Em média, professor no Brasil tem jornada de 25 horas de aula por semana
Se muitas são as divergências no setor da educação, duas afirmações parecem unanimidade: o Brasil precisa melhorar a qualidade do ensino e o professor é personagem fundamental dessa história de mudança.
Por isso, são preocupantes os dados trazidos pela Talis 2013, uma pesquisa de fôlego coordenada pela OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) e divulgada na manhã desta quarta-feira (25). O professor brasileiro trabalha muito, e sua formação ainda deixa a desejar.
Segundo os dados coletados entre 14 mil docentes no segundo semestre de 2012, a carga horária semanal de aulas no Brasil é, em média, de 25 horas -- 6 horas a mais que a média dos países que participaram da Talis.
Além do número de horas, o professor brasileiro também enfrenta o desafio de salas com maior número de alunos e, mesmo assim, disponibiliza o mesmo tempo que os profissionais dos outros participantes da pesquisa costumam gastar com o planejamento da aula e correção de trabalhos e provas.
O cenário fica ainda mais complicado ao se observar de que maneira é utilizado o tempo da aula: 20% é destinado a manter a disciplina e outros 12%, para realizar tarefas administrativas como fazer chamada. Aula mesmo fica com uma fatia de 67%.
"Diante dos dados [de gasto de tempo com planejamento de aula], ficam algumas perguntas: mesmo que ele queira, será que o professor brasileiro consegue preparar uma aula em que os alunos tenham tantas oportunidades de aprender quanto dos seus colegas em países da OCDE? Ele tende a ter mais turmas, já dá seis horas a mais de aula em média, mas gasta o mesmo tempo com planejamento", analisa a pesquisadora brasileira Gabriela Moriconi da FCC (Fundação Carlos Chagas) que participou da Talis.
Sem formação para a prática
Metade dos profissionais afirmam que não possuem formação pedagógica para todas as disciplinas que ensinam -- segundo os entrevistados, esse conhecimento não é passado durante a faculdade. Cerca de 90% dos professores têm algum curso superior, mesmo que não seja específico para dar aula.
Também é alto o percentual de docentes que dizem não ter formação prática para dar aula: 40%.
No relatório, os especialistas da OCDE fazem a seguinte ponderação: se o mundo atual exige que a educação seja um processo contínuo, os professores precisam aderir a essa ideia. Aos governos cabe promover o acesso a essa formação contínua -- mas, advertem os especialistas da OCDE, não basta oferecer treinamentos e cursos: docentes reportam taxas mais altas de participação nos países em que também existem apoio financeiro e suporte não monetário.
O que é a Talis
Talis é a sigla para Pesquisa Internacional sobre Ensino e Aprendizagem (Teaching and Learning International Survey em inglês), coordenada pela OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). No Brasil, a coordenação da pesquisa fica por conta do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira).
A edição de 2013 é a segunda desde a criação do estudo, em 2008. Seu objetivo é levantar as condições de trabalho dos professores e o ambiente de aprendizagem nas escolas para amparar decisões de políticas públicas no setor.
Participaram desta edição 34 países e territórios (24 da OCDE e outros 10 parceiros, como o Brasil). Cerca de 106 mil professores responderam à pesquisa. No Brasil, foram questionados 14.291 professores do fundamental 2 e 1057 diretores de 1070 escolas.
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