Mãe e filha são aprovadas no mesmo curso da UFPR: 'Juntas vamos vencendo'
A alegria de passar no vestibular veio em dose dupla para gestora de TI (tecnologia da informação) Amanda Saad Grape, 21, e a mãe dela, a diarista Andréa, 48, moradoras de Curitiba. As duas ingressaram juntas em engenharia industrial madeireira na UFPR (Universidade Federal do Paraná). O curso era um sonho antigo da mãe, que acabou contagiando a filha, com quem agora divide a sala de aula.
A lista de aprovados, divulgada no dia 23, causou comoção na família. "Eu estava no banheiro do trabalho e comecei a gritar. Uma colega perguntou: 'Você viu um sapo?'. 'Não, eu passei na Federal!'", conta Amanda.
A notícia foi rapidamente compartilhada com a mãe, que também estava no trabalho no momento da divulgação dos aprovados. "Eu não conseguia acreditar", diz Andréa.
A diarista já havia sido aprovada no mesmo curso em 2009, quando a filha tinha 9 anos. Ela chegou a frequentar as aulas, mas, com a rotina pesada, se viu obrigada a trancar o curso três anos depois. "Às vezes eu aproveitava a hora do almoço para passar roupas ou fazer comida na casa de algum professor que sabia da minha situação", diz ela.
Após a desistência, Andréa, cujos pais não completaram o 4º do ensino fundamental, conseguiu uma bolsa do Prouni (Programa Universidade para Todos) para fazer um curso de tecnólogo em Recursos Humanos, que ela concluiu em dois anos.
No entanto, a experiência serviu para a filha também criasse interesse pela área. "Às vezes eu ia com ela para a aula, passeava pelo campus. Mais tarde, quando fui na minha primeira Feira de Cursos e Profissões da UFPR, passei pelo estande do curso e minha mãe me explicou as propriedades da madeira. Ela também me contava sobre as aulas de campo, e tudo isso foi me encantando", lembra Amanda.
Apesar do interesse, Amanda decidiu adiar um pouco o sonho da engenharia madeireira. Também com bolsa do Prouni, ela concluiu o curso de Gestão de Tecnologia da Informação em uma instituição privada em 2020.
A tentativa de retomar os estudos na área de interesse veio no ano passado, quando a UFPR abriu as inscrições para o vestibular. Amanda propôs à mãe que as duas fizessem a prova juntas. De início, Andréa ficou indecisa, mas acabou aceitando o convite.
"É uma área que envolve muitos cálculos, e eu sempre tive facilidade com Matemática. Tenho muito interesse pelas tecnologias envolvidas, pelas possibilidades de uso sustentável da madeira", diz ela.
Na primeira aprovação, a diarista conseguiu fazer dois meses de aula em um cursinho pré-vestibular solidário organizado por uma paróquia. No entanto, desta vez, ela decidiu estudar somente pela internet. "Dei uma revisada e assisti a algumas videoaulas com a Amanda" conta.
Aprovadas juntas, mãe e filha acreditam que realizar o curso uma ao lado da outra tornará o desafio mais fácil. "É difícil conciliar trabalho e estudo, mas juntas a gente vai vencendo. Dá mais ânimo", diz Andréa. "[Amanda] sempre foi boa aluna e muito companheira. Aqui em casa gostamos de colo e de grude."
A família pretende comprar um carro em breve para facilitar os deslocamentos entre trabalho e faculdade e ainda contam com o apoio do pai de Amanda, que tem um quiosque de papelaria e presentes, e o filho mais velho do casal, que cursa Educação Física, para garantir a rotina de estudos.
"Agora quem vai para a cozinha é o marido, preparar as nossas marmitas", diz Andréa.
Animada, a mãe já pensa em futuramente ser uma engenheira autônoma e, quem sabe, abrir uma empresa de reflorestamento.
Já Amanda sonha em fazer um intercâmbio na Alemanha. "Eu adoro pesquisa, e a Alemanha é referência na área que escolhi", diz ela.
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