Curupira - O guardião das florestas
Na maioria das versões do mito, o Curupira é um menino pequeno ou um anão, de cabeleira vermelha, que tem os pés invertidos com os calcanhares voltados para trás. Essa imagem está de acordo com o significado de seu nome, que é formado de "curu", uma contração de "curumim", que significa "menino" e "pira" que quer dizer corpo. Daí "curupira" dar a entender algo como "corpo de menino", ou criatura com corpo de menino.
Em outras variantes do mito, porém, o curupira chega a ser um gigante. Suas características, por sinal, vão se modificando de acordo com os deslocamentos geográficos, conforme ensina o folclorista Luís da Câmara Cascudo. Em algumas regiões do Pará, ele tem quatro palmos de altura. No rio Negro, é calvo e tem o corpo peludo; no Solimões tem dentes azuis e orelhas grandes.
Não importam as variações, ele sempre tem os pés ao contrário, o que talvez se justifique por sua função de protetor das árvores, dos animais e da mata. Deixando rastros inversos, o curupira desorienta os caçadores e os faz se perder na floresta. Para confundi-los ainda mais, ele usa assobios que parecem vir de um lugar, quando, na verdade, vêm de outro.
O curupira também costumava ser a explicação de rumores misteriosos na floresta, desaparecimento de caçadores, perda de rumo ou esquecimento do caminho. Segundo algumas lendas, o curupira faz acordo com os caçadores, providenciando armas infalíveis para a caça, em troca de alimentos, de fumo ou de cachaça.
A oferenda de presentes no mato, para fazer o curupira acalmar-se e não atacar os seres humanos, é uma prática registrada entre os índios e mesmo entre os seringueiros e roceiros do Amazonas. Contudo, mudam os presentes: os índios oferecem colares, pulseiras e enfeites plumários, ao passo que os caboclos oferecem comida, bebida ou fumo.
Um mito muito próximo do curupira é o do caapora. "Caapora" vem de "caa" que quer dizer mato e "porá" que significa habitante, morador. O caapora tem a mesma imagem do anterior e, como ele, também é um protetor da floresta. No entanto, ele não tem os pés virados e costuma se deslocar montado em um porco ou javali.
Tanto o mito do curupira quanto o do caapora se difundiram em todas as regiões do Brasil. E se trata de um mito antigo, cujo primeiro registro escrito é uma carta do padre José de Anchieta, de 30 de maio de 1560. Nela, o padre fala que os índios de Piratininga (São Paulo) contavam de demônios que habitavam as matas e que atacavam os indígenas, precisando ser acalmados com presentes.
No Estado de São Paulo, uma lei de 1970 consagra o curupira como símbolo estadual do guardião das florestas.
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