Em greve, USP tem barricadas e clima de normalidade
Depois que um grupo de alunos ocupou a reitoria da USP (Universidade de São Paulo) no dia 1º de outubro, várias faculdades decidiram aderir à greve geral em apoio às reivindicações. Há, porém, os que mantêm o cronograma de provas e aulas sem alteração, como economia, administração e as engenharias.
De outro lado, estudantes de letras, arquitetura, física, educação física, jornalismo, relações públicas, história, geografia e ciências sociais, entre outros, estão com as aulas suspensas. Nesses cursos, até barricadas com cadeiras e mesas foram montadas para impedir que professores e alunos contrários ao movimento tivessem aulas.
No curso de letras, Telma CCori, 29, estava quase escondida em meio ao “cadeiraço” que tomou conta dos corredores do prédio. Para aproveitar o tempo sem aulas, ela usa a estrutura que resta para escrever o seu projeto para a pós-graduação. “Eu acho que tem o momento de ter aula e tem o momento de fazer as reivindicações”, diz a estudante do 8º semestre, que é favorável à greve e às barricadas.
Na pauta do movimento estudantil estão reivindicações como eleições diretas para a reitoria, dissolução do conselho universitário, cotas sociais e raciais na USP, destinação de dois blocos para a moradia estudantil e aumento das vagas em creches.
“Apesar de muita gente achar que a ocupação foi agressiva, é uma maneira das reivindicações se tornarem visíveis”, diz o estudante de letras Douglas Batalha, 25, que está sem aulas desde a semana passada. “O movimento cresceu e estamos discutindo pautas próprias, como melhorias no nosso curso”, afirma.
Aluna do doutorado em história, Ana Luiza Andrade, 26, diz que, apesar da greve na FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas), suas aulas não foram suspensas. “Eu não sei se sou a favor das eleições diretas para a reitoria. Estudei na UDESC (Universidade do Estado de Santa Catarina) e lá a eleição acontece no mesmo molde da USP”, diz a estudante que sai de Florianópolis toda semana para as aulas em São Paulo. “Eu entendo que os alunos também fazem a universidade, mas ficam quatro, cinco anos e vão embora”, diz, sobre a proposta de voto paritário entre estudantes, funcionários e professores.
A mesma rotina
Em outros prédios da universidade, nada de barricadas nem de sinais da greve geral. Se não fossem os cartazes e a pequena movimentação causada pelo plebiscito, alguns alunos da Escola Politécnica e da FEA (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade) poderiam nem saber que um grupo de alunos está acampado na reitoria há quase duas semanas.
“Eu sou favorável à greve geral, mas contra a greve na Poli”, diz o aluno de engenharia elétrica Henrique Demétrio, 20. Também contrária ao movimento é a estudante do último ano de engenharia civil Mariana Piazza, 27. “Eu não concordo com a principal reivindicação, que é a eleição direta. Acho que um aluno de 17 ou 18 anos não tem maturidade para escolher o reitor”, afirma.
Já Denis Bergamo, 23, acredita que a demandas dos alunos é justa. “Tem que ter mais democracia na USP. Acho que o movimento é legítimo, porque falta diálogo”, afirma o estudante que votou a favor da greve na Escola Politécnica. O resultado do plebiscito só deve ser divulgado no fim desta semana.
Há ainda os que não sabem muito bem quais são as reivindicações. “Se estão se arriscando [na ocupação], devem estar comprometidos com a causa”, afirma o estudante de administração Daniel Castro, 26. Na FEA, haverá uma paralisação de 24 horas na próxima quinta-feira (17).
Mobilização
Na tarde desta terça-feira (15), estudantes da USP, entre outros movimentos, farão um grande ato pela educação pública de qualidade. O protesto começa no Largo da Batata, em Pinheiros, zona oeste de SP, por volta das 17h. O grupo promete caminhar até o Palácio dos Bandeirantes, no Morumbi, também na zona oeste, para tentar se encontrar com o governador Geraldo Alckmin.
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