Criatividade torna a matemática mais interessante, diz Artur Ávila
Recém-chegado ao Brasil, o ganhador do maior prêmio da matemática, a medalha Fields, Artur Ávila, conta que o gosto pelas operações surgiu cedo em sua vida acadêmica. Como tantos jovens no país, ele participou da OBM (Olimpíada Brasileira de Matemática), voltada para alunos de escolas públicas e particulares, e foi a prova que o ajudou a ver os números de maneira diferente da trabalhada em sala de aula.
Para ele, a matemática é sinônimo de criatividade. “Se fosse algo mecânico poderia ser feito facilmente, não precisaria de pessoas. Teriam computadores que a aplicariam e pronto.”
A quem deseja seguir carreira na área, Ávila diz que os caminhos são muitos. “Alguns trabalham com muitos cálculos, outros com poucos, não precisa ter as características que eu tenho ou que outro tenha. Não precisa ser rápido [nos cálculos], não precisa nem ser bom de olimpíada. Cada um tem que tentar procurar o seu caminho”, destaca.
Leia abaixo os principais trechos da entrevista concedida à Agência Brasil:
Agência Brasil: Qual foi o papel das olimpíadas na sua formação?
Artur Ávila: As olimpíadas foram algo que tiveram uma importância muito grande na minha trajetória particular. Serviram para focalizar e motivar ainda mais na matemática. As olimpíadas apresentam a matemática de uma outra maneira, apresentam problemas mais interessantes dos que são apresentados no currículo escolar. [A escola] trabalha mais fórmulas fechadas para serem aplicadas e o estudante tem que memorizar e aplicar de maneira mecânica. Isso não tem nada a ver como a matemática que é utilizada e feita em alto nível.
ABr: Qual a relação da matemática com a criatividade?
Ávila: A matemática é criatividade, se fosse mecânico poderia ser feito facilmente, não precisaria de pessoas. Teriam computadores que a aplicariam e pronto. A matemática tem que buscar o que não é mecânico, tentar descobrir algo além, que permita levar à solução dos problemas e vá além. O fazer matemática no nível de pesquisa é baseado em criatividade.
ABr: Em relação à pesquisa em matemática, na sua opinião, como é o incentivo no Brasil?
Ávila; A pesquisa em matemática se desenvolveu no país. O destaque na ciência brasileira é a matemática. Isso porque basicamente precisa de recursos humanos, não precisa de laboratórios caros. A matemática aqui é do mais alto nível, isso se percebe em convenções, em publicações, desde antes desse prêmio [Medalha Fields]. Isso foi alcançado realmente por décadas. O Impa está nesse nível há bastante tempo. O instituto, no entanto, focalizou e não representa toda a amplitude de matemática, todas as áreas. Tem áreas sendo cobertas no mais alto nível e outras não.
ABr: O que você entende por matemática?
Ávila: É muito variada, entendo uma parte de matemática, mas têm partes obscuras para mim. De maneira geral, existe a matemática pura e a aplicada. Têm pessoas que trabalham, como eu, sem motivação de aplicações, pelo próprio interesse na beleza dos objetos. Uma característica da matemática é essa existência de pessoas com motivações diferentes.
ABr: O que você diria para aqueles que ficaram motivados com a sua conquista e querem também seguir uma carreira semelhante?
Ávila: Aqueles que querem seguir é porque tem interesse. É preciso primeiro tentar identificar esse interesse e saber que não existe modelo, seguir passos não é adequado. Têm [matemáticos] com características diferentes. Eu penso de uma maneira e outros pensam de outra maneira, cada um a seu jeito. Alguns trabalham com muitos cálculos, outros com poucos, não precisa ter as características que eu tenho ou que outro tenha. Não precisa ser rápido [nos cálculos], não precisa nem ser bom de olimpíada. A olimpíada pode revelar talentos, mas tem gente que tem muita capacidade de fazer matemática e que encontra respostas importantes e que não necessariamente tem essas características. Cada um tem que tentar procurar o seu caminho.
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