Especialistas dizem que educação precisa de nova regulamentação para 2021
As escolas pós-pandemia de coronavírus deveriam ter regras menos rígidas, defende Ademar Batista Pereira, professor e presidente da Federação Nacional das Escolas Particulares. "Ainda é cedo para dizer, mas a escola em 2021 terá que pensar em outras maneiras de avaliar o aluno", afirmou Pereira na edição de hoje do UOL Debate sobre volta às aulas.
"Ano que vem será o [ano] de uma escola diferente do que começamos em 2020. Uma coisa é ter ensino remoto até o final do ano, mas vamos ter que pensar para o ano que vem. As coisas não vão mudar, o vírus não vai desaparecer, vamos ter que aprender a conviver", afirmou o representante das instituições privadas.
Critérios como a frequência em sala de aula, segundo Pereira, vão precisar ser revistos: "A partir de agora, não será possível ter regras tão rígidas, é o grande debate que precisamos fazer. A família precisa assumir o protagonismo, a escola tem que chamar a família".
Também participaram da discussão Daniel Cara, professor da Faculdade de Educação da USP (Universidade de São Paulo) e membro da Campanha Nacional pelo Direito à Educação; Suely Menezes, pedagoga e conselheira na Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, órgão ligado ao MEC (Ministério da Educação); Hermano Castro: diretor da Escola de Saúde Pública da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz); e Ademar Batista Pereira, professor e presidente da Federação Nacional das Escolas Particulares. A mediação foi de Ana Carla Bermúdez, repórter do UOL especializada em educação.
O novo cenário exigirá a democratização do acesso à internet e a computadores para os estudantes, avaliou Daniel Cara. "Para 63% dos pais essa experiência de ensino remoto é prejudicial. Temos que ter a compreensão de que a educação é um direito. O sistema escolar tem a responsabilidade de garantir esse direito", afirmou.
Seja com aulas presenciais, seja com ensino remoto, as circunstâncias da pandemia colocam a família como agente fundamental na educação, opina Suely Menezes. "Temos que mudar nossa postura, tem que haver comprometimento geral", afirmou. Para a educadora, os pais precisarão conversar com crianças para que elas possam ser parceiras no processo de retomada às aulas presenciais, entendendo os riscos de contaminação continuarão existindo mesmo em um cenário com diminuição de casos, que permitiria a reabertura de escolas.
Educadores 'tiram leite de pedra', diz professor da USP
Como são hoje, as escolas brasileiras - sobretudo as públicas - não têm infraestrutura que permita o retorno das aulas presenciais com o distanciamento social necessário, opinou Daniel Cara. Para ele, a solução do ensino remoto é uma "redução de danos", mas não garante o processo completo de aprendizado.
"Os alunos aprendem com os professores, mas também com a interação com os colegas. A boa neurociência mostra que os alunos aprendem entre si. O ensino remoto coíbe esse processo. Mas é importante ter a compreensão que o fundamental agora é salvar vidas. O impacto da pandemia não pode ser ampliado pelo retorno irresponsável às aulas", disse Cara. O professor da USP disse ainda que seus colegas "estão tirando leite de pedra" para ensinar durante a pandemia.
"Temos professores extremamente engajados. Então, concretamente, é possível recuperar. Não existe tempo perdido em termos educacionais. Todo aluno tem capacidade infinita de aprender. Agora, para isso, a tomada de educação no Brasil precisa ser tomada pelos educadores. Em relação à educação, é preciso colocar a ciência pedagógica à frente. Eu acredito nesse caminho, acho que é possível. A pedagogia já ensinou que é possível garantir o ensino em qualquer fase da vida", argumentou.
'Decisão de voltar às aulas não deve ser da família'
No final de julho, o Conselho Nacional de Educação, órgão ligado ao MEC (Ministério da Educação), recomendou que o controle de frequência dos estudantes seja flexibilizado e que os pais possam escolher sobre o retorno dos filhos às escolas. Hoje, no UOL Debate, Hermano Castro afirmou que essa não pode ser uma decisão exclusivamente da família.
"A gente não pode transferir essa responsabilidade para a família. Cometemos esse erro no começo da pandemia. Não dá para transferir para a família. Esse não é o papel do estado, não pode falar 'leve quem quiser'. Essas famílias não têm condições de avaliar. Ela vai avaliar pela condição social. Então, não é uma decisão que seja fácil para ela. Isso é uma responsabilidade. Não pode transferir", acrescentou Castro, que alertou que a "escola é um foco de contaminação", disse o diretor da ENSP/Fiocruz (Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz).
Castro atentou para a possibilidade de uma segunda onda de contaminação de coronavírus no Brasil: "Nos EUA, que reabriu e e pulou de 300 para 400 mil, aumentou em 40% a contaminação nas crianças. Crianças transmitem igual adulto. Tem que levar em consideração. Abrir prematuramente pode levar a novos surtos, e escola é um foco de contaminação. Esse controle é muito difícil. A escola não é uma redoma, mas quando ela entra ou sai, entra em outro mundo que é a realidade da cidade".
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