Maratona final para Exame da OAB tem muitas dicas e cover de Anitta
As mochilas pesadas são lotadas de livros que mais parecem bíblias e dicionários gigantes. Alguns têm quase um palmo de largura. Quem carrega um Código Civil traz no rosto a tensão e a cara de sono de quem anda virando noites e estudando entre as brechas que a correria do dia a dia permite. Três dias antes do 11º Exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que acontece no domingo (18), os candidatos que, na maioria dos casos, dividem o tempo entre o trabalho e estudo em uma rotina pesada, agora sentem a ansiedade e o medo de não passar na prova. E, com isso, deixar de concretizar seu maior objetivo: advogar.
Na reta final do 11º Exame, o segundo a ser realizado este ano, boa parte dos cursos preparatórios para a prova realizam maratonas com as principais dicas para os candidatos encararem as 80 questões da primeira fase da prova. Para ser aprovado é necessário acertar metade das questões, todas com múltiplas alternativas. E nenhum candidato consegue isso sem ter um bom desempenho na prova de Ética, que corresponde a 25% da prova.
A importância da disciplina faz com que as maratonas de Ética sejam disputadas nos cursos especializados no Exame da Ordem. Na manhã de quinta-feira (15), mais de 100 alunos saíram de casa enfrentando muito frio -- a madrugada registrou sensação térmica de 1ºC -- em São Paulo, para acompanhar o "Gabaritando Ética", no curso Damásio.
O professor Marco Antônio diz em aula que, nas vésperas da prova, “a lógica é que a dica responda à maioria das questões por associação”. “É um êxtase diferenciado acertar uma questão que você não estudou não é?”, brinca ele. A tensão dos alunos, no entanto, não cede nem durante uma piada ou outra do professor. Não há conversas paralelas e todos parecem concentrados. Em alguns momentos, só o que se houve é o tec-tec-tec das teclas do notebooks por quem não deixa de anotar nada.
“É uma rotina puxada, mas, ao mesmo tempo, a gente sabe que precisa passar, senão a faculdade não vale de nada”, diz a bacharel em direito Ana Paula Brenae Vieira, 27. Depois de prestar o 9º Exame, o recordista de reprovações, ela diz ter ficado traumatizada. “Foi uma prova que surpreendeu até os professores, pois estava muito difícil”, completa.
Ana Paula estuda em média cinco horas por dia. Sem trabalhar, dedica-se exclusivamente aos estudos. “Fiz um cronograma de matérias e vou dividindo, porque também não adianta ficar o dia inteiro estudando uma coisa só. A cabeça não absorve. Aulas como essa ajudam muito, são boas por que focam em dicas e evitam que a gente caia em pegadinhas. Ética dá para matar com certeza na prova”, diz a estudante. Depois de prestar seu primeiro Exame no final da faculdade, ela hoje acredita que a melhor opção é fazer a prova da OAB após a graduação. “Acho melhor porque você tem menos preocupação e consegue se dedicar mais”.
No meio de centenas de alunos, as histórias se misturam. Há quem passe apenas na primeira fase e não consiga superar a segunda. Outros, desistiram da prova após reprovações em sequência e agora se preparam para novas tentativas. Entre a maioria de ansiosos, estão também os confiantes, mesmo que o passado não pareça tão otimista. É o caso de Edgard de Souza, 54. Formado em direito em 2007, ele tenta desde então, fazendo exames intercalados, adquirir sua carteira da OAB. Mas ele sempre para na segunda fase. No entanto, ele acredita que dessa vez vai passar. “Se eu estou confiante? Claro, ou não estaria aqui né?”, diz ele ao sair do aulão de Ética.
“Prepara o baile pra me ver... passando”
Faltam pouco mais de 48 horas para o Exame da Ordem quando dona Antonina, o trio de colegas Janaína, Erica e Jean e o casal Luciano e Maria chegam ao espaço Hakka, no bairro da Liberdade, também em São Paulo, para participar do “Dia D”, uma maratona de dicas, das 8h às 19h, promovido pelo curso LFG. Cerca de 1.200 alunos acompanham as aulas animadas dos professores que, para ajudar a eliminar a ansiedade e insegurança dos alunos, recorrem ao funk de Anitta e Naldo e também a técnicas de motivação. Funciona.
