"EACH Ostentação": confira rap sobre problemas ambientais da USP Leste

No último ano do curso de gestão ambiental, o estudante Davidson Luiz da Cruz, de 23 anos, resolveu compor um rap sobre os problemas que o campus da USP Leste enfrenta por anos.

"Estava tentando compor uma letra para o Coletivo Favela Sound System, do qual faço parte, quando comecei a me lembrar de tudo que passei por lá, e assim surgiu o som", conta.

Interditada desde janeiro por causa da presença de gás metano e do despejo de terra contaminada com componentes tóxicos, a EACH-USP (Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo), também conhecida como USP Leste, foi construída sobre uma área de preservação ambiental.

Davidson lembra que na época que prestou vestibular já sabia da situação do local por ter parentes e amigos que residiam na região. Já como estudante da USP, teve aulas sobre a questão diversas vezes.

"Sabíamos e vínhamos denunciando e cobrando um posicionamento muito antes dos problemas ambientais ganharem a devida e merecida atenção pela mídia e órgãos competentes".

Neste ano, as aulas que deveriam começar na última segunda-feira (17) só serão retomadas no dia 10 de março. Como não há previsão de liberação do campus pela Justiça, a USP ainda não sabe o local exato em que serão realizadas as primeiras aulas.

"Sim, o início das aulas é uma grande preocupação, mas mais que o início seria importante finalizar o último semestre de 2013, já que  algumas matérias ainda ficaram pendentes", diz. No ano passado, uma greve interrompeu as aulas na USP Leste por 50 dias.

"Estou no último ano da graduação, e a interdição significa a possibilidade de atrasos ou mudanças bruscas no modo de viver dos estudantes. Realocar pessoas que já se consolidaram e têm toda uma estrutura e identidade com o local é inapropriado e vai até contra a proposta pedagógica da EACH", afirma.

Compositor

O estudante tem outras composições, além do rap, criadas para as versões instrumentais de reggae que, segundo ele, geralmente são encontradas no lado B do vinil -- bastante utilizado nas apresentações do coletivo.

Além de estudante e skatista, Davidson é arte-educador e gosta de trabalhar com projetos sociais que possam envolver de forma dinâmica e interativa a educação ambiental.

O rapper, apesar das condições precárias, estudou em escola particular por empenho dos pais. "Eles nunca mediram esforços para garantir que tivéssemos acesso à educação de base de qualidade, visto as atuais condições de ensino e descaso que se tem com as escolas públicas"

Confira a seguir o vídeo e a letra do rap composto por Davidson Luiz  da Cruz:

Seja bem-vindo à EACH USP
EACH ostentação. Só que aqui a gente ostenta na contaminação
Na terra de ninguém entra e sai caminhão
Alguém ganha dinheiro, mas perde a noção

Não dá mais pra admitir mais tanta enrolação
Tá todo mundo junto na exposição
Risco de saúde e risco de explosão
Senhor diretor, "cê" só pode tá de tiração!

Errado desde o início
E aí tá o indício,
Além do desperdício
Faltou o compromisso
Ético e moral
Humano, essencial
Ou será que o que faltou
Foi esforço e potencial?

Claro que fica difícil de entender
Se ninguém sabe de nada, e nem quer saber
Então paga pra ver, até aonde vai chegar
Eu paguei e "tô" vendo a justiça interditar

Não dá nem pra acreditar, se eu não tivesse lá
Para pode ver e confirmar, perder meu segundo lar
Parceiro, o que "cê" tá fazendo por dinheiro?
Matando, e nem tá vendo que "cê" tá no meio!

Recursos do Estado, do contribuinte
Cai na sua conta todo dia 20
Então o que é que custa cumprir sua função
Dar um bom exemplo pela educação?

É tanta podridão e falta de vontade
Que chego a duvidar que isso possa ser verdade
Mas ponho o pé no chão, olho a realidade
Os "cara tira" onda no país da impunidade!

Quem estuda quer estudar, quem trabalha trabalhar
Mas não dá pra concentrar, quando se está a coçar
Piolho de pomba, aí chega, já é demais
Além de nos matar aos poucos, nos querem tirar a paz

Sem mais. Dinheiro, 244 mil, sumiu!
E de repente, uma ''arte'' ali surgiu
Arte com valor de diamante
Pra combinar com quadros, ficar mais elegante

Afinal a constante é dita a todo instante
Mas daqui a elegância passou bem distante
Elegantemente, entra em decadência
A mais bela e nobre das experiências

Às custas da incapacidade e displicência
Dando um belo show de incompetência
Falta e faltou um pouco mais de sapiência
Enquanto isso a gente esgota a paciência

Aguardando ansioso o que vem na decorrência
A consequência, o desfecho dessa imprudência
Sorte ou acaso, ou só mais um caso
Vamos ver se muda algo ou se cai no descaso

Descalço, não, não, não, nem pensar
A terra, não no almoço, nem no jantar!
A água, é melhor você evitar
Cuidado onde você pisa, pode ir tudo pelo ar!