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Brasil: 50% dos professores não têm didática para tudo que ensinam

Karina Yamamoto

Do UOL, em São Paulo

25/06/2014 06h00Atualizada em 25/06/2014 10h36

Cerca de metade dos professores brasileiros não têm formação didática para todas as matérias que ensinam. Por exemplo, o professor de história não aprendeu como ensinar esse conteúdo aos alunos do ensino fundamental 2, que vai do 6º ao 9º anos (chamado anteriormente de 5ª a 8ª série) ou o responsável por matemática não aprendeu métodos e técnicas para passar o conteúdo da sua disciplina.

A informação é da edição 2013 da Talis (Pesquisa Internacional sobre Ensino e Aprendizagem) coordenada mundialmente pela OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). O levantamento foi divulgado na manhã desta quarta (25).

Entre os 33 países ou territórios que participaram dessa parte da pesquisa, a média é de 30%.

No Brasil, o índice pode representar um quadro mais problemático, uma vez que o currículo é fragmentado e temos professores especialistas -- ou seja, um mesmo professor pode estar responsável por diversas matérias. Em muitos países, como o Canadá, os professores são generalistas e dão mais de uma disciplina.

 "O professor no Brasil está sozinho, ele não tem apoio para nada, se compararmos sua situação com a dos seus colegas na OCDE [Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico]", afirma a pesquisadora brasileira Gabriela Moriconi.

"Ele não tem preparação adequada durante a faculdade [50% não tem didática para tudo o que ensina], não sabe lidar com os problemas práticos da sala de aula [40% diz não ter treinamento para a prática] e não tem apoio [nos países ricos, há aconselhamento profissional e psicológico para os alunos, por exemplo]", completa.

Sem prática de sala de aula

Quatro em cada dez professores brasileiros não tiveram formação para a prática de sala de aula para todas as matérias que ensinam durante a faculdade. Isso significa que eles não aprenderam a lidar com problemas de indisciplina ou como trabalhar com adolescentes, por exemplo.

Para se ter uma ideia da situação, a proporção é de três a cada dez profissionais na média dos países que participaram do levantamento.

Segundo o relatório do extenso levantamento realizado em 34 países, "os profissionais cuja formação inicial inclui conteúdo [a matéria a ser ensinada], didática e elementos práticos específicos para as disciplinas que lecionam reportam que se sentem melhor preparados para seu trabalho que os colegas sem esse tipo de treinamento". Por isso, há uma recomendação para que os governos cuidem da formação inicial do professores.

Afinal, se o mundo atual exige que a educação seja um processo contínuo, os professores que vão preparar esses alunos precisam também ser aprendizes e se desenvolver constantemente na carreira, sugere o relatório. Aos governos cabe promover o acesso a essa formação contínua -- mas, advertem os especialistas da OCDE, não basta oferecer treinamentos e cursos: docentes reportam taxas mais altas de participação nos países em que também existem apoio financeiro e suporte não monetário.

O que é a Talis

Talis é a sigla para Pesquisa Internacional sobre Ensino e Aprendizagem (Teaching and Learning International Survey em inglês), coordenada pela OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). No Brasil, a coordenação da pesquisa fica por conta do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira).

A edição de 2013 é a segunda desde a criação do estudo, em 2008. Seu objetivo é levantar as condições de trabalho dos professores e o ambiente de aprendizagem nas escolas para amparar decisões de políticas públicas no setor.

Participaram desta edição 34 países e territórios (24 da OCDE e outros 10 parceiros, como o Brasil). Cerca de 106 mil professores responderam à pesquisa. No Brasil, foram questionados 14.291 professores do fundamental 2 e 1057 diretores de 1070 escolas.