Os estudantes extravasam, gritam, choram. Mas na hora em quem o professor Alessandro Sanchez entra fantasiado de Anitta fazendo um cover da música “Prepara”, com letra adaptada ao contexto da prova, eles deixam os cadernos de lado e registram com o celular “o mico” do professor. O novo verso cai fácil na boca dos candidatos: “prepara o baile para me ver … passando”. Na OAB, claro. Para ele, tudo é questão de ajudar a relaxar quem vai encarar a prova.
Entre os presentes, os cabelos grisalhos de Antonina Maria Almeida de Araújo chamam atenção. Aos 66 anos, a assistente imobiliária faz a ola da motivação, ri com as brincadeiras dos professores e permanece atenta às dicas. Cursando o último semestre do curso de direito, ela vai prestar seu primeiro Exame de Ordem. Se a maioria dos estudantes está nervosa e tensa, Antonina parece serena. Talvez, um benefício da experiência.
Em sua segunda graduação -- a primeira foi em gestão imobiliária, área em que trabalha há 17 anos --, Antonina conta que melhorar sua atuação foi o que a incentivou a cursar direito. “Tudo o que você faz na vida tem relação com o direito. Na minha área, tem regras para o vendedor, o comprador. A faculdade vai me ajudar nesse sentido”, diz ela. Aluna da universidade Estácio, Antonina diz não ter uma rotina puxada de estudos. “Sou mais de assistir aula. Não falto nunca. Aí aos domingos dou mais uma estudada, leio no metrô, e assim vai”.
O trio de colegas Janaína Bezerra da Silva, 25, Erica Ferraz, 31, e Jean Carlo Rosa, 32, também estão juntos na preparação para a prova. As moças estão encerrando o curso de direito e dedicam de duas a três horas do dia para estudar para o Exame, o primeiro que prestam. Para eles, não há como ver o outro como concorrente já que na prova não há limitação no número de aprovados, o que reduz o clima de disputa entre os candidatos.
“O segredo para passar é mesmo dedicação. E as aulas que ajudam a ver melhor o que pode cair na prova”, diz Janaína, que pretende seguir na área de direito tributário. “Eu adoro tributário. As pessoas não gostam muito, não sei o porquê. O bom é que reduz o número de concorrentes”, brinca a estudante, que conseguiu flexibilidade no trabalho para poder estudar para a prova. Erica, trainee em uma empresa que atua no ramo da previdência, estuda refazendo muitos exercícios, simulados e confessa que direito constitucional é seu atual bicho de sete cabeças devido ao excesso de conteúdo.
Jean, que trabalha como assistente jurídico, enfrenta pela terceira vez a prova da OAB. Foram 37 pontos no 8º Exame, e 35 no 9º, considerado o mais difícil. Para organizar melhor os estudos e encerrar a faculdade tranquilamente, ele escolheu não fazer o último exame, realizado em abril. “Preferi terminar a faculdade, fazer o trabalho de conclusão de curso com calma e depois me dedicar ao Exame”, diz Jean, mais confiante. “Minha única advertência sobre a prova é de que ela deveria ter pesos iguais nas disciplinas. Essa diferença dificulta, pois às vezes você não vai bem em uma área, com muitas questões, e vai bem em outra, com menos pergunta. É complicado”.
Casal unido pelo direito
O casal de namorados Luciano Marques, 35, e Maria Cláudia Chaib Gamito, 23, se conheceu durante o trabalho de atendimento à comunidade na faculdade de direito. Ele terminou o curso de direito em 2007, e ela acabou de encerrar o último semestre do curso. No entanto, Luciano acompanhou a namorada no Dia D apenas para dar um “apoio moral”.
“Estou muito nervosa. Tem horas que eu fico tensa, outras eu fico tranquila”, diz Maria, que fará o seu primeiro Exame da Ordem. Enquanto isso, o namorado, que hoje mora em outra cidade, garante que ela está preparada. “Ela está sempre estudando. Sempre que eu ligo no final de semana, ela está estudando. É uma CDF”, brinca ele, que pretende retomar o sonho de advogar e, em novembro, vai prestar o 12º Exame. “Quero advogar para nós dois trabalharmos juntos. Não vejo a hora de pegar a vermelhinha”, diz Luciano em referência à carteira da OAB.
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