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Universidade veta matrícula de miss que usou cota de deficiente em medicina

Reprodução/Instagram
Imagem: Reprodução/Instagram

Abinoan Santiago

Colaboração para o UOL, em Ponta Grossa (PR)

20/02/2020 20h31

A Universidade Federal do Acre (UFAC) publicou na noite de ontem o edital de indeferimento da matrícula da Miss Acre CNB 2018, Hyalina Lins Farias, 21. Ela passou em medicina com uma vaga para pessoas com deficiência e virou alvo de polêmica nas redes sociais na segunda chamada do Sisu (Sistema de Seleção Unificada).

A cota também exigia que o candidato tivesse renda inferior ou igual a 1,5 salário mínino. A aprovação da ex-miss nessa condição gerou críticas de internautas, que duvidaram da deficiência da modelo e de sua renda mensal por causa de registros de viagens publicados em seu Instagram.

O indeferimento da matrícula ocorreu após avaliação da banca médica da Universidade Federal do Acre. Hyalina se matriculou em 12 de fevereiro, apresentando laudos de baixa visão, mas ainda precisaria passar por uma análise de profissionais médicos da instituição.

Em contato na tarde de hoje com o UOL, Hyalina informou que se posicionaria através de sua advogada. Em nota, a defesa da miss considerou a avaliação da UFAC como "absurda, inconstitucional, discriminatória e misógina", porque a Constituição Federal garante o direito à educação às "pessoas com deficiência de natureza física, mental, intelectual ou sensorial".

"A modelo Hyalina sofre com deficiência visual desde criança, diagnosticada e acompanhada por médico oftalmologista. A modelo sempre buscou corrigir sua visão por meio de óculos e lentes. Contudo, o tratamento não é suficiente para reparar sua deficiência, impossibilitando-a de estar em grau de igualdade com pessoas que possuem visão regular", diz a nota, assinada pela advogada Samarah Motta.

A defesa da modelo afirma ainda que Hyalina teria sido a única caloura reprovada sem consulta de perícia médica, apenas com a análise de laudos e se baseando em "fake news". A advogada prometeu acionar a Justiça contra a UFAC para garantir a matrícula e eventuais danos à honra da miss.

"Desde que a candidata se inscreveu para a cota de deficiência, ela foi atacada por comentários constrangedores e humilhantes nas redes sociais, pois o fato de ser modelo e ter sido miss no Acre gerou polêmica, como se uma pessoa bonita não pudesse ter alguma deformidade ou limitação física e ou sensorial", concluiu Samarah Motta.

Universidade diz que não faz "distinção" entre candidatos

Em nota, a UFAC afirmou que "analisa todos os candidatos de maneira biopsicossocial. Ou seja, além de analisar os laudos médicos, os membros da comissão realizam entrevistas para comprovar se o candidato apresenta alguma condição que o caracteriza como pessoa com deficiência".

A instituição ainda afirmou que a banca analisa os candidatos sem qualquer "distinção" e que os reprovados podem interpor recurso ao resultado em até dois dias úteis.

Baixa visão e viagens pagas pelo namorado

Em 13 de fevereiro, a miss conversou com o UOL e afirmou que sofre de baixa visão desde criança, mas que somente quando estudava em um cursinho preparatório para o vestibular é que tomou conhecimento do direito de usar a cota para deficientes. Além disso, a jovem alega ter 20 graus de miopia, o que a faz usar lentes de contato.

Hyalina revelou que não compartilha o problema nas redes sociais porque é algo pessoal e por ter "vergonha".

"Conheci os meus direitos e fui orientada a correr atrás do que era direito meu. Não tinha conhecimento por desinformação. Fui em três oftalmologistas e todos falaram que tinha esse direito", contou ao UOL, na ocasião.

Sobre a renda, as desconfianças de internautas surgiram por causa de fotos da modelo em viagens, compartilhadas com os seus mais de 11 mil seguidores no Instagram. Ela argumenta que os roteiros foram bancados pelo namorado, cirurgião plástico.

A modelo ainda alega estar desempregada e diz que vive de parcerias realizadas com marcas locais através de publicidade no Instagram e com vendas de itens pós-operatórios para as clientes do companheiro.