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Como se a educação fosse boa no ano passado, diz Bolsonaro sobre protestos

Stella Borges

Do UOL, em São Paulo

16/05/2019 16h41

Um dia depois de chamar de "idiotas úteis" os manifestantes que participaram de protestos em todo o país contra os cortes do governo na educação básica e no ensino superior, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) voltou a falar sobre o tema hoje, dizendo que há "infiltrados" nas universidades e escolas.

"Vimos algumas capitais de estado com marchas pela educação como se a educação até o final do ano passado fosse uma maravilha no Brasil. Temos o potencial humano fantástico, mas a esquerda brasileira entrou, infiltrou e tomou não só a imprensa brasileira, mas também em grande parte as universidades e as escolas do ensino médio e fundamental", discursou Bolsonaro ao receber o prêmio de "Pessoa do Ano" no estado do Texas (EUA).

Ontem, o presidente enfrentou seu primeiro protesto nacional. Professores, estudantes e profissionais da educação participaram de manifestações em defesa das universidades federais, da pesquisa científica e do investimento na educação básica. Os maiores protestos foram registrados em São Paulo, em Curitiba e no Rio, e houve manifestações em todos os estados e no Distrito Federal.

"Mãos manchadas de sangue" e Argentina

Durante seu discurso, Bolsonaro falou ainda sobre os governos anteriores e citou "gente que tinha ambição pessoal acima de tudo" como um dos motivos para o Brasil não ter crescido como poderia. O presidente também lembrou governantes que, segundo ele, tem as "mãos manchadas de sangue", mas não especificou nomes.

"Quem até há pouco ocupava o governo teve em sua história suas mãos manchadas de sangue na luta armada, matando inclusive um capitão como eu naqueles anos tristes que tivemos lá no passado. Até rendo homenagem ao capitão Charles Chandler", referindo-se ao militar norte-americano assassinado pela guerrilha em São Paulo em 1968.

Em sua fala, Bolsonaro disse ainda esperar que a Argentina não vá pelo mesmo caminho da Venezuela e que o presidente Mauricio Macri está enfrentando dificuldades com a possibilidade de Cristina Kirchner, a quem se referiu como "amiga do PT", voltar ao poder. Ele prometeu visitar o país vizinho em breve.

Polêmica com o prêmio

Ao receber o prêmio, o presidente disse lamentar o cancelamento da viagem a Nova York para receber a homenagem. "Não posso ir na casa de outra pessoa onde alguém de sua família não me queira bem".

Bolsonaro desistiu de ir à cidade após as duras críticas do prefeito Bill de Blasio. Ele disse que Bolsonaro não era bem-vindo ao local e o chamou de racista, homofóbico e destrutivo.

No entanto, em seu discurso de hoje, o presidente disse que seu respeito e consideração pelos nova-iorquinos permanecia o mesmo e que receber o prêmio era um "momento de felicidade ímpar".

Inicialmente, Bolsonaro seria homenageado em um jantar de gala no Museu de História Natural de Nova York, mas o local desistiu de sediar o evento após críticas da comunidade acadêmica.

A premiação de "Pessoa do Ano" acontece anualmente e é organizado pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos desde 1970.

Normalmente, um brasileiro e um norte-americano avaliados como importantes para aproximar os dois países são escolhidos para receber o prêmio - pelo lado americano, o secretário de Estado da gestão Donald Trump, Mike Pompeo, foi o escolhido.

Homenageados incluem os ex-presidentes do Brasil Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e dos Estados Unidos Bill Clinton.

Na viagem ao Texas, Bolsonaro ainda se encontrou com o ex-presidente dos Estados Unidos George W. Bush e com empresários americanos.