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Receita caseira

Lucila Cano

13/02/2013 13h51Atualizada em 13/02/2013 13h51

As crianças do século 21 ainda ficam maravilhadas quando descobrem o “milagre da transformação”. Um grão de feijão envolto em um chumaço de algodão molhado, e dentro de um pequeno pote exposto à luz, logo produz um pé de feijão. Assim também brota a muda do abacateiro: do caroço da fruta meio mergulhado em um recipiente com água. Na terra, então, as surpresas se sucedem com cascas de batata, caroços de laranja e de tangerina, um pequeno dente de alho.

Mais sensíveis aos mistérios da Natureza, como todo adulto foi um dia, as crianças são os alunos perfeitos para a educação ambiental que almeja formar cidadãos conscientes e responsáveis para o futuro.

Exemplos

Assim como as crianças fazem na escola, cada vez mais chefs de restaurantes sofisticados dão o exemplo e cultivam suas próprias hortaliças. Nos programas dedicados à culinária, a receita se repete. Tem sempre um vasinho à mão, na cozinha televisiva, com manjericão, hortelã, alecrim. É pegar um raminho da erva fresca e o prato do dia ganha um toque especial!

Nas datas alusivas ao meio ambiente, muitas empresas distribuem sementes e mudas em locais públicos e voluntários se armam de enxada e rastelo para fazer hortas em instituições assistenciais.

No ano passado, um programa do Projeto Rio Cidade Sustentável, do CEBDS (Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável), em parceria com o governo do Estado e a prefeitura do Rio, levou à população das comunidades de Chapéu Mangueira e Babilônia o conceito de agricultura orgânica urbana, com a criação da “horta na laje”.

O propósito de iniciativas como essas é nobre e vem conquistando adeptos e resultados. No entanto, o caminho para reduzir os impactos ambientais causados pela alimentação é longo e, muitas vezes, parece uma utopia.

Os defensores mais radicais do meio ambiente condenam o consumo de alimentos processados, porque a fabricação utiliza muita energia e gera muito lixo. O pós-consumo não deixa por menos, com restos de comida em embalagens que fazem o percurso do freezer para o micro-ondas; dele para a mesa; da mesa para o lixo.

Neste país de maioria urbana, quem se habilita a trocar a praticidade da comida pronta por uma refeição caseira, depois de um dia de trabalho fora de casa e do tempo perdido na fila do ônibus e no congestionamento?

Outro grande empecilho é o hábito adquirido. Substituir lanches, salgadinhos e pizzas por saladas, legumes e frutas não parece solução simples, nem satisfatória para a fome mal-acostumada.

Há, ainda, mais uma questão incômoda: lavar e preparar verduras, legumes e frutas toma tempo e consome muita água.

 

Biodiversidade à mesa

 

O Ministério do Meio Ambiente divulgou informações sobre a primeira reunião do Comitê Nacional de Coordenação do Projeto Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade para a Melhoria da Nutrição e do Bem-Estar Humano, realizada em 8 de fevereiro.

O nome é grande, assim como são grandes os desafios do projeto que tenciona trazer para a mesa do brasileiro produtos originários da nossa biodiversidade. Segundo declaração de Roberto Cavalcanti, secretário de Biodiversidade e Florestas do ministério, “90% da flora nativa do país não fazem parte da alimentação dos brasileiros”.

Representantes de vários ministérios integram o comitê, no sentido de desenvolver atividades em âmbito nacional e em parceria com programas federais, como, por exemplo, o de aquisição de alimentos e o de alimentação escolar.

A iniciativa não é exclusividade nossa. Coordenada pelo PNUMA, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, e pela FAO, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, ela também deve ocorrer no Quênia, no Sri-Lanka e na Turquia.
Esperamos que essa receita desperte a vontade de experimentar do brasileiro. Já será um bom começo para uma campanha de mudança de hábitos.


* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.