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Pesquisa de mestrado de um ano na Gama Filho terá de recomeçar do zero

"Não dava mesmo para continuar frequentando a universidade. Era perigoso", afirma a estudante - Reprodução/Facebook
"Não dava mesmo para continuar frequentando a universidade. Era perigoso", afirma a estudante Imagem: Reprodução/Facebook

Bruna Souza Cruz

Do UOL, em São Paulo

13/02/2014 06h00

Praticamente um ano de esforços da estudante de mestrado Thais Melo, 23, foram perdidos diante das greves ocorridas em 2013 na Universidade Gama Filho e o posterior descredenciamento da instituição pelo MEC (Ministério da Educação).

A profissional de educação física, formada pela mesma universidade, iniciou o mestrado em março de 2013 e, em meados de agosto, teve que suspender a pesquisa em decorrência da greve dos professores. A estudante defenderia sua tese no final de 2014. 

“Perdi todos os meus dados. Eu estava super adiantada, mas não poderei reutilizá-los. Terei que começar tudo praticamente do zero. Perdi tempo, perdi o ano todo”, relatou Thais. “Depois disso, ficamos sem aula. Com o descredenciamento em janeiro, aí parou tudo mesmo”. 

Durante a pesquisa, a aluna deveria acompanhar um grupo de idosos por três meses consecutivos e analisar os benefícios da prática de esportes durante o período. No entanto, apenas dois meses foram analisados. Os participantes utilizavam as dependências do campus Piedade para fazer as atividades físicas e não puderam mais comparecer depois do fechamento do local.

"Continuei fazendo alguns trabalhos paralelos com a minha orientadora, que é professora na UFRJ [Universidade Federal do Rio de Janeiro]. Não dava mesmo para continuar frequentando a universidade. Era perigoso, não tinha segurança. Não tinha nem funcionário para limpar os banheiros", explicou Thais.

RELATOS

Suportaríamos essa quarta greve não fosse o fechamento. Pelo menos uns 50 funcionários acabaram sendo demitidos

Regina Moreira, comerciante, proprietária de uma cafeteria que funcionava dentro do campus da UGF

Estou vivendo dia após dia sem saber do amanhã. Hoje eu posso até conseguir o que comer. Daqui a cinco minutos, não sei

Elizabeth Alves da Silva, funcionária e estudante da UniverCidade

Largou o emprego

Thais é bolsista do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).  Ela recebe mensalmente R$ 1.500 e não paga a mensalidade do curso em ciências do exercício e esporte.

Ao decidir fazer o mestrado, a estudante deixou o emprego como professora de educação física em uma academia para poder concorrer à bolsa – um dos requisitos é não ter vínculo empregatício.

“Fui classificada e consegui uma das sete bolsas que a Gama Filho possuía. Mas agora estou com medo de perder. Como vou fazer se eu parar de receber? Escolhi o curso pela qualidade dele. Já tinha estudado lá e não tenho nada a reclamar sobre o ensino. Minha graduação foi excelente”, afirmou.

Segundo a assessoria de imprensa do CNPq, ainda não há decisão sobre a suspensão das bolsas de estudo dos pesquisadores da universidade. As negociações estão em andamento.

Transferência para a Uerj

A professora Nádia Lima da Silva do curso de educação física da Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) informou que está à frente das negociações para tentar abrir o curso de pós-graduação e em seguida fazer a transferência automática dos mestrandos e doutorandos da Gama Filho. “Tivemos uma reunião recentemente com os representantes da Capes [Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior] e acredito que em breve poderemos resolver o problema. As negociações estão em andamento para isso acontecer”, relatou.

“No início desta semana, aconteceram algumas reuniões com professores, pró-reitores e coordenadores de pós-graduação, nas quais houve avanços significativos na construção de alternativas para os alunos dos quatro programas de pós-graduação da UGF”, disse. 

A Capes informou que está fazendo reuniões com “várias” instituições de ensino superior do Rio sobre a situação da Gama Filho.