História de São Jorge: quem foi o 'santo guerreiro' e protetor de clubes
O dia 23 de abril é a data em que muitas pessoas acendem velas para São Jorge. A data é importante no calendário católico e feriado no estado do Rio de Janeiro.
Inspirador de diversas canções e com relação com times de futebol como Corinthians e Barcelona entre outros, São Jorge também expandiu sua veneração para além das fronteiras fluminenses.
O santo é o padroeiro da Inglaterra, além de ser festejado na Espanha (sobretudo na região da Catalunha), em Portugal, no Canadá, na Lituânia, na Rússia, na Bulgária, entre outros países.
São Jorge, inclusive, é um dos poucos santos venerados pela Igreja Católica e pela Igreja Ortodoxa. A igreja anglicana também tem Jorge entre os seus canonizados.
A história de São Jorge
A primeira coisa a saber sobre São Jorge é que não é possível confirmar se ele existiu, de fato, ou não. Isso se aplica a muitos santos da antiguidade cristã.
Não temos muitos registros históricos sobre a figura de São Jorge. Temos aquilo que nos foi passado pela tradição Dayvid da Silva, professor e coordenador do curso de Teologia da PUC-SP.
A tradição, então, diz o seguinte: Jorge teria nascido por volta do ano 280 d.C. na Capadócia, atual Turquia, e se mudou mais tarde para a região da Palestina. Ao longo da vida, ele se alistou no exército do Império Romano.
Jorge, que era cristão, foi morto em 303 d.C. porque teria se negado a matar e perseguir cristãos — uma ordem direta de Diocleciano, então imperador romano.
Por esta razão, conta a história que Jorge foi decapitado no dia 23 de abril. A data seria lembrada depois como o dia de homenagens ao santo.
O local da morte é incerto: algumas fontes apontam que o futuro santo guerreiro teria sido assassinado na cidade de Lida, em Israel, onde os supostos restos mortais repousam até hoje. Já outras apontam a cidade de Nicomédia, na Turquia.
O surgimento do santo guerreiro
Embora a figura histórica de São Jorge não tenha a existência comprovada, a santidade de Jorge da Capadócia surge tempos depois do dia 23 de abril de 303 d.C..
Nos séculos 6 e 7 já há padres da igreja mencionando São Jorge. Com o fim da perseguição aos cristãos e depois com a cristianização do Império Romano em 380 d.C., a memória dos cristãos que deram sua vida antes os transformou em mártires Fernando Torres Londoño, professor do departamento de História da PUC-SP.
Como, então, um mártir se converteu em um guerreiro montado em um cavalo, empunhando uma lança diante de um dragão cuspindo fogo? A resposta está na Espanha, a partir do século 8.
Com as conquistas dos cristãos do norte de Espanha sobre os territórios ocupados pelos reinos árabes, os santos associados à cultura militar tiveram grande valorização, entre eles São Jorge. Ele passou a ser visto como protetor dos cristãos contra os mouros, como se tivesse aparecido no céu para acompanhar os cristãos nas suas vitórias Fernando Londoño.
As cruzadas deram ainda mais força à mitologia de São Jorge. Por volta do ano 1096, soldados cristãos rumaram a Jerusalém com o intuito de conquistar a chamada Terra Santa.
"Com as primeiras cruzadas, a fama de São Jorge se expandiu ao regresso dos soldados à Europa. Capelas em nome do santo que teria protegido os cristãos dos muçulmanos se levantaram por toda Europa e um dos símbolos do santo, a cruz com as quatro pontas iguais em vermelho, se espalhou por brasões e bandeiras", acrescenta Londoño.
A lenda de São Jorge contra o dragão
Lenda, mesmo, o santo guerreiro virou a partir de 1290. Nesta época, um escriba dominicano conhecido como Jacopo de Varazze compilou histórias dos primeiros santos em um livro conhecido como "Lenda Dourada". São Jorge estava nas páginas - mas a história do soldado turco ganhou ares muito diferentes.
No capítulo dedicado a São Jorge há a história de uma cidade que sofre com um dragão que queimava casas e contaminava a água. Para acalmar o monstro, jovens virgens eram entregues para sacrifício.
"Quando foi a vez da filha do rei, São Jorge teria aparecido montado em seu cavalo. Após vencer o dragão, o santo teria cortado a cabeça do animal. Toda a cidade se converteu ao cristianismo depois do episódio", contou Londoño.
São Jorge e Ogum: sincretismo brasileiro
São Jorge é um dos santos com maior devoção no Brasil. Isso é notório com a presença dele em letras de música, sambas-enredo e em outros elementos culturais. Religiões de matriz africana, como candomblé e umbanda, também veneram São Jorge - ali ele tem outro nome: Ogum.
"O sincretismo religioso nada mais é do que uma atualização da fé do conquistado. Quando os portugueses vieram para o Brasil e impuseram a fé católica, os escravizados negros de matriz africana adaptaram a fé deles. Então, São Jorge virou Ogum, que é o orixá guerreiro", contou Silva.
Oração de São Jorge
Os fiéis de São Jorge costumam recitar uma oração especial em homenagem ao santo - que já foi parar até em música. Confira abaixo:
Ó São Jorge, meu Santo Guerreiro, invencível na fé em Deus, que trazeis em vosso rosto a esperança e confiança, abre meus caminhos.
Eu andarei vestido e armado com vossas armas para que meus inimigos tendo pés não me alcancem, tendo mãos não me peguem, tendo olhos não me enxerguem e nem em pensamentos possam me fazer mal. Armas de fogo o meu corpo não alcançarão, facas e lanças se quebrarão sem ao meu corpo chegar, cordas e correntes se arrebentarão sem o meu corpo amarrar.
Glorioso São Jorge, em nome de Deus, estendei vosso escudo e vossas poderosas armas, defendendo-me com vossa força e grandeza.
Ajudai-me a superar todo desânimo e a alcançar a graça que vos peço (neste momento é citado o pedido).
Dai-me coragem e esperança, fortalecei minha fé e auxiliai-me nesta necessidade.
São Jorge, rogai por nós. Amém.
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