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Ribeiro diz que recebeu pastores, mas nega tratamento especial e propina

Ministro da Educação, Milton Ribeiro - Luis Fortes/Ministério da Educação
Ministro da Educação, Milton Ribeiro Imagem: Luis Fortes/Ministério da Educação

Do UOL, em São Paulo

23/03/2022 19h08

O ministro da Educação, Milton Ribeiro, confirmou hoje que recebeu pastores citados em áudio divulgado pelo jornal "Folha de S.Paulo", mas negou ter dado tratamento especial a eles e revelou surpresa com a informação sobre o pedido de propina, apontada por um prefeito. Essa é a primeira entrevista concedida por Ribeiro após a denúncia. O chefe do MEC ainda garantiu que não vai deixar o cargo após as denúncias e que Bolsonaro o ligou no dia em que os áudios foram divulgados. Ele [Bolsonaro ] falou que eu permaneço, que eu fico de acordo com a sua confiança".

Eu recebi dois pastores a pedido do presidente. Está bem claro. Não os conhecia. Ele [Bolsonaro] pediu para receber uma vez e eu o fiz, normalmente, como recebo outros. Veja, ele não pediu tratamento especial, ele pediu para atendê-lo. Milton Ribeiro, em entrevista à CNN Brasil, nesta quarta-feira (23)

Segundo a reportagem publicada pela Folha na última segunda (21), o governo federal prioriza a liberação de recursos a prefeituras indicadas por dois pastores que não têm cargos oficiais no MEC (Ministério da Educação) —Gilmar Silva dos Santos e Arilton Moura Correia. Na gravação obtida pelo jornal, Ribeiro diz que isso atende a uma solicitação do presidente. Na ocasião, participaram prefeitos, os dois pastores e lideranças do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação).

Após a divulgação do áudio, diversos parlamentares acionaram órgãos de controle público devido às denúncias contra a gestão de Milton Ribeiro no MEC. Já a Frente de Prefeitos classificou o suposto direcionamento de verbas como "lamentável".

Apesar da pressão, o ministro disse que nunca pensou em deixar o cargo e se colocou à disposição do Congresso Nacional para dar as explicações necessárias.

Nunca pensei [em deixar o cargo]. Meu caminho está reto. O pedido dos parlamentares, quando houve um boato de que eu seria convocado, me coloquei à disposição. Pedi para o Lira e para o Pacheco para ir lá. Ministro da Educação, Milton Ribeiro

Ribeiro nega pedido de propina

Nesta terça-feira (22), o jornal O Estado de S. Paulo também revelou que um dos pastores que controlam um gabinete paralelo no Ministério da Educação pediu pagamentos em dinheiro e até em ouro em troca de conseguir a liberação de recursos para construção de escolas e creches, segundo informação repassada pelo prefeito do município de Luís Domingues (MA), Gilberto Braga (PSDB).

Segundo ele, o pastor Arilton Moura solicitou R$ 15 mil antecipados para protocolar demandas da prefeitura e mais um quilo de ouro após a liberação dos recursos.

Questionado sobre o suposto recebimento de propina no MEC, Ribeiro revelou surpresa. "Eu nunca soube disse, jamais concordaria com isso. Eu sou um ministro que mandou 730 prefeitos para o TCU em 15 meses, por desvio ou por usar de maneira errada as verbas da Educação. Então, eu jamais soube disso", afirmou.

Atuação de pastores no MEC

No ano passado, em evento no MEC com os dois pastores citados na reportagem da Folha, prefeitos conseguiram a liberação de recursos para novas obras. Um deles, da cidade de Anajatuba (MA), que tem 27 mil habitantes, obteve seis obras empenhadas. De acordo com a reportagem, a prefeitura nem sequer comprou os terrenos.

Segundo o prefeito do município, Helder Aragão (MDB), ele se encontrou com o pastor Arilton em um hotel da capital federal, mas disse não ter amizade com ele: "Fui até um hotel em Brasília onde tinha vários prefeitos e ele falava que conseguia obra para o FNDE". Aragão garantiu, porém, que não negociou obras com os pastores nem com pessoas do MEC, e que os empenhos foram garantidos pelos meios corretos.

Na semana passada, o jornal O Estado de S. Paulo havia revelado a atuação dos dois pastores dentro do MEC. A reportagem afirma que eles aparecem em 22 agendas oficiais da pasta. Eles também teriam participado de compromissos não oficiais com o ministro da Educação.