora tenhamos tido um reajuste de 20% neste ano, ele só repôs os últimos dois anos", diz Reinaldo Souza, diretor do sindicato.

Quanto ao reajuste salarial e de bolsas, a reitoria destaca que esse é assunto do orçamento permanente, não do planejamento de investimentos que destina verba "ocasional".

A USP também levou em conta o cenário com a aprovação da regra federal que fixa teto do ICMS sobre combustíveis, gás natural, energia elétrica, comunicações e transporte coletivo. Nele, a universidade perde mais de R$ 250 milhões ainda em 2022 e terá redução de 6,5% na arrecadação nos anos seguintes.

Para Carlotti, porém, há um colchão financeiro que previne sustos. O reitor reforça que o aumento de arrecadação em 2021 foi uma "bolha de recursos", mas a universidade mantém uma reserva financeira. A poupança, hoje de R$ 400 milhões, vai ganhar R$ 1 bilhão. Isso representa cerca de três folhas de pagamento da USP - fixada como medida de equilíbrio financeiro.

Plano prevê também mudar perfil energético

O plano da USP também reserva cerca de R$ 270 milhões para mudar o perfil energético da universidade. Primeiro, haverá direcionamento à segurança energética, com melhorias nas subestações - atualmente a universidade enfrenta episódios de falta de energia. Depois, haverá a compra de energia no mercado livre. E, por fim, a geração fotovoltaica.

A energia fóssil dos transportes também faz parte do plano, com a substituição por veículos movidos por energia elétrica e hidrogênio. "Já fizemos contrato com a Shell, temos um grupo que trabalha na Escola Politécnica que vai gerar hidrogênio a partir de etanol. Vamos ter uma usina de hidrogênio", adianta o reitor.

O projeto é do Centro de Pesquisa para Inovação em Gases de Efeito Estufa, sob coordenação do biólogo Marcos Buckeridge. Ele conta que a estação de abastecimento de hidrogênio deve ficar pronta em 2023. Paralelamente, três ônibus que já passam pela USP movidos pelo gás, estão sendo ajustados para testes nas imediações. O Brasil é atualmente o segundo maior produtor de etanol, um biocombustível obtido da fermentação de açúcares, no mundo todo. No entanto, é consenso que ele pode ser melhor aproveitado.