Professor quer que indígena saiba português para "conhecer seus direitos"
A valorização da língua indígena é um tema recorrente entre os habitantes da região do Médio Rio Purus, sul do Amazonas, onde mora e trabalha o coordenador de educação indígena Joel Morais da Silva, 38. Apesar da importância e da necessidade de valorizar a língua materna, Silva defende que os indígenas não deixem de lado o aprendizado da língua portuguesa.
Para ele, aprender português é a forma que os indígenas têm de conhecer e lutar pelos seus direitos: “A Constituição garante que nossos direitos são iguais [aos dos não indígenas]. Ela garante, mas não está escrita em nossa língua. Para entendermos a Constituição, nós precisamos saber bem o português”.
Calcula-se que existam pelo menos 9 mil indígenas nessa região, segundo dados da Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena), vivendo ao longo da calha do rio amazonense – mas, de acordo com a Focimp (Federação das Organizações e Comunidades Indígenas do Meio Purus), esse número é, na verdade, 30 mil.
Vida de professor
O coordenador entrou pela primeira vez numa sala de aula aos dez anos para cursar o 1º ano do ensino fundamental - a idade indicada para iniciar essa etapa é seis anos. Em sua comunidade, os indígenas só podiam iniciar os estudos após os dez.
Ainda criança decidiu o que seria no futuro. “Quando pude entrar numa sala de aula, meu primeiro pensamento foi de que eu seria professor para ajudar meu povo”, relembra. Mas sua primeira experiência não teve nenhuma validade, conta, pois as aulas não eram reconhecidas pelo MEC (Ministério da Educação). “Tive que ir para cidade estudar novamente o que tinha estudado. Aí fui para o EJA [Educação de Jovens e Adultos] e fiz tudo de novo.”
Apesar das dificuldades, ele não pensou em desistir. Concluiu o ensino fundamental, cursou o ensino médio e passou a dar aulas em sua aldeia. Durante oito anos teve a responsabilidade de educar as crianças e adolescentes de seu povo, da etnia Paumari. Em 2012, foi convidado pela secretaria de Educação para coordenar um dos polos de educação indígena existentes em Lábrea, que fica a 701km de Manaus. Atualmente, é responsável por dez escolas, 22 professores e 420 alunos, do 1º ao 9º ano.
"Meu papel é visitar as aldeias e ver se está tudo bem. Faço o acompanhamento pedagógico de todos os locais", resume Silva sobre suas funções.
Futuro universitário
No próximo ano, Silva vai se dividir entre a vida de coordenador e a vida de estudante. Ele deve iniciar a graduação de pedagogia intercultural indígena, oferecida pela Ufam (Universidade Federal do Amazonas). Sua alegria é ainda maior, afirma, pois fará o curso com a filha de 20 anos, que é professora na aldeia há dois.
“Estou orgulhoso de mim e dela também. A expectativa é grande demais. Meus pais nunca esperaram que um dia a gente [indígena] pudesse chegar a isso”, diz emocionado. “Para mim é importante fazer faculdade, pois vou poder ajudar melhor na área de educação do meu povo”, ressalta.
*A jornalista viajou à convite da Caravana do Esporte e da Caravana das Artes, projeto da ESPN em parceira com o Instituto Esporte e Educação, Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) e Disney, que tem como objetivo levar a metodologia do esporte educacional e da arte-educação para comunidades do interior do Brasil com baixo IDH (Índice de Desenvolvimento Humano).
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