Alunos de colégio ícone das ocupações no PR fazem Enem na região sul de Curitiba

Encravada num bairro residencial na região sul de Curitiba, a faculdade Bagozzi é local de provas para cerca de mil inscritos que tiveram o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) adiado para este fim de semana pelo MEC (Ministério da Educação) --inclusive alunos do Colégio Estadual do Paraná, ícone das ocupações de escolas contra a medida provisória que reformula o ensino médio no país.

É ali que a estudante Lyah Sala, 17, uma das líderes da ocupação no Estadual, começou a prestar o exame neste sábado (3). "Achei mais tranquila que a do ano passado. E reparei que muita gente não foi fazer a prova. Na minha sala, metade dos inscritos faltaram", disse ela.

Quase um mês após o fim da ocupação no colégio --um dos últimos a terem mandado de reintegração de posse cumprido --, Lyah vê o movimento como um divisor de águas em sua vida.

"Quero fazer faculdade de letras e dar aulas. Se a ocupação não tivesse acontecido, não sei se ia querer isso. Foi muito estimulante ver os jovens se mobilizando por uma causa que consideram justas. É claro que é frustrante não conseguir barrar a medida provisória. Mas é bom ver que não deixamos passar em branco, que conseguimos lutar", falou.

Colega de Lyah no Estadual e primeiro a deixar a faculdade Bagozzi neste sábado, Luca Faccio, 17, é um crítico das ocupações. "Foi algo desnecessário. Prejudicou a mim e a muita gente. Eu queria fazer o Enem o quanto antes", afirmou ele, que busca uma vaga numa faculdade de administração de empresas.

Luca disse considerar que as propostas da medida provisória que reformula o ensino médio "até têm base". "Mas não sei se sou a favor delas", admitiu ele, que achou a prova deste sábado "fácil".

Tal qual Lyah e Luca, a estudante Luisa Raffaela Cordeiro, 20, teve de fazer o Enem agora por causa da ocupação no final de outubro da escola estadual Paulo Leminski, no Tarumã, bairro da região leste de Curitiba. Apesar do adiamento da prova, ela disse apoiar os protestos.

"Foi um movimento muito legítimo", argumentou. "O adiamento do Enem mostrou muita má vontade do MEC. Era algo possível de ser contornado. Me pareceu uma tentativa de criminalizar o movimento dos estudantes", opinou ela, que está indecisa entre cursar direito ou "algo em comunicação".

A faculdade Bagozzi também foi local para o quinto Enem consecutivo de Luhan Honnywey, 20, atualmente aluno do terceiro período do curso de física de uma universidade particular de Curitiba. "É que estou meio insatisfeito", justificou ele, que também considerou as questões "tranquilas".

Em frente à faculdade Bagozzi, numa tarde chuvosa, a vendedora ambulante Michele Oliveira, 25, sonha em fazer o Enem ano que vem. Enquanto isso, oferecia aos poucos pais que esperavam os filhos o que tinha para vender em seu carrinho: maçãs do amor, cocadas, pés-de-moleque e espetinhos de frutas --esses os campeões de venda ("Se trouxer 50, vendo tudo").

"Apesar da chuva, hoje está mais movimentado que em novembro. E é mais tranquilo que em frente ao shopping ou no parque", relatou ela, se referindo aos locais onde estaria trabalhando se não fosse dia de Enem. "Antes das 18h, já posso ir embora", comemorou.

Segundo policiais militares que faziam a segurança em frente ao local de prova, dois inscritos chegaram atrasados ao local, e outros dois não puderam fazer a prova por terem esquecido os documentos.