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Cuidado parental - Como as diferentes espécies cuidam de seus filhotes

Alice Dantas Brites, Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação

Todo comportamento, materno ou paterno, de cuidado com a prole, até que ela alcance a independência física, é chamado de cuidado parental. O cuidado parental aumenta a probabilidade de sobrevivência dos filhotes e, conseqüentemente, aumenta o sucesso reprodutivo da espécie.

O cuidado parental pode ter início antes mesmo do nascimento da prole. É o caso do preparo de ninhos, tocas e outros abrigos para receber os filhotes ou ovos.

Muitos pássaros incubam seus ovos sentando sobre eles ou mantendo-os entre os pés, para protegê-los do frio e garantir que os embriões permaneçam aquecidos. Outras aves, como algumas espécies de patos, cujo embrião é sensível a altas temperaturas, protegem os ovos do calor cobrindo os ninhos com penas, folhas secas ou gravetos.

 

Tipos de acasalamento

Após o nascimento, alguns dos cuidados incluem alimentação, abrigo e proteção contra predadores. Esse tipo de comportamento pode ser realizado apenas pela fêmea, apenas pelo macho, ou por ambos. Acredita-se que as diferenças entre as formas de cuidados parentais possam estar relacionadas ao sistema de acasalamento de cada espécie. Os sistemas de acasalamento são divididos em quatro tipos principais:

  • Monogamia: o macho e a fêmea formam um casal unido, sendo que a união pode ser por toda a vida ou apenas durante o período reprodutivo.
  • Poliginia: o macho se acasala com diversas fêmeas, enquanto as fêmeas cruzam com apenas um macho.
  • Poliandria: a fêmea pode cruzar com diversos machos, enquanto os machos se associam a uma única fêmea.
  • Poligamia: tanto o macho como a fêmea se acasalam diversas vezes e com diferentes parceiros.

 

Cuidando da prole

Na monogamia, geralmente, tanto o pai como a mãe cuidam da prole (cuidado biparental); este sistema é muito comum entre as aves. Na poliginia, o cuidado parental costuma ser realizado pela fêmea; este é o caso da maioria das espécies de mamíferos.

No sistema de poliandria é comum que apenas os machos apresentem comportamentos de cuidados com os descendentes; este é o caso dos cavalos-marinhos e dos pantopodas (pequenos artrópodes marinhos também conhecidos como aranhas-do-mar).

Na poligamia, qualquer um dos sexos pode realizar o cuidado parental, sendo também comum a ausência desse tipo de comportamento. Este é o caso da maioria das espécies de peixes.

 

Saguis

É bom lembrar que as associações entre sistema de acasalamento e forma de cuidado com a prole não são regras fixas, e que, na natureza, sempre existem exceções. Um exemplo são os saguis, que, embora sejam mamíferos, apresentam cuidado biparental. Entre estes pequenos primatas, a fêmea alimenta os filhotes enquanto cabe ao macho carregá-los, transportando-os pelas árvores.

 

Cavalos-marinhos

Os cavalos-marinhos são um exemplo de espécie de peixe monogâmica e com cuidado parental por parte dos machos. Nestes animais, os casais permanecem unidos ao longo de toda a estação reprodutiva. Durante o acasalamento, a fêmea introduz seu órgão ovopositor no interior de uma pequena bolsa, situada no abdome do macho, e deposita seus óvulos. Dentro da bolsa são liberados os espermatozoides e a fecundação ocorre.

É dito popularmente que nessa espécie são os machos que engravidam! Essa bolsa do macho é similar ao útero de uma fêmea de mamífero e contém um fluido que fornece nutrientes e oxigênio aos ovos. No decorrer da gestação, a composição do líquido vai se tornando cada vez mais parecida com a composição da água do mar e, assim, evita a possibilidade de um choque osmótico durante o nascimento da prole. O período de maturação dos ovos é de duas a quatro semanas. Em seguida, o macho "dá a luz" a dezenas de filhotes. Após o nascimento não há mais nenhum tipo de cuidado parental.

Entre artrópodes geralmente não se observa cuidado parental; porém, entre os pantopodas (aranhas-do-mar) os machos carregam os ovos fertilizados numa estrutura localizada sob suas pernas, transportando-os e protegendo-os até a sua eclosão.

 

Sobrevivência e reprodução

Algumas hipóteses já foram levantadas como explicação a respeito das diferentes estratégias de cuidados com a prole. Uma explicação para a monogamia e o cuidado biparental das aves é a capacidade de alimentar em dobro os filhotes no ninho, aumentando sua chance de sobrevivência.

A predominância nos mamíferos do cuidado da prole apenas por parte da mãe talvez possa ser explicada pelo longo período de gestação dos filhotes no corpo da mãe e pela lactação após o nascimento. Dessa forma, os cuidados que o macho pode fornecer são escassos, e este acaba por abandonar a parceira em busca de novas oportunidades de acasalamento.

Teoricamente, quanto maior o período durante o qual os pais cuidam de seus filhotes, maior a chance destes sobreviverem. Porém, quanto maior o tempo de cuidado parental, menor o período no qual os pais se veem livres para procurar novos parceiros e gerar novos descendentes. Assim, acredita-se que, ao longo da evolução, tenham sido favorecidos aqueles comportamentos que apresentam um balanço ideal entre o sucesso de sobrevivência da prole e o sucesso reprodutivo dos pais, maximizando a dispersão da espécie.