Aluno criticado por sugerir trabalho com tema LGBT em escola recebe apoio
A família do aluno de 11 anos que foi rechaçado em grupo de WhatsApp por sugerir trabalho com tema LGBT prestou depoimento hoje sobre o caso na diretoria de ensino em Campinas, interior de São Paulo. De acordo com a irmã da criança, Danielle Cristina, desde que o caso repercutiu na internet, os familiares têm recebido diversas mensagens de apoio e um protesto está marcado para esta quinta (17) em frente à instituição.
"Agora eu estou com o coração mais tranquilo por ver ele feliz. Ele começou a receber todo esse carinho do pessoal. Eu achei um absurdo na hora que aconteceu, eu fiquei muito revoltada porque eu vi ele chorando muito, ele chorava pelos cantos", contou Danielle em entrevista ao UOL.
Na última sexta (11), o irmão de Danielle sugeriu em um grupo de WhatsApp que a turma fizesse um trabalho com o tema LGBT, em acordo com a celebração do mês do Orgulho LGBTQIA+, que acontece anualmente em junho. Entretanto, a sugestão foi rechaçada por pais de alunos e a criança chegou a receber a ligação de uma mediadora da escola pedindo para que ele apagasse o comentário.
Segundo Danielle, uma pessoa havia ligado para a criança identificando-se como coordenadora da escola. Entretanto, o cargo da funcionária era de mediadora da instituição.
"A escola até agora não entrou em contato. Eu tô com duas advogadas no caso e a gente só consegue contato com a escola se a gente for atrás", comentou a irmã do aluno, que descobriu a função da mulher após a procura das representantes.
No dia do telefonema, Danielle interveio no meio da conversa da mediadora ao ver o irmão chorando ao telefone. "Ele chorava muito, eu nunca vi meu irmão chorar tanto. Ele ficou muito triste, não comia. Ele chorava pelos cantos da casa como se tivesse feito de algo errado. Não sei o que ela [mediadora] falou mais para ele no telefone."
Em publicação realizada pelas redes sociais, Danielle afirmou que a mediadora exigiu que o aluno retirasse o comentário do grupo senão ele seria removido. "Falou para ele que era inapropriado, inadmissível. Que era um absurdo ele ter colocado aqui no grupo, que ele precisava de tratamento", relatou na ocasião.
A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (Seduc-SP), procurada ontem pelo UOL, afirmou que está apurando o caso e que um apoio psicológico foi disponibilizado para a criança. O suporte foi confirmado hoje por Danielle.
"É um absurdo gigantesco o que fizeram. Eles estão lá para dar amparo e não vir com atitudes preconceituosas. Além de ter todo o preconceito, eles também foram omissos. E quando começou a coagir o menino foi pior ainda. É uma criança de 11 anos. Eu acho que se não tivesse repercutido tanto, ele poderia estar entrando em uma depressão", afirmou Danielle
Protestos marcados
Com a repercussão do caso, Danielle afirma que foi incluída em um grupo onde pessoas estão organizando uma manifestação nesta semana em frente à escola. De acordo com ela, diversos estudantes pretendem levar trabalhos com a temática LGBTQIA+. O apoio, inclusive, incentivou o irmão a continuar com a proposta de estudo, mesmo que fora da escola.
"A gente está recebendo muita mensagem de apoio e carinho. As pessoas estão marcando de ir à escola levar trabalhos sobre a comunidade LGBTQIA+, sobre preconceito, abrangendo todo o tema", contou. Já hoje, Danielle relatou ter visto alguns cartazes colados na fachada do edifício pedindo pelo fim do preconceito.
"Ele está extremamente feliz, está ansioso por isso. Ele está aprendendo mais ainda sobre o tema."
Danielle diz que nunca recebeu nenhuma reclamação do irmão na escola e que a situação foi um momento inusitado.
"Ele sempre foi um ótimo aluno, com ótimas notas. Nunca me deu trabalho. As professoras sempre falam bem. Ele me enche de orgulho."
Diretoria da escola se pronuncia
Em nota enviada ao UOL, a Secretaria da Educação de SP (Seduc-SP) lamentou o ocorrido e reafirmou que "se coloca contra qualquer tipo de preconceito e discriminação."
A Secretaria também informou que, após a conversa com a família do estudante ontem, a diretoria da escola se retratou por meio de uma carta. Além da retratação, informa a nota, um Processo Administrativo Disciplinar (PAD) também será instaurado.
O estudante, a família e a comunidade escolar também deverão receber apoio de uma equipe do Programa de Melhoria da Convivência e Proteção Escolar (Conviva SP).
Em carta, a direção da EE Aníbal de Freitas afirmou que o ocorrido "tomou proporções e consequências lamentáveis."
"Ao propor um tema de estudo que envolvia a temática LGBTQIA+ um aluno de nossa escola encontrou uma recepção que lamentamos grandemente. A Escola deve ser um espaço de acolhimento, mas infelizmente, neste momento, dificuldades de comunicação atrapalharam o correto encaminhamento desta situação", diz carta.
A escola ainda afirmou que, assim como a Seduc-SP, "acredita na diversidade e nos direitos de todas as pessoas de ocupar os espaços de cidadania."
Em vista do ocorrido, a instituição afirmou que se prontifica a promover o acolhimento do aluno e da família, a realizar formações com o corpo docente, funcionários e direção da escola para o enfrentamento de todas as formas de discriminação e preconceito e rever as formas de comunicação com os alunos e as famílias "para que privilegiem o diálogo e a convivência solidária".
A instituição também disse que vai "valer-se do Programa CONVIVA- Programa de Melhoria da Convivência e Proteção Escolar para que a escola seja um ambiente de aprendizagem solidário, colaborativo, acolhedor e seguro, na busca da melhoria da aprendizagem."
Além disso, a escola também pretende disponibilizar o Programa Psicólogos na Educação para o acompanhamento da situação e "apurar as eventuais responsabilidades funcionais".
"A equipe gestora coloca-se à disposição para manter um canal aberto de diálogo que enriquecerá as experiências de todos os envolvidos", finaliza a carta.
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