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Guerra do Peloponeso - Esparta contra-ataca - Do expansionismo ateniense ao Tratado de Nícias

Rodrigo Gurgel

O Peloponeso é uma península da Grécia, separada do continente pelo istmo de Corinto (atualmente, a região é cortada pelo canal de Corinto). O nome Peloponeso provém do herói mitológico Pélope, que, supostamente, teria conquistado a região.

Enquanto Atenas controlava a Confederação Délia (ou Liga de Delos), sua rival, a cidade de Esparta, comandava a Liga do Peloponeso, mantendo sob sua hegemonia várias cidades da península e da Grécia Central. Entre elas, Tebas, Corinto e Mégara.

Atenas tendia a dominar cada vez mais o comércio no mar Egeu, uma vez que a superioridade naval lhe assegurava a difusão dos artigos de seu artesanato e a afluência de mercadorias de todas as partes. Além disso, garantir o abastecimento de cereais era um fator essencial para o equilíbrio interno dessa cidade que cada vez mais se especializava na produção de manufaturas, no comércio e na agricultura intensiva da oliveira.

Desse modo, o controle das regiões produtoras de cereais esteve sempre em primeiro plano na condução da política expansionista ateniense. Na Propôntida (mar de Mármara) e no mar Negro tal controle foi assegurado com o estabelecimento de clerúquias (colônias atenienses) que constituíam um prolongamento dos postos das ilhas de Lemnos e Imbro, e também da península Trácia, pontos-chave da rota setentrional do trigo. A fundação de Anfípolis (434 a.C.), na costa Trácia, abriu caminho à exploração das minas e florestas da Trácia interior.

A expansão para o Ocidente, no entanto, estava bloqueada pelas estreitas relações que as cidades da Sicília e da Magna Grécia mantinham com suas metrópoles, membros da Liga do Peloponeso e, portanto, aliadas de Esparta.

Assim, no momento em que se tornaram evidentes as intenções dos atenienses de penetrar no mar Jônio, essas metrópoles deram início ao conjunto de conflitos denominado Guerra do Peloponeso.

Começa a guerra

Levada por sua expansão comercial, Atenas passou a incomodar Corinto, cuja economia dependia exclusivamente do comércio. Corcira (atual Corfu), colônia de Corinto, pretendia celebrar uma aliança com Atenas, o que permitiria à Liga de Delos, graças à posição estratégica de Corcira, assumir o controle do comércio com o Ocidente.

Quase na mesma época, Atenas interferiu também nos assuntos de outra colônia de Corinto: Potideia. Corinto advertiu Atenas para que parasse. Péricles, percebendo que a guerra era iminente, respondeu com a imposição de um embargo total ao comércio com Mégara. Na verdade, Péricles agiu assim por considerar Mégara, localizada no estratégico istmo de Corinto, uma séria ameaça ao império ateniense. Pressionada por Corinto, Esparta, então, declarou guerra a Atenas.

Péricles tinha duas vantagens: a esquadra e o tesouro da Liga de Delos, mas seu exército era inferior ao de Esparta. Em vista disso, deixou o inimigo invadir a Ática, calculando que a cidade de Atenas poderia resistir por trás de suas fortificações e que Esparta acabaria por esgotar as próprias forças. Enquanto isso, a esquadra abastecia Atenas e infligia danos onde fosse possível.

O plano, contudo, tornou-se impopular, principalmente por duas razões. Primeiro, Atenas ficou em segurança, mas toda a região circunvizinha era anualmente devastada pelos invasores espartanos, que destruíam as plantações, principalmente as oliveiras, uma das principais fontes de renda de várias famílias atenienses.

Em segundo lugar, toda a população rural foi transferida para Atenas, o que provocou uma superlotação para a qual a cidade não estava preparada. Em pouco tempo as consequências surgiram: uma grave epidemia, possivelmente tifo, atingiu a cidade.

Destituído pelos atenienses - e logo depois reempossado -, Péricles acabou sendo uma das vítimas fatais da epidemia. A partir daí, duas facções passaram a lutar pelo poder: a de Nícias, que defendia o fim da guerra, e a de Cléon, que desejava a continuação da luta.

A trégua

Nos dez anos (431-421 a.C.) de duração do conflito - chamado de Primeira Fase da Guerra do Peloponeso ou Guerra Arquidâmia (por causa de Arquidâmio, o rei de Esparta) -, a disputa permaneceu indecisa, ora pendendo para um lado, ora para outro. Se os espartanos foram derrotados em Pilos (425 a.C.) e 420 hoplitas (soldados de infantaria) espartanos foram mortos ou capturados em Esfactéria, Atenas perdeu duas das grandes batalhas: a de Délios, na Beócia, e a de Anfípolis, na Trácia. Cléon, aliás, foi morto nessa batalha, o mesmo ocorrendo com o principal general espartano, Brásidas, de incomparáveis bravura e sabedoria, narradas por Tucídides em seu Guerra do Peloponeso.

Nícias - um estadista honesto, porém medíocre - sucedeu Cléon e decidiu assinar o tratado de paz com Esparta. Segundo o Tratado de Nícias, como o documento é chamado, Esparta e Atenas libertariam seus prisioneiros e também recuperariam as cidades perdidas, estabelecendo um período de trégua com a duração de 50 anos. Essa trégua, contudo, não seria respeitada.