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Tivemos que ocupar para sermos ouvidos, diz símbolo das ocupações no PR

Janaina Garcia/UOL
Imagem: Janaina Garcia/UOL

Ana Carla Bermúdez

Do UOL, em São Paulo

10/11/2016 16h45Atualizada em 11/11/2016 11h55

As ocupações de escolas lideradas por estudantes secundaristas novamente ganharam força pelo Brasil. Por conta delas, até o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) teve que ser adiado em mais de 400 locais que seriam utilizados para a aplicação das provas.

O movimento, iniciado há pouco mais de um mês em colégios públicos do Paraná, contra a MP (Medida Provisória) 746, que trata da reforma do ensino médio, e a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) 241 e 55, que fixam um teto de gastos à União pelos próximos 20 anos - ganhou força e se espalhou até para universidades e institutos federais.

Para a estudante Ana Júlia Ribeiro, 16, que se tornou símbolo das ocupações paranaenses após discursar na Assembleia Legislativa do Estado, a estratégia de ocupar os colégios foi necessária para que os alunos fossem ouvidos.

"A gente ia às ruas, falava, ninguém entendia, ninguém escutava. Foi na ocupação que a gente viu que podia ser ouvido. Porque aí incomoda, foge da normalidade", explicou a jovem ao UOL, após participar de uma mesa de debates sobre os desafios curriculares do ensino médio, realizado em São Paulo nesta quinta (10).

"A gente esperava que o movimento ganhasse força - que ele deixasse de ser algo só ali, em Curitiba. Ficamos felizes em ver que isso está sendo alcançado aos poucos, que esse movimento está se tornando um movimento nacional", acrescentou Ana Júlia Ribeiro.

O ensino médio que eles querem

Nas discussões sobre o ensino médio ideal, Ana Júlia destacou que o grande problema hoje é que os responsáveis pelo sistema educacional não escutam quem de fato deveriam ouvir: os estudantes.

"A primeira atitude que deveria ser tomada é realmente ouvirem o que a gente quer, ouvirem o que esse pessoal que está ocupando quer", complementou Lidiane de Paula Pereira, 18, estudante de gestão social na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e ex-aluna de escola pública, convidada para participar das discussões.

"Para mim, deveria ter todas as matérias que tem e também uma maior valorização do professor", explicou Lidiane. Segundo a jovem, isso traria um dinamismo maior entre alunos, professor e conteúdo, além de ser um bom caminho para a interdisciplinaridade.

A universitária também defendeu um ensino médio com suporte de professores e psicólogos para que os alunos descubram seus talentos. "Hoje a gente não recebe essa atenção, estamos lá simplesmente para assistir às aulas. Não temos alguém que sente com a gente e nos ajude a ver no que somos bons".

Sobre o atual sistema de avaliação, os participantes foram unânimes ao criticar a supervalorização das provas no lugar dos alunos.

Para as alunas, o ensino médio ideal seria aquele em que o professor acompanharia os alunos ao longo dos bimestres, avaliando a interação dos alunos e o quanto eles conseguiram aplicar o conteúdo passado na própria vida.

“Seria uma avaliação mais justa e mais honesta do que a de hoje, em que você tem que decorar o conteúdo para fazer uma prova", concluiu Lidiane.

O seminário

O evento, realizado na quarta (9) e quinta (10), foi organizado pelo Instituto Unibanco, em parceria com o Consed (Conselho Nacional de Secretários de Educação), com o objetivo de contribuir com a discussão em torno das principais questões da etapa escolar no país.