Sem aulas, USP Leste aguarda análise do MP para liberação de campus
Para tentar liberar o campus da EACH (Escola de Artes, Ciências e Humanidades), na zona leste de São Paulo, a USP entregou ao Ministério Público uma proposta de solução para os problemas ambientais do local. O campus da USP Leste está interditado desde o início de janeiro e as aulas, que deveriam começar nesta segunda-feira (17), estão previstas para o dia 10 de março.
“Essas ações têm por objetivo implantar sistemas de extração de gases do subsolo e a garantia de sua eficácia. Concomitante a isso, serão analisados os resultados laboratoriais de amostras do solo colhidas recentemente por empresa especializada”, disse o promotor José Ismael Lutti em nota.
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Se as ações adotadas pela USP forem consideradas suficientes pela Promotoria do Meio Ambiente, o campus poderá ser liberado. Segundo o promotor, as aulas só serão retomadas se houver a “certeza de que o local não apresenta qualquer risco à saúde dos usuários”.
O campus Leste apresenta problemas que não fazem parte do dia a dia dos alunos de outras unidades de ensino da USP. A EACH tem dez cursos e quase 6.000 estudantes da graduação e pós-graduação.
Metano no solo
Nos últimos meses, uma avaliação detectou a presença de coliformes fecais na água destinada ao consumo de professores, funcionários e alunos. Houve ainda casos de hidrantes que não funcionavam e uma infestação por ácaros de pombos.
Esses três problemas foram resolvidos, mas restaram dois ambientais que preocupam a comunidade acadêmica: a presença de metano no solo e o despejo de terra contaminada com componentes tóxicos em parte do campus.
“O surgimento no metano no solo da USP Leste é resultado da combinação de um fenômeno natural e um processo de ocupação pelo homem, que impermeabilizou o solo, impedindo o escape do gás”, diz o professor Carlos Mendonça, do IAG-USP (Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas).
“Quando se fala em metano ou biogás, o principal risco é de incêndio e explosão”, afirma o professor, que estou a presença do gás no solo da USP Leste.
No local, a USP diz que estão sendo instaladas chaminés e bombas para a extração dos gases.
Terra contaminada
Além da presença do gás, parte da área da EACH recebeu o equivalente a cerca de 480 caminhões de terra contaminada em 2011. Na época, o aterramento já tinha sido considerado irregular. Em novembro de 2013, a USP abriu um processo administrativo contra o ex-diretor da EACH José Jorge Boueri Filho para apurar as responsabilidades sobre a terra contaminada.
Segundo um laudo ambiental da Servmar, empresa contratada pela USP, no terreno onde a terra foi despejada foram encontradas substâncias tóxicas e até cancerígenas em concentrações acima do permitido. Essa terra está em uma área que contém quadras, ginásio, auditórios, lanchonete, enfermaria, biblioteca e o reservatório de água potável.
“Meus projetos de extensão estão congelados e o laboratório em que trabalho está interditado, como toda a escola. Mesmo com todos esses danos ao meu trabalho e à minha carreira, eu prefiro estar em casa a voltar a trabalhar nesse ambiente contaminado”, afirma Adriana Tufaile, professora dos cursos de ciência da natureza e gestão ambiental.
A USP diz que a área com a terra contaminada foi coberta com grama e cercada. A Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) pediu um maior detalhamento da análise da terra para que seja defina a extensão da área a ser extraída.
Greve e multa
Apesar de os problemas ambientais serem antigos na EACH, o caso só veio à tona em setembro do ano passado, depois que a USP foi autuada pela Cetesb e os professores e alunos começaram uma greve que durou 50 dias.
Em outubro, a Cetesb multou a USP em R$ 96.869,35 por não ter solucionado o problema ambiental e por estabelecer prazos considerados insatisfatórios. Em seguida, foi a vez de a Justiça determinar a interdição do campus, medida que foi cumprida no início de janeiro deste ano.
A reitoria diz que estuda possibilidades de usar outros prédios para que as aulas sejam retomadas no dia 10 de março na EACH, caso o campus não seja liberado pela Justiça.
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