Bolsonaro "não leu e não lerá" prova do Enem 2019, diz Weintraub

O ministro da Educação, Abraham Weintraub, disse hoje que o presidente Jair Bolsonaro (PSL) "não leu e não lerá" a prova do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) 2019. "Salvo uma coisa totalmente fora do 'script', eu não consigo imaginar [que ele leria]. O presidente está com uma agenda tão atribulada, por que ele vai parar para ler a prova? Ele não leu, e não lerá", afirmou o ministro.

No ano passado, ao criticar uma questão do Enem que tratava de um dialeto usado entre gays e travestis, Bolsonaro afirmou que iria "tomar conhecimento da prova antes" da sua aplicação. Ele também afirmou que, na sua gestão, o MEC não trataria assuntos "dessa forma". Em março deste ano, o governo Bolsonaro criou uma comissão para fazer uma avaliação ideológica das questões do Enem.

O ministro afirmou, no entanto, que o governo passou uma orientação para que qualquer conduta "ideológica" na elaboração das provas seja eliminada. "As pessoas que não performarem adequadamente serão desligadas [da pasta]", completou Weintraub. Ele disse ter demitido, nessa semana, um funcionário do MEC por esse motivo --sem, no entanto, detalhar as metas dessa performance.

Ontem, o MEC (Ministério da Educação) anunciou que a prova deste ano está pronta e já está na gráfica para impressão. O exame será aplicado nos dias 3 e 10 de novembro.

Também ontem, em audiência pública na Câmara dos Deputados, o presidente substituto do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísito Teixeira), Camilo Mussi, disse que os professores que integraram a comissão e tiveram acesso às questões assinaram um termo de sigilo e serão punidos pelo Código Penal caso haja qualquer tipo de vazamento.

Hoje, Weintraub afirmou que, salvo uma "hecatombe nuclear", ninguém da cúpula do MEC irá ler a prova antes da aplicação.

"Eu não li, o presidente não leu, ninguém que está aqui nessa mesa leu", disse Weintraub. Ao seu lado, estavam Mussi e Alexandre Lopes, presidente do Inep.

Enem digital

As declarações de Weintraub foram dadas em uma entrevista concedida a jornalistas para anunciar mudanças na prova do Enem, que terá um modelo piloto em formato digital já no ano que vem.

Segundo o ministério, prova será oferecida de forma opcional a 50 mil alunos de 15 capitais brasileiras no ano que vem e atingirá 100% das provas em 2026.

"Este ano, a aplicação do Enem é normal, em papel, mas vamos começar o preparativo para o piloto digital em 2020", disse o presidente do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), Alexandre Lopes.

O Enem digital será aplicado nos dias 11 e 18 de outubro de 2020. Já a prova tradicional, em papel, será realizada nos dias 1º e 8 de novembro do ano que vem.