Modernismo - Características da linguagem
Quem nunca ouviu os versos "Oh! Que saudades que tenho/ da aurora da minha vida,/ da minha infância querida/ que os anos não trazem mais!/ ? Pode-se dizer que pertencem a uma espécie de inventário popular. Chegam a ser mais conhecidos que seu próprio autor, o romântico Casimiro de Abreu.
Bem verdade é que o emprego da expressão "aurora da minha vida" como sinônimo de "infância" hoje assume certo tom jocoso. E o motivo disso é o desgaste que lhe foi imposto pelo reiterado uso. Embora seja uma bela imagem, tornou-se o que chamamos de "chavão" ou "clichê".
A simplicidade e a musicalidade das redondilhas maiores, ao lado da escolha temática, certamente contribuíram para a permanência desses versos em nossa memória coletiva. O outro lado dessa moeda, entretanto, é a falta de impacto que nos provocam hoje, num tempo em que a originalidade é um valor em si.
Um dos caminhos trilhados pela literatura modernista foi o da releitura, muitas vezes paródica, de textos consagrados. Oswald de Andrade, um dos ícones da Semana de 22, escreveu o poema "Meus sete anos", texto que dialoga com o de Casimiro. Diz ele: "Papai vinha de tarde / Da faina de labutar/ Eu esperava na calçada/ Papai era gerente/ Do Banco Popular / Eu aprendia com ele/ Os nomes dos negócios/ Juros hipotecas/ Prazo amortização/ Papai era gerente/ Do Banco Popular/ Mas descontava cheques/ Do guichê do coração". A infância surge dessacralizada -sem a aura de idealização que lhe emprestava Casimiro-, mas, nem por isso, menos marcante. Em Oswald, predomina o ambiente urbano sobre a paisagem bucólica de Casimiro.
Nas escolhas de cada poeta, percebem-se distinções de época: entre os modernistas, prevalece o cenário urbano (associado ao desenvolvimento tecnológico e científico), bem como o tom prosaico da linguagem, que acusa certa consciência crítica (em substituição ao mero devaneio poético). O lirismo instala-se na estrutura do texto, ou seja, independe de frases de efeito.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.