Topo

Enem 2020: 2º dia tem prova "arroz com feijão" e questão sobre Harry Potter

Enem 2020; veja fotos

Guilherme Botacini

Colaboração para o UOL, em São Paulo

24/01/2021 19h33Atualizada em 24/01/2021 21h57

O segundo dia do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) terminou hoje com duas provas tradicionais na avaliação de professores de cursinhos ouvidos pela reportagem do UOL.

Foram 45 questões de ciências da natureza (biologia, física e química) e 45 questões de matemática, feitas em cinco horas de exame.

"Foram questões que fazem parte da tradição do Enem, contextualizadas e que dialogam bem com o cotidiano dos estudantes", diz Daniel Perry, diretor do Curso Anglo.

Uma questão de matemática, por exemplo, abordou um anagrama (quando a reorganização das letras de uma ou mais palavras forma outra palavra ou frase) da série de livros e filmes "Harry Potter".

O exame não abordou o novo coronavírus, como esperado pelos professores entrevistados, não teve polêmicas e foi, de modo geral, de nível médio, segundo professores.

Foi uma prova que seguiu a tendência de ser neutra e cobrou o arroz com feijão dos alunos.
Fernando da Espiritu Santo, gerente de Inteligência Educacional e Avaliações do Poliedro

O Enem feito neste mês é o exame adiado de 2020, devido à pandemia da covid-19. Foram cerca de 5,5 milhões de inscritos.

No primeiro dia, no entanto, o exame registrou abstenção recorde, com 51,5% dos candidatos inscritos ausentes.

As abstenções do segundo dia chegaram a 55%, segundo o Inep, outro recorde.

Ciências da natureza

A prova de ciências da natureza foi considerada bem equilibrada entre as três disciplinas que compõem a área —biologia, química e física—, segundo professores de cursinhos.

Além disso, as três provas trouxeram temas clássicos do Enem.

Biologia, por exemplo, foi bastante carregada em ecologia e teve três questões sobre o impacto da exploração do petróleo. Também apareceram questões sobre tipo sanguíneo, genética e dinâmica das populações.

Foi uma prova exigente. "Foi uma prova de nível médio para difícil. O aluno precisava de boa interpretação de texto e de gráficos", diz Guilherme Francisco, professor de biologia do Objetivo.

"Tivemos questões sobre biotecnologia, tema costumeiro no Enem. Mas essa edição cobrou a compreensão dos mecanismos e técnicas dessa biotecnologia, para além dos aspectos éticos acerca dela", diz Ricardo Jorge, professor de biologia do Sistema Farias Brito.

Apesar da percepção de que foi uma prova tradicional, a falta de alguns temas chamou a atenção. "A fisiologia humana, que acompanhava a ecologia como os assuntos mais cobrados, não apareceu neste ano", diz Jorge.

Professores avaliaram que a prova também foi interdisciplinar. "As questões de química foram muito interdisciplinares, principalmente com biologia, numa interface muito bem escrita. Nitidamente foi feita por biólogos e químicos trabalhando juntos", diz Pietro Escobar professor de química da Oficina do Estudante.

A prova de química foi bastante diversa e sem questões trabalhosas, segundo Sérgio Teixeira, professor de química do Objetivo.

"Sem questões trabalhosas e sabendo a matéria, o aluno não perderia muito tempo, teria praticamente uma resposta direta e imediata", diz.

Apareceram conteúdos e conceitos de todo o ensino médio, da químico-física à química orgânica, em assuntos como misturas, estequiometria e radioatividade.

A prova de física, também considerada tradicional, trouxe temas clássicos: movimento uniforme, lançamento horizontal, entre outros.

"Foi uma prova antenada com temas do cotidiano, como uma questão sobre o trânsito de cidades que falava sobre o cálculo de intervalo de tempo entre semáforos e outra sobre o conceito de produção de energia em uma hidrelétrica", diz Thomas Haupt, professor de física do Objetivo.

Por outro lado, a prova de física trouxe um assunto pouco usual nos últimos anos do exame, a eletrostática.

"Geralmente temos mais questões de mecânica, mas nesta edição a parte mais abordada foi eletricidade e magnetismo, com duas questões de eletrostática, que não havia caído nos últimos oito anos de Enem", afirma Rodrigo Araújo, professor de física da Oficina do Estudante.

Matemática

Além da questão que trouxe um anagrama da série Harry Potter, a prova de matemática também foi considerada tradicional.

"Seguindo essa tendência, mais de 50% das questões podiam ser resolvidas com conceitos simples de razões e proporções", diz Fernando da Espiritu Santo, do Poliedro.

A maior prova do Enem, com 45 questões, trouxe conteúdos como probabilidade, notação científica, regra de três, análise combinatória e porcentagem.

"Foi uma prova muito bem elaborada, mas não muito fácil", diz Marcelo Melo, professor de matemática do Objetivo. Ele aponta, por exemplo, que uma questão de exponenciais era muito trabalhosa. "Havia a necessidade de se trabalhar item por item."

Chamou sua atenção a ausência de questões de geometria analítica e funções trigonométricas.

A estatística, que costuma aparecer com alguns conceitos clássicos, apareceu pouco. "A estatística apareceu bem tímida, apenas com média aritmética e ponderada, sem conceitos como média, moda, mediana e desvio padrão", diz Mario Eduardo Fernandes, professor de matemática da Oficina do Estudante.