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Mãe d'Água - Sereia europeia ou orixá africano

Da Página 3 Pedagogia & Comunicação

(Atualizado em 15/08/2013, às 14h01)

A imagem que se faz da Iara ou Mãe d'Água, em geral, é a de uma sereia, às vezes loira, mulher da cintura para cima, peixe da cintura para baixo, que fica sobre um rochedo, cantando. Com o canto, seduz o homem que passa, o marinheiro ou viajante, que, ao acompanhá-la para o fundo das águas, morre afogado.

Segundo o folclorista Luís da Câmara Cascudo, esse é um mito de origem europeia, que chegou ao Brasil na segunda metade do século 19. A sereia está presente na mitologia de diversos povos europeus. Aparece, desde a Odisseia, de Homero que data do século 9 a.C. Porém, no relato homérico, ela é meio pássaro e não peixe.

Das criaturas fantásticas que são metade mulher, metade peixe, entre os mitos europeus, a mais conhecida é Loreley, dos povos nórdicos e germânicos. É sobre ela que se contam as histórias de sedução de marinheiros que se afogam nas profundezas das águas, onde ela tem seu castelo.

Não está documentado nenhum mito semelhante entre os índios brasileiros dos séculos 16, 17 e 18 pelos cronistas e viajantes que percorreram o Brasil. Nas crenças indígenas, existem várias mães dos diversos elementos da natureza (a Mãe do Mato, a Mãe do Fogo, a Mãe da Fruta, etc.). São as Ci, em tupi.

No entanto, elas não têm forma humana. Na verdade, não têm forma propriamente dita. São entidades difusas, identificadas com o próprio elemento a que deram origem. Também não são entidades sedutoras nem maléficas. Apenas protegem seus filhos das agressões dos seres humanos.

Para os índios brasileiros, a criatura que reside nas águas e devora os homens ou os mata afogados é a Cobra d'Água, também chamada de Cobra Grande ou Boiúna, mas ela não se torna mulher. No Amazonas, é o mito do Boto que se transforma em gente, homem ou mulher, para seduzir o sexo oposto.

A Mãe d'Água, porém, está presente em outras tradições que ajudaram a formar o folclore brasileiro: as tradições africanas. É o caso de Iemanjá, dos negros iorubanos, um orixá do candomblé. Iemanjá é a mãe ou rainha das águas e é a entidade que deve ser cultuada especialmente por aqueles que vivem do mar, pescadores e marinheiros.

Por sua origem africana, Iemanjá, que ainda pode ser conhecida como Janaína ou dona Janaína, não tem originalmente a forma de uma sereia e nem é branca. É a mistura de várias tradições, lendas e mitos que vai resultar naquela mulher alva, vestida de azul-claro, que é representada, em geral, saindo das espumas do mar.

A propósito de Iemanjá, não se pode deixar de mencionar a festa em sua homenagem, que ocorre em Salvador (BA) no dia 2 de fevereiro. Trata-se de uma das maiores festividades religiosas do país. Apesar de não se tratar de um evento católico, ligou-se a essa religião pelo sincretismo que identificou Iemanjá com Nossa Senhora